publicado dia 18/11/2020

Secretarias de Educação respondem: qual o nosso papel no planejamento para o pós-pandemia?

Reportagem:

Selo Reviravolta da EscolaEm meio a um processo eleitoral e a um intenso debate sobre a reabertura das escolas, as Secretarias de Educação podem ter um papel central em promover oportunidades de valorizar os professores, a educação e transformar as escolas.

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Em entrevista ao Centro de Referências em Educação Integral, representantes das Secretarias de Manaus (AM), Açailândia (MA), Tremembé (SP) e Caraguatatuba (SP), compartilharam quais têm sido seus pontos norteadores na tarefa de planejar os próximos passos da rede e como têm trabalhado pela garantia de direitos de crianças e adolescentes.

O trabalho por uma escola do século 21. Por Euzeni Araújo, subsecretária de Gestão Educacional da Secretaria de Educação de Manaus (AM)

Todas as nossas decisões estão olhando a nossa realidade, em respeito ao que temos vivenciado, ao que já tínhamos de bom e de avanços, e com a vontade de enfrentar as grandes desigualdades que vivemos. O ponto comum é a compreensão e a certeza de que a política educacional é uma das mais importantes para garantir as vidas e a formação de uma cidadania plena, e isso vai muito além de ensinar conteúdos curriculares.

“É chegado o momento de tirar do papel e colocar em prática os pilares dessa educação do século 21: ensinar e aprender a conhecer, fazer, conviver e, principalmente, a ser”. 

Para este momento, estamos ouvindo diretores, professores, famílias, sindicatos, instituições, outras redes e parceiros, o Ministério Público, o Conselho Municipal e a Saúde. Mais do que dizer, precisamos ouvir para refletir sobre como será a educação a partir dessa pandemia. Nesse sentido, o papel da Secretaria é de uma grande articuladora e mediadora de processos, promovendo um trabalho intersetorial. No planejamento estratégico, precisamos observar as nossas fraquezas e potencialidades, tanto nas questões administrativas quanto nas pedagógicas e de infraestrutura das escolas. 

Nosso desejo é encontrar caminhos para, de fato, assegurar o direito à educação, que nem sempre foi garantido. E para isso a escola precisa ter uma nova postura, e talvez uma nova concepção: ser aquela que prepara os estudantes para enfrentar os desafios de viver, que os torne capazes de definir o que fazer com os conhecimentos aprendidos em aula e como eles impactam sua vida. 

A velha escola, como diz o educador José Pacheco, não nos serve mais. Foi necessário esse momento para desaprendermos alguns conceitos que tínhamos e reconstruí-los. Sobretudo, olhar para o que havíamos esquecido: as relações, a afetividade, o acolhimento, a empatia e a interação. A aprendizagem depende muito desses fatores. É chegado o momento de tirar do papel e colocar em prática os pilares dessa educação do século 21: ensinar e aprender a conhecer, fazer, conviver e, principalmente, a ser.

A garantia do direito à educação a todos e todas. Por Karla Nascimento, Secretária de Educação de Açailândia (MA)

Nosso trabalho é zelar pelas aprendizagens das crianças. A Secretaria vem subsidiando todo o trabalho pedagógico remoto, dando suporte aos professores, promovendo a busca ativa dos alunos e monitorando o atendimento ofertado. Estamos atentos a quem tem acesso à internet, e quem precisa de material impresso. Se não conseguirmos contato com algum deles, vamos até as casas das famílias tentar entender o que está acontecendo e explicar a importância das crianças continuarem estudando. Também temos feito agendamentos de plantões pedagógicos presencialmente em algumas escolas, com os professores que puderam fazer isso, para ajudar as famílias que estão com dificuldades. 

“Precisamos estar próximos para poder manter o vínculo e fazer com que ele, mesmo com as dificuldades, permaneça no ambiente escolar”.

Nós sabemos que a pandemia aumentou a desigualdade educacional. Temos uma rede de ensino grande, com alunos enfrentando muitas dificuldades. Estamos atentos a eles, porque o risco de evasão é grande. Precisamos estar próximos para poder manter o vínculo e fazer com que ele, mesmo com as dificuldades, permaneça no ambiente escolar. Temos que mostrar que queremos esse estudante ali.

