publicado dia 17/10/2017

Projeto propõe aos alunos repensar a tecnologia em sala de aula com perspectiva humanista

Reportagem:

O uso de celulares, tablets e computadores é cada vez mais frequente na vida das crianças e adolescentes. No entanto, para a professora Elaine Santana essas tecnologias estão mais atreladas ao entretenimento do que à educação e ao estudo. Com isso em mente, Elaine criou em parceria com o desenvolvedor de sistemas Thiago Neves o projeto “Oyá Que Legal“.

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“É algo voltado para a cultura maker, para que as crianças sejam os próprios produtores e consigam criar soluções para os problemas da comunidade”

O projeto integra as aulas de robótica do Programa Territórios do Saber na EMEF Coronel Luiz Tenório, localizada na Zona Sul da capital paulista, e atende 90 alunos do 1º ano do Ensino Fundamental. Elaine conta que o objetivo é apresentar aos estudantes um novo olhar sobre a tecnologia, introduzindo eles à robótica e computação com uma perspectiva humanista.

“A proposta está ligada à desconstrução da dependência à tecnologia e às indústrias. É algo voltado para a cultura maker, para que as crianças sejam as próprias produtoras e consigam criar soluções para os problemas de suas comunidades”, diz.

Como funciona

O trabalho com os alunos começa com uma conceituação do que é a tecnologia, apresentando conceitos da física e da computação de forma lúdica. “Começamos com uma contação de histórias, explicamos como surgiu a energia, o fogo e falamos sobre Oyá, orixá dos raios”, explica a  professora, associando o ensino da cultura e história afro-brasileira, previsto na  Lei 10.639 à prática com os estudantes.

As dinâmicas são sempre acompanhadas de discussões sobre os temas propostos. Em uma aula sobre qual seria a função social de um robô, por exemplo, Elaine conta que os alunos falaram que gostariam de um robô para ajudar as mães na limpeza da casa para que elas passassem mais tempo com eles. A partir dessa reivindicação, a educadora estimulou o debate sobre questões de gênero e divisão das tarefas domésticas.

A professora conta que a ideia é exatamente essa. Abordar questões complexas sempre relacionando o uso da tecnologia como uma ferramenta para ajudar a resolver questões  sociais. “Quando eles pensam a relação deles com a tecnologia, eles pensam deles entre eles mesmo, entre as pessoas da escola”.

Depois da etapa de conceituação, os alunos partem para a elaboração de um projeto de robótica, dividido em três fases: planejamento, desenvolvimento e manufatura. Thiago, que é parceiro voluntário da escola, explica que para isso são usados materiais como o Arduino (placa de desenvolvimento de robótica), tinta condutiva e sistemas de código aberto e licença livre. No momento, a turma está na fase de planejamento de um robô da escola, discutindo, coletivamente, a partir dos temas investigados, suas características e funções.

Isso permite que os alunos coloquem a mão na massa e explorem o funcionamento da tecnologia. “Os alunos percebem que a relação do humano com a tecnologia pode ser boa e que facilita a nossa vida; não é para ser um problema”, diz Elaine.

“É outra relação com a tecnologia. Você constrói algo funcional para a comunidade”.

Além da sala de aula, as atividades e brincadeiras são feitas na área externa da escola e utilizam recursos multimídia. “Apesar de eles terem a capacidade de absorver o conteúdo, ainda são muito novos e usamos o audiovisual para ficar menos complexo e eles compreenderem as propostas”, comenta a educadora.

Mudanças na comunidade

“A invenção dá autonomia para a criança, ela pode desenvolver coisas para a comunidade. Ela torna-se protagonista e autora do recurso, sem dependência de empresas”, comenta Thiago.

O desenvolvedor de sistemas acredita que o projeto é potente no sentido de proporcionar às crianças ferramentas para uma mudança social. “É outra relação com a tecnologia. Você constrói algo funcional para a comunidade”.

Como próximos passos, a educadora tem como objetivo envolver os familiares dos estudantes, aproximando-os à proposta e convocando-os como parceiros da iniciativa. “A ideia é  que eles possam dar continuidade em casa a essa discussão.”

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