publicado dia 05/07/2019
A importância de debater saúde mental na escola
Reportagem: Ingrid Matuoka
publicado dia 05/07/2019
Reportagem: Ingrid Matuoka
Depressão e ansiedade, automutilação e suicídio. Apesar de pesadas, estas palavras chegaram ao vocabulário e ao cotidiano de crianças e jovens, e se fazem presentes nos vídeos que assistem na internet, em seus seriados, nas conversas e em seus silêncios.
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Tão parte da vida de crianças e adolescentes, as escolas não têm como ignorar esses fatos. O projeto Quero na Escola, que conecta as demandas dos estudantes por aprendizagens além do currículo obrigatório com voluntários que possam atendê-los, percebeu um aumento significativo na demanda por ações relacionadas a saúde mental na escola.
“Os estudantes começaram pedindo por atividades sobre psicologia e bullying, e logo isso foi virando pedidos sobre ansiedade, depressão, automutilação. E todo mundo com quem a gente conversa conhece alguém que sofre com essas questões”, diz Cinthia Rodrigues, idealizadora do projeto.
Dentre as principais causas deste cenário, a psicóloga Deise Ruiz aponta as diversas pressões geradas pelas redes socais e o fato de que, crianças e adolescentes, têm se relacionado menos pessoalmente. “Conversar no face a face, ouvir a risada, olhar no olho, reconhecer as emoções no rosto do outro, tudo isso faz muita diferença para a saúde mental”, explica.
E costuma ser na escola onde os principais sintomas ou mudanças de comportamento se manifestam, porque muitas vezes as crianças e jovens passam mais tempo com professores e a equipe escolar do que com a família. É comum também que a fonte de problemas esteja na própria casa dos estudantes, ou que as famílias não saibam bem como ajudar.
Assim, a escola precisa estar preparada para reconhecer sinais e fazer a abordagem e encaminhamento adequados. “Não tem como separar educação de saúde, porque não tem como separar um indivíduo. E a escola tem a chance de fazer uma intervenção precoce, que garante uma evolução mais positiva do caso”, afirma a especialista.
Não é tarefa fácil ajudar alguém quando não se está bem. E os professores brasileiros estão adoecendo. Cerca de 66% dos professores já precisaram se afastar do trabalho por questões de saúde. Destes, 87% acreditam que o problema é ocasionado ou intensificado pelo trabalho. Os dados são de uma pesquisa conduzida pela Associação Nova Escola em 2018.
“É uma luta bem árdua para os professores. Assim como os alunos, eles também precisam de acolhimento, se sentirem seguros e terem alguém para conversar”, recomenda Deise. Ela também lembra que as escolas, já tão atribuladas, também precisam de apoio da rede para conduzir o trabalho.
“Precisamos de uma política que garanta psicólogos nas escolas e redes de ensino, e que de fato trabalhem o assunto na escola”, afirma Cinthia.
Em linhas gerais, a escola pode realizar duas abordagens sobre o tema, de acordo com a necessidade. Pode ser o caso de conversar individualmente com um estudante, acionando a família e outras autoridades.
Paralelamente, a questão pode estar presente nas disciplinas, projetos, em debates, palestras e também em produções artísticas dos alunos. As informações sobre como e onde conseguir um atendimento psicológico na região devem ser disseminadas.
Deise explica que nesse processo dois fatores devem ser destacados: que o aluno se sinta acolhido e ouvido, e que sempre existam diferentes canais abertos para ele se expressar — seja por meio de peças de teatro, música, conversas individuais ou momentos de troca em roda.
“Às vezes um jovem passa meses criando coragem para pedir ajuda e, quando consegue falar, é menosprezado. O principal é ter muita atenção e empatia, e meios para os alunos se expressarem”, diz Deise.
Saiba mais
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