publicado dia 13/02/2014
7 experiências em que o rádio vira educação
Reportagem: Julia Dietrich
publicado dia 13/02/2014
Reportagem: Julia Dietrich
Primeiro aparelho eletrônico voltado à comunicação em massa, o rádio nasceu no século XIX, mas ganhou popularidade nos anos 30 do século passado. Por muito tempo, o aparelho foi o único meio de informação das pessoas e até hoje continua sendo o maior instrumento de comunicação do mundo, dado o seu baixo custo e facilidade e rapidez de produção. Por conta disso, essa ferramenta vem, a cada dia, sendo trazida também para os currículos escolares, já que por meio do rádio é possível trabalhar – coletivamente – diversos conteúdos.
Professores de todo o Brasil utilizam as rádios escolares para divulgar as atividades educativas, envolver os estudantes com professores e demais funcionários e criar conexões entre a unidade escolar e seu entorno. A ferramenta possibilita ainda trabalhar habilidades como a pesquisa, produção de texto e expressão verbal.
E, para comemorar o Dia Mundial do Rádio (13/2), data promovida pela Organização das Nações Unidas para a Educação, Ciência e Cultura (UNESCO), o Centro de Referências em Educação Integral e Portal Aprendiz selecionaram sete experiências de diferentes regiões do país em que o rádio vira educação.
Confira!
O Programa Nas Ondas do Rádio foi criado em 2004, pela Secretaria Municipal de Educação de São Paulo, que utilizou o programa como base para a criação da Lei Educom – Educomunicação pelas ondas do rádio, sancionada no ano de 2005, que prevê que as escolas da rede possam adotar a prática radiofônica em seu projeto pedagógico. O programa oferece os equipamentos necessários para a implementação de rádios escolares, estimulando que o processo de planejamento e gestão do instrumento faça parte do currículo da unidade. As rádios escolares são destinadas a todos alunos, professores e comunidade, que podem utilizá-la para apresentar programas de informação, entretenimento, músicas e prestação de serviço, sendo também um espaço onde o professor pode divulgar as atividades desenvolvidas na sala de aula.
Na zona leste da cidade de São Paulo, os grupos de teatro que integram o espaço Centro Cultural Arte e Construção realizam a divulgação das atrações culturais que ocorrem no espaço por meio de uma caixa de som instalada na bicicleta do Instituto. A bike-rádio circula pelas feiras, Centros Educacionais Unificados (CEUs), escolas e espaços culturais e, atualmente, é um instrumento oficial de divulgação coletiva e de envolvimento do grupo com a comunidade local.
No município de Horizonte (CE), o projeto Radioescolas começou a utilizar o rádio em dez unidades escolares, para assim abrir a discussão sobre os direitos da infância e da adolescência, fomentando a promoção da democracia, da liberdade de pensamento, da responsabilidade social, da autonomia e do protagonismo juvenil. Cada escola ganhou espaço para criar e veicular sua peça radiofônica no intervalo entre as aulas. Essa dinâmica se manteve até 2011, quando o projeto conseguiu uma parceria junto à radio local, a Horizonte FM (104,9). Com isso, além do diálogo estabelecido no interior das escolas, esses jovens tornaram-se propulsores de uma comunicação ativa com os ouvintes, em horários fixos – todas as terças e quintas, das 15 às 16h.
Em Santarém, cidade ao oeste do estado do Pará, organizações ligadas à igreja católica, inspiradas pelo Movimento de Educação de Base (MEB) e da pedagogia popular do educador Paulo Freire, criaram uma rádio para oferecer aulas aos jovens e adultos analfabetos. Esse modelo durou até os anos 80. Com a ampliação do acesso à escola, o projeto também mudou seu foco. Em vez de aulas, hoje o Projeto Rádio pela Educação traz os estudantes de escolas da rede pública da região para dentro do estúdio da Rádio Rural Santarém, onde eles apresentam, toda segunda, quarta e sextas-feiras, um programa de 30 minutos, com catorze sessões que tratam da realidade amazônica e trazem a voz de crianças e adolescentes, professores e lideranças comunitárias das zonas urbana e rural para o debate. Apoiado pela Secretaria Municipal de Educação, o projeto contempla ainda um guia pedagógico educomunicativo aos professores, uma rede de repórteres educativos formada pelos alunos, rádios internas nas escolas, um núcleo de radioatores e outro de leitores.
Desde 2012, a Escola Dom Anselmo Pietrulla, no município de Capivari de Baixo, em Santa Catarina, vem desenvolvendo uma rádio escolar que impacta diretamente o currículo e a aprendizagem dos estudantes. Com o apoio de uma pesquisadora da Universidade Estadual de Santa Catarina (Udesc), as crianças e pré-adolescentes produzem diferentes peças radiofônicas a partir dos conteúdos da sala de aula. Juntos, investigam pautas e trazem à programação – que é diária – , informações tanto de interesse dos alunos, quanto do corpo docente e direção.
Desde que a Escola Municipal de Ensino Fundamental Dr. José Pedro Leite Cordeiro, localizada na Cidade Kemel, extremo leste de São Paulo, passou a viabilizar atividades de educounicação, o intervalo das aulas nunca mais foi o mesmo. Em meio a usual barulheira das crianças, estudantes do 6º ao 9º ano do ensino fundamental tocam uma rádio escolar, a rádio Cordeiro. Autônomos para criar e desenvolver as pautas, os estudantes são apoiados pela coordenadora pedagógica e professores da instituição, convidando as turmas a problematizar o papel da mídia, a escola e a próprio protagonismo estudantil na comunidade escolar e no entorno. A rádio, que começou com a adesão ao Programa Ampliar, criado pela Secretaria Municipal de Educação em 2011, já virou rotina e parte integrante do plano político pedagógico da escola. Hoje, para além das pautas da escola e de interesse dos estudantes, são narradas histórias do próprio bairro e sobre saídas pedagógicas pela cidade; uma turma, inclusive, relatou na rádio a participação em um debate com a ex-senadora Marina Silva, no Galpão Cultural, localizado em São Miguel Paulista.
Na Bahia, Hamilton de Oliveira, o DJ Branco, comanda o “Evolução Hip Hop”, que acessa 13 mil ouvintes por segundo na Rádio Educadora FM, emissora pública do estado. No programa, o DJ apresenta canções do Hip Hop nordestino e discute temas de importância cidadã. “Funcionamos como um programa que faz, informalmente, monitoramento de políticas públicas, de direitos humanos, cidadania, direito à cidade, o que é consumo, violência e Estado”, explica o DJ. Branco. Ele, que também é arte educador e oficineiro, promove a interação da rádio com escolas públicas de Salvador e, na comunidade, realiza o “Evolução Hip Hop nos Bairros”, quando transmite o programa direto de um espaço público na capital ou em uma cidade vizinha. Nele, os bate-papos e apresentações de música acontecem em palco montado com artistas locais.