publicado dia 05/01/2016
Mais Educação: escolas atraentes e com maior participação estudantil
Reportagem: Caio Zinet
publicado dia 05/01/2016
Reportagem: Caio Zinet
É um erro avaliar o Mais Educação somente pelos resultados dos estudantes em provas de de Português e Matemática. A afirmação é do presidente da Fundação Joaquim Nabuco (Fundaj), Paulo Rubem.
“Avaliar o desempenho de um programa com base apenas numa prova de Língua Portuguesa ou de Matemática é muito pouco; não podemos cair nesse reducionismo”, afirmou em entrevista exclusiva ao Centro de Referências em Educação Integral.
Para ele, existem diversos outros fatores que devem pesar nessa avaliação. “É inegável o papel das ações culturais como instrumentos de fomento dessas outras capacidades que são essenciais, mas que infelizmente ainda não são adequadamente aferidas pela avaliação do sistema da educação básica no Brasil”, opina.
Confira abaixo a entrevista, na íntegra.
Paulo Rubem: Não há como negar que todas as atividades que podem ser integradas num programa de educação integral, a partir do projeto político pedagógico da escola, são atividades que se reforçam mutuamente. Uma aula de Educação Física, Artes ou Geografia interfere, sim, no aprendizado e no domínio da Língua Portuguesa e do raciocínio lógico matemático.
Consideramos muita limitada essa concepção de que a melhoria nos indicadores do Índice de Desenvolvimento da Educação Básica (Ideb) em Português e Matemática virá diretamente a partir do reforço escolar somente nessas disciplinas.
Essa é uma visão estreita que não encontra fundamento na Pedagogia. O que nós sabemos é que o conjunto das atividades que complementa a educação do primeiro turno nos colégios de tempo integral tem a capacidade de manter o aluno na escola tornando o ambiente mais atraente e convidativo.
A educação integral torna a instituição mais integrada em torno a um projeto pedagógico multidisciplinar e é por isso que nós defendemos reforçar, manter e ampliar o orçamento federal que é dedicado ao programa Mais Educação.
P.R: É fundamental aprimorar os indicadores de desempenho, mas não só isso. O primeiro princípio constitucional para a educação é que ela esteja voltada para a cidadania. Não se faz isso apenas reforçando o domínio da língua e do raciocínio matemático, mas sim à medida que são estimulados a participar, a terem capacidade criativa, capacidade de expressão e de trabalhar coletivamente.
É inegável o papel das ações culturais como instrumentos de fomento dessas outras capacidades que são essenciais, mas que infelizmente ainda não são adequadamente aferidas pela avaliação do sistema da educação básica no Brasil.
Qualificar o desempenho de um programa com base apenas numa prova de Língua Portuguesa ou de Matemática é muito pouco; não podemos cair nesse reducionismo. Esse é apenas um elemento que deve ser considerado para que possamos avaliar a qualidade da educação; esta não é só um bom índice no Ideb.
Devemos levar em conta se a educação forma para a cidadania, qual a qualidade dos insumos, se há provimento adequado de docentes em um país em que o concurso público é regra, mas virou exceção.
P.R: Os indicadores da pesquisa que a Fundaj desenvolveu apontam que o Mais Educação torna a escola mais atraente e estimula a participação dos estudantes. Ele também dá as condições para reduzir a evasão e o atraso educacional. O programa mostra que temos condições de transformar a escola num instrumento pleno para essa infância e para essa juventude.
Tudo aquilo que nós subtrairmos do Mais Educação, ou por razões orçamentárias, ou por redirecionamento didático pedagógico, será cobrado mais adiante; vamos colher as consequências disso. Atualmente, temos uma elevadíssima taxa de abandono no ensino médio e a nossa juventude que não concluiu o ensino fundamental é a juventude que está engrossando as estatísticas de vítimas de homicídio.
A juventude brasileira dos 14 aos 29 representa 54% do total de mortos por homicídio no país. Isso é muitas vezes superior a situações de guerra civil, de extermínio, que ocorrem no mundo.
P.R: A educação e a cultura têm uma capilaridade enorme e temos que avançar na relação multidisciplinar entre elas, fazendo com que a escola torne-se naturalmente um ponto de cultura.
Outra constatação interessante é que o Mais Educação, ao consorciar ações de educação e cultura, torna a escola mais atraente, ou seja, ela deixa de ser considerada um apêndice na vida do estudante e passa a ser algo essencial que dá sentido a ela. Na medida em que a instituição se torna um lugar atraente, os alunos sentem prazer de frequentá-la e querem dar continuidade à rotina escolar.
Eu não posso privar uma criança, um jovem, que está em plena fase de desenvolvimento intelectual, perceptivo e motor, de realizar atividades físicas onde ele estuda. Não posso privá-lo do acesso a atividades culturais. Estas precisam estar presentes até para que se possa construir hábitos, valores e comportamentos que, no futuro, vão assegurar a promoção da saúde, do bem estar social, do equilíbrio emocional, sobretudo daqueles que representam a maioria dos jovens mais pobres que vivem em comunidades em situação de permanente risco, em contextos familiares muitas vezes destroçados.