Aproximação das famílias e tempo integral reformularam escola do Paraná
Publicado dia 11/09/2015
Publicado dia 11/09/2015
Abrir a escola e convidar os pais para conhecer o cotidiano de seus filhos foi uma das soluções encontradas pelo Colégio Estadual Manoel Ribas para vencer a resistência ao processo de implementação da educação em tempo integral, iniciado em 2010, para os alunos dos anos finais do ensino fundamental.
O diretor da escola, Wilson João Alves, conta que a escola fica próxima a uma comunidade violenta e com alto nível de vulnerabilidade. A maioria dos pais dos alunos que estudam na escola vive como catador de papel. Em muitos casos, os filhos estudavam em um período e no outro auxiliavam os pais no trabalho.
Quando a escola passou a dar aulas em dois turnos, os alunos não podiam mais trabalhar com os pais e, por isso, houve certa resistência ao novo modelo. A escola resolveu, então, convidar os pais para conhecer a rotina de seus filhos.
“Eles podem ir à escola para comer com seus filhos e ver quem estão sendo bem alimentados; podem assistir a algumas aulas se quiserem. Também abrimos a escola em diversos sábados, com atividades para a comunidade. Aos poucos, o espaço escolar foi sendo valorizado por todos e hoje temos pouca resistência”, relata o diretor.
O currículo foi outra maneira de enfrentar essa resistência inicial. Ao contrário de muitas escolas, no Manoel Ribas as matérias da grade comum e da parte diversificada estão distribuídas entre o turno e o contra-turno.
Para Wilson, essa forma de organização evita que alunos vejam algumas aulas como “importantes” e outras como “menos necessárias”; separem-as entre aulas “divertidas” e “chatas”.
“Como espalhamos as matérias pelo turno e pelo contra-turno, tantos os pais quantos os alunos passam a compreender que todas elas são igualmente relevantes para o desenvolvimento integral”, afirma.
Outro elemento importante para a revitalização do colégio foram as diversas parcerias que foram estabelecidas com universidades, órgãos públicos e com Organizações Não Governamentais (ONGs) .
O diretor conta que através de uma parceria com a Pontifícia Universidade Católica do Paraná (PUC-PR), os professores têm acesso à formação cotidiana. “Sem formação não dá para melhorar a qualidade do ensino”, enfatiza.
Os estudantes da universidade também fazem atividades com os alunos da escola sobre diversos temas, desde Direitos Humanos até prevenção de doenças parasitárias a partir de práticas de higiene.
O colégio mantém uma parceria com o Centro de Referência de Assistência Social (CRAS) que atende às demandas que são sentidas pelos professores, a partir do diálogo com os adolescentes.
Outra medida importante foi revitalizar o espaço físico do colégio que, até 2010, estava deteriorado. As salas de aulas foram pintadas, alguns espaços foram reformados e foi construída até mesmo uma pista de skate para os estudantes.
O dinheiro para a construção da pista foi obtido pela escola em diálogo com os pais e principalmente com pequenos empresários do entorno do colégio, que levantaram os recursos necessários para concluir as obras.
Depois de construída, os alunos, pais e membros da comunidade foram chamados para fazer uma intervenção, pintando a pista.
“A construção foi pensada junto com os alunos que demandavam um espaço como esse para seu lazer. Construímos e os próprios estudantes, junto com a comunidade, pintaram o espaço”, conta Wilson.
O colégio, antes da educação integral, era um e agora é outro. É dessa forma que o diretor define as transformações que foram sentidas nos últimos cinco anos. Os casos de violência, depredação do espaço público e até mesmo tráfico de drogas eram uma realidade dentro da escola.
“Os alunos vinham para o colégio, mas saíam, seja porque tinham que ajudar os pais no trabalho, seja porque não viam sentido em estar naquele espaço, ou porque tinham medo de sofrer com a violência”, relata Wilson.
As condições mudaram diante das transformações. Atualmente, a instituição é vista como um “território neutro” dentro da comunidade e isso foi fundamental para que os alunos frequentassem as aulas.
Wilson relata que o próximo passo é ampliar o ensino em tempo integral para os estudantes do ensino médio. A intenção é tentar implementar a educação profissionalizante a partir do ano que vem, mas isso ainda não está definido.
A dificuldade maior para tal ampliação é porque o estado do Paraná ainda não tem um programa específico para o ensino médio. Segundo a assessoria de imprensa da Secretaria de Educação do Estado, o governo estadual “estuda é a possibilidade de implementar um piloto de educação integral no ensino médio em 2016. Mas isso está em análise”.
Mesmo sem um programa de educação integral, a escola mantém aulas e atividades à disposição dos adolescentes do ensino médio, iniciativa definida a partir da demanda dos próprios estudantes que se formaram já com o novo modelo adotado no ensino fundamental.
“Os estudantes que estão entrando agora no ensino médio são mais participativos e demandam da escola. Por isso buscamos oferecer o máximo de atividades para eles, com cursos em direitos humanos, esportes e oficinas de dança”, explica o diretor do Manoel Ribas.
Apesar dos inúmeros avanços, a escola encontra vários desafios e um dos principais é garantir que os professores tenham dedicação exclusiva e que o nível de rotatividade seja diminuído sensivelmente.
“Estamos em diálogo com a Secretaria de Educação para criar um operativo para garantir que os professores possam permanecer por mais tempo na escola, pois quando a troca é constante a educação é prejudicada”, explica.
Outra importante medida que o colégio está buscando é ampliar o número de disciplinas optativas na grade curricular. Atualmente, os estudantes têm apenas três aulas por semana, escolhidas livremente. As opções são aula de dança, coral e banda e alguns esportes.
Colégio Estadual Manoel Ribas
Telefone: (41) 3332-0073
Mais informações: www.ctamanoelribas.seed.pr.gov.br
Saiba mais e acesse outros materiais sobre a dimensão Educação no Território no guia Educação Integral Na Prática.
Escola