publicado dia 08/08/2018

Os desafios do próximo ministro da Educação, segundo Rossieli Soares

Reportagem:

Rossieli Soares assumiu o Ministério da Educação (MEC) em abril deste ano quando o então ministro Mendonça Filho (DEM) deixou a pasta para concorrer às eleições.

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Antes secretário de Educação do estado do Amazonas, Rossieli agora lida com as políticas deixadas pela última gestão, como a implementação da Base Nacional Comum Curricular (BNCC) da Educação Infantil e do Ensino Fundamental, e com o horizonte que se delineia com a proximidade das eleições, em meio ao descumprimento do Plano Nacional de Educação (PNE) e dos cortes nos investimentos sociais.

Durante o 2º Congresso Internacional de Jornalismo de Educação, realizado nos dias 6 e 7 de agosto, em São Paulo, Rossieli analisou o atual cenário da educação e os desafios com os quais o próximo ministro terá de lidar. Confira os principais trechos do discurso do ministro:

Educação Básica

  • Temos exemplos de escolas públicas que dão muito certo, mas a maioria está longe do que precisa ser. Vivemos um processo de busca pela escola que vai garantir infraestrutura, mas ela não é a prioridade. Antes disso, vem a valorização do professor e seu salário, a formação docente, os materiais, metodologias, o sentido que se dá para a escola