Como o brincar com a natureza estimula o desenvolvimento das crianças
Publicado dia 08/08/2017
Publicado dia 08/08/2017
“É a criança que brinca imaginando ou é a imaginação que brinca a criança?”. Este foi um dos questionamentos que levou o maranhense Gandhy Piorski a pesquisar a infância e o brincar na natureza 20 anos atrás.
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Tendo viajado o Brasil nessa empreitada, o educador e artista plástico diz ainda não ter chegado a uma resposta. Suas pesquisas, no entanto, trouxeram novas reflexões: constatou que os quatro elementos da natureza têm papel fundamental no desenvolvimento integral das crianças.
“Se a criança busca brincar com força, é seu imaginário pedindo mais energia. Se brinca de flutuações e giros, é a alma pedindo para nutrir-se de leveza. Lidar com matérias-primas permite que ela sinta a vida por meio da leveza, dureza, do peso, do calor, da força”.
Nesta perspectiva, brincar com elementos naturais é uma forma de conhecimento. Por exemplo, Piorski acredita que levar para a água crianças que dão muitos tapas, murros ou quebram coisas, pode ajudá-las a fluir, a aprenderem a ser menos abruptas. “E têm os elementos que tonificam. Quando a criança é muito tímida e introspectiva, o fogo pode ajudá-la”, explica.
Essas considerações sobre a interação entre crianças e elementos da natureza estão reunidas em uma série de livros do pesquisador. O primeiro deles, lançado em novembro de 2016, é o Brinquedos do Chão: a natureza, o imaginário e o brincar (Ed. Peirópolis) e trata do potencial lúdico envolvendo a terra.
“A água, o fogo, a terra e o ar coexistem na natureza e nós não somos formados por outra coisa senão disso. As repercussões são muito mais profundas e intensas quando a natureza externa desperta a natureza interna e esta leva a conhecer a natureza de fora”, diz.
Sob essa visão, o pesquisador acrescenta que a escola tem papel fundamental em promover a interação da criança com a natureza e essa missão vai muito além de disponibilizar uma área verde para brincar.
Ele explica que a instituição deve funcionar como a própria comunidade, ao invés de constituir-se como um espaço segregado do território, com regras muito distintas do cotidiano da criança. “Precisamos olhar para como a vida se expressa, não compartimentar tanto o brincar, a escola, o saber”.
Essa compartimentação ocorre em diversos momentos, por exemplo, quando se compreende brincar e aprender como processos distintos, ou quando se proíbe a presença dos pequenos em determinados espaços como a cozinha.
“O contato com as cozinheiras, por exemplo, é fundamental para que identifiquem plantas, temperos, o processamento de alimentos pelo fogo e pela água”, explica o educador. A ideia não é pedagogizar estes processos, mas que eles sejam naturais e estejam disponíveis para observação.
“Os múltiplos aspectos do trabalho humano precisam estar no entorno da criança por remeterem à construção da vida, da civilização. A aprendizagem se dá no convívio, mas não damos esses exemplos vivos para elas”, lamenta Gandhy Piorski.
Ele explica que observar os processos de vida, morte, construção e desconstrução é elementar para o desenvolvimento integral e fortalecimento pessoal. “Nos fragilizamos quando não conhecemos o mundo, quando nunca vimos alguém lidando com uma situação, quando não conhecemos os processos. Ficamos frágeis e medrosos, vivendo como em uma boiada, onde tudo está pré-determinado”, conclui.
Os quatro elementos não se mostram compartimentados quando a criança brinca na natureza. No entanto, dependendo da atividade lúdica, um ou outro pode se sobressair sobre os demais ao estimular determinado aspecto mais intensamente.
Também nessa perspectiva não existe uma criança da “água” ou “ar”, mas um indivíduo dotado de imaginação que, em momentos diferentes, anseia por uma vivência maior com um elemento específico, seja para reforçá-lo ou equilibrá-lo dentro de si.
Abaixo, o Centro de Referências em Educação Integral listou as características e algumas brincadeiras, de acordo com cada elemento da natureza.
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