A Educação Especial também tem sido um foco. Partimos do pressuposto de que toda criança tem direito de participar das atividades propostas pela escola, com o intuito de consolidar o direito à educação na perspectiva da prática inclusiva. Então precisamos oportunizar a todas esse direito, encontrando mecanismos para auxiliar as famílias, por meio de interlocuções com coordenadores, professores das salas regulares e de AEE.

Também temos a missão de deixar tudo isso encaminhado e organizado, porque a próxima gestão vai levar um tempo para entender esse contexto. Não queremos uma ruptura do processo educacional, porque senão as crianças é que serão penalizadas.

A importância da autonomia e de soluções territorializadas. Por Cristiana Berthoud, secretária de Educação de Tremembé (SP) e membro do Conselho Nacional da Undime

Muitas das decisões de retornar ou não foram atreladas a interesses eleitorais. Os secretários têm, então, a responsabilidade de não se pautar por isso e trabalhar de forma extremamente técnica, porque nosso trabalho vai muito além de decidir reabrir ou não. A questão é que aquela escola não estava boa, e não devemos desejar voltar para ela. 

“O que as Secretarias não podem deixar acontecer é passar a pandemia e, sem que a gente perceba, termos voltado a nossa zona de conforto”.

Então precisamos conclamar professores, gestores, famílias, estudantes, a comunidade, para refletir sobre a escola que queremos. E estou certa de que nossos professores vão saber reconstruir essa escola pelo trabalho que eles têm desempenhado, reconhecendo que as crianças aprendem o tempo todo e que o seu papel é de mediador desse processo.

E para viabilizar e estimular esses debates, as secretarias têm que dar liberdade para as escolas, porque não há uma solução única, mas muitas. Então cada escola, no seu território educativo, precisa planejar esse retorno customizado, em decisões compartilhadas. A revolução da educação vai se dar em cada escola junto com sua comunidade, e a Secretaria de Educação é mediadora dessa transformação. 

Temos que dar apoio, fazer formação, motivar, monitorar e repassar recursos. Para que as escolas tenham autonomia, o PDDE é fundamental, mas também seria importante criar leis municipais para que as Secretarias possam transferir dinheiro para as escolas. Mas o que as Secretarias não podem deixar acontecer é passar a pandemia e, sem que a gente perceba, termos voltado a nossa zona de conforto. Temos que ser atentos e vigilantes. 

O cuidado com os professores. Por Márcia Paiva, secretária de Educação de Caraguatatuba (SP)

Nós temos nos concentrado em planejar a volta presencial e em deixar as escolas seguras e prontas para quando for possível retornar, e também temos feito busca ativa para não deixar ninguém para trás. 

“Também temos feito um acompanhamento emocional desses educadores, para que eles tenham segurança e tranquilidade para trabalhar”.

Outro ponto da nossa atuação é oferecer subsídios para os professores, com formações, melhores condições de trabalho e equipamentos, porque a tecnologia ocupou um espaço grande e para que, quando houver a reabertura das escolas, eles possam retornar com outras formas de ensinar. 

Também temos feito um acompanhamento emocional desses educadores, para que eles tenham segurança e tranquilidade para trabalhar. No horário do HTPC, nossos psicólogos têm oferecido a eles formações, assistência e oportunidade de escuta, e os retornos que recebemos dos professores têm sido bastante positivos em relação a isso.

Nossos educadores são a linha de frente. São eles que estão fazendo o trabalho diretamente com os alunos e as famílias. E temos percebido que eles oscilam, seja por insegurança da pandemia, porque preparam algo e talvez o retorno dos alunos não foi como eles gostariam, aí eles vão desanimando. Então precisamos ter esse cuidado e acolhimento, mostrar que estamos no caminho certo, que estamos fazendo um bom trabalho, para que ninguém desista de tentar.

O que é a #Reviravolta da Escola?

Realizado pelo Centro de Referências em Educação Integral, em parceria com diversas instituições, a campanha #Reviravolta da Escola articula ações que buscam discutir as aprendizagens vividas em 2020, assim como os caminhos possíveis para se recriar a escola necessária para o mundo pós-pandemia.

Leia os demais conteúdos no site especial da #Reviravolta da Escola.

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