publicado dia 25/08/2023
Seminário do MEC em Belém (PA) encerra com debate sobre temas contemporâneos nos territórios
Reportagem: Ingrid Matuoka
publicado dia 25/08/2023
Reportagem: Ingrid Matuoka
🗒️ Resumo: Nesta quinta-feira (24/08) começou o último dia da etapa Norte do ciclo de seminários “Programa Escola em Tempo Integral: princípios para a Política de Educação Integral em tempo integral”, que serão realizados em todas as regiões brasileiras.
Organizados pelo Ministério da Educação (MEC), os encontros desta etapa acontecem em Belém (PA) e contam com transmissão ao vivo pelo canal do YouTube da pasta. Os debates anteriores foram centrados na intersetorialidade, Educação Infantil, Ensino Fundamental e Ensino Médio.
Para encerrar a etapa Norte do ciclo de seminários “Programa Escola em Tempo Integral: princípios para a Política de Educação Integral em tempo integral”, especialistas e educadoras(es) dialogaram sobre “Os temas contemporâneos transversais em diálogo com a Educação Integral nos territórios”. O evento aconteceu no final da tarde desta quinta-feira (24/08) em Belém (PA).
Leia + Começa a etapa Norte de seminários do Programa Escola em Tempo Integral
Das questões atuais e urgentes, o racismo e a necropolítica se destacam. Em relação às populações quilombolas, foi só na Constituição de 1988 que sua trajetória na formação do Brasil foi reconhecida. Na Educação, diretrizes a respeito dos processos escolares quilombolas só foram criados em 2012.
“O Estado nos colocou na constante situação de vulnerabilidade e, a partir dessa condição histórica, reivindicamos uma Educação que tenha a possibilidade de criar trajetórias emancipatórias para nós. É somente a partir daí que podemos pensar em cidadania”, diz Maria Páscoa Sarmento, mulher negra quilombola e pesquisadora em Antropologia na Universidade Federal do Pará (UFPA).
A especialistas evidencia a falta de dados que permitam políticas mais qualificadas e voltadas à população quilombola. “No Pará existem 296 escolas quilombolas, de acordo com o Censo Escolar. Temos 26 mil estudantes matriculados no Ensino Fundamental, mas não sabemos quantos são no Ensino Médio porque o Estado não se preocupou em registrar”, aponta.
A realidade das escolas também preocupa. Faltam alimentos e, os que chegam, nem sempre são de qualidade, nutritivos e culturalmente adequados. Água potável e encanada, banheiros e transporte também não atendem ao mínimo necessário das condições para promover uma Educação de qualidade.
“O Estado tem permitido, ou garantido em alguns casos, que a gente morra. Somos as vidas matáveis ou as vítimas da necropolítica, porque quando o Estado deixa uma população nessas condições, ele mata sonhos, perspectivas, futuros. E quando não conseguem nos matar na alma, nos matam no corpo”, diz Maria, que pediu uma saudação a Bernadete Pacífico, líder quilombola assassinada na Bahia em 17 deste mês.
Na EMEIF Satélite, escola de tempo integral em Belém (PA), os estudantes participam do planejamento do trabalho pedagógicas. A partir de um diagnóstico cuidadoso e da escuta das infâncias e juventudes, seus interesses e projetos, o corpo docente constrói as propostas.
“É uma forma de trazer toda a diversidade deles para a escola”, afirma Michele Maria Lima de Souza, gestora da unidade.
A escola fica aberta das 7h30 às 17h30 e buscam conceber as crianças como pertencentes ao espaço educativo e a todos os adultos que ali estão, não de uma ou outra professora. Além disso, buscam formar as famílias para desfazer noções assistencialistas da escola.
“É um espaço educativo para desenvolver todas as habilidades das crianças”, explica Michele.
A questão do discurso de ódio, da desinformação estruturalmente planejada e os mecanismos de promoção à violência online e offline também estão no centro dos debates e demandam da escola promover a alfabetização midiática dos estudantes.
“Precisamos de um olhar transversal, não de mais uma coisa para ensinar, pensando no conjunto de habilidades que os alunos precisam para acessar, analisar, criar e participar de maneira crítica desse ambiente, fomentando leitores críticos e produtores desse conteúdo para uma prática crítica e criativa”, define Mariana Filizola, Coordenadora-Geral de Educação Midiática da Secretaria de Políticas Digitais e Secretaria de Comunicação Social.
Nesse sentido, não se trata de promover uma aula específica sobre o tema, mas de integrá-lo às demais áreas. A especialista cita, por exemplo, a análise de dados no contexto midiático nas aulas de Matemática e a análise do discurso das mídias que podem contribuir para o racismo. “Em breve vamos disponibilizar materiais e recursos para subsidiar esse trabalho”, conta Mariana.
Sônia Regina do Santos Teixeira, professora na UFPA que atua nos cursos de Pedagogia e Educação Física e no Programa de Pós-Graduação em Educação, pontua que hoje a formação docente é caracterizada, em sua maioria, por ser reduzida, a distância e em instituições privadas de ensino, fatores que podem comprometer a qualidade e a consistência dessa formação.
“Referências progressistas, como Paulo Freire, nos ajudam a olhar o aluno na sua inteireza. A Teoria Histórico-Cultural vai ligar o estudante à sua história e à cultura comum e às diferenciadas. Essa riqueza toda precisa estar na escola para poder ser acessada [pelos estudantes]”, explica.
Além de também defender formação científica para os professores, a educadora ressalta que sem condições dignas de trabalho e valorização docente efetiva, nenhuma política poderá ser implementada com êxito.
Assista ao evento na íntegra: