publicado dia 02/10/2023
Seminário do Escola em Tempo Integral discute a relação entre território e escola
Reportagem: Ingrid Matuoka
publicado dia 02/10/2023
Reportagem: Ingrid Matuoka
📄Resumo: A última mesa da etapa Nordeste do Ciclo de Seminários Programa Escola em Tempo Integral, promovido pelo Ministério da Educação (MEC), discutiu “Os temas contemporâneos transversais em diálogo com a Educação Integral os territórios”. Com especialistas no tema, educadores e autoridades, o encontro aconteceu no Recife (PE), com transmissão ao vivo pelo YouTube.
A etapa Nordeste do Ciclo de Seminários do Programa Escola em Tempo Integral, que aconteceu nos dias 27 e 28/09 no Recife (PE), chegou ao fim com a mesa “Os temas contemporâneos transversais em diálogo com a Educação Integral os territórios”.
Realizado pelo Ministério da Educação (MEC), o evento contou com transmissão ao vivo pelo Youtube da pasta. No dia anterior, os debates giraram em torno da Educação Infantil, do Ensino Fundamental e Médio e da educação ambiental, midiática e esportiva.
Emerson de Araújo, coordenador estadual da UNCME/MA, abriu a mesa compartilhando algumas expectativas em relação ao Programa Escola em Tempo Integral.
O aumento do rendimento escolar e da interação entre os estudantes, acolhimento a todos, incentivo à prática esportiva e desenvolvimento de conhecimentos de cultura e meio ambiente, bem como a proteção social, redução de desigualdades e a gestão democrática.
“Os conselhos são instrumentos onde a sociedade também fala e contribui com o serviço público para encontrar soluções”, disse.
O Projeto Político Pedagógico (PPP) da EM do Parque São Cristóvão, que atende os anos iniciais do Ensino Fundamental, ganhou um nome especial: Projeto Baobá, em referência à árvore africana que representa a longevidade. Sua proposta é acolher crianças negras em sua plenitude e educar as crianças não negras para combater o racismo.
“Todo mundo teve uma educação para as relações étnico-raciais, só que em uma educação racista, que ensinou a algumas pessoas que elas eram melhores do que outras, e para outras ensinou que existia um lugar determinado para aceitar, e aceitar calado”, analisou Thiago Molina, professor na rede municipal de Salvador (BA).
Na prática, a escola organizou o trabalho pedagógico anual em torno das unidades didáticas do currículo de Salvador, constituído a partir das diretrizes da Lei 10.639. São três unidades: identidade negra e autoestima, modo de vida afro-brasileiro, africano e indígena, e resistência e empoderamento negro.
Em relação ao tempo integral, Thiago destacou alguns desafios, como desarticulação intersetorial entre políticas públicas, falta de políticas específicas para escolas de tempo integral, que deem conta, por exemplo, da jornada de trabalho docente, e promover a inclusão.
Fábio Barbosa, professor na rede estadual de ensino da Bahia, trouxe a importância do modelo ecossistêmico, que enlaça ambiente, comunidade, saúde e economia, para pensar as questões ambientais.
Do outro lado, existe uma tendência mais conservadora de ensino, que restringe o debate a datas e atividades pontuais, questões isoladas de suas causas e aspectos produtivos, apresentadas sem pensamento crítico e de forma antropocêntrica.
“Precisamos da pedagogia do desassossego, sair da nossa zona de conforto”, convocou Fábio, indicando o material Programa de Educação Ambiental do Sistema Educacional da Bahia como um dos recursos que pode apoiar nessa missão.
Para encerrar, Fábio deixou três perguntas que podem nortear as decisões das escolas e redes em torno do trabalho com as questões ambientais. “Como será a escola do futuro? Como ela servirá de instrumento social para a consolidação da sustentabilidade ambiental? Que desafios e perspectivas existem para que o ensino e a escola sejam sustentáveis?”.
O município de Recife possui 15 escolas de anos finais, 64 de anos iniciais e 136 creches em tempo integral. Ana Coelho Vieira Selva, Secretária Executiva de Gestão Pedagógica do município do Recife (PE), reafirmou a importância da infraestrutura das escolas, que possam contar com quadras, laboratórios, bibliotecas e espaços verdes.
O protagonismo dos estudantes também é central para a rede, que promove conselhos de estudantes, clubes, estudo orientado, incentivo às pesquisas científicas e formação cidadã.
O intuito é que a escola seja atrativa para os estudantes, que respeite as diversidade humanas, seja democrática e dialogue com a tecnologia e o meio ambiente. “É isso que precisa para a escola ser viva e fazer sentido para os estudantes”, disse Ana.
“O território da escola é o mundo, as comunidades, a cultura, as naturezas, o tempo, a vida e as cosmovisões”, disse Fabiano Piúba, Secretário de Formação, Livro e Leitura do Ministério da Cultura (MinC), para abrir sua fala.
Para levar essa visão para o chão das escolas, explicou o especialista, é necessário que a arte faça parte do currículo, levar mestres e mestras da cultura popular para ensinar os estudantes na escola, e levar crianças e jovens para aprender em ateliês, terreiros e centros culturais, museus e teatros do território.
“As cosmovisões africanas e indígenas também são fundamentais para o combate ao racismo e para a ampliação de visão de mundo e de nação das crianças”, destacou Fabiano para defender a implementação das leis 10.639 e 11.645.
Outro ponto importante é conceber as práticas de leitura e escrita em sua dimensão social e cultura, não apenas como decodificação de códigos, treino e memorização. “Paulo Freire dizia que a gente aprende a ler e escrever para escrever a nossa própria história e Conceição Evaristo nos traz escrever, ver e viver”, disse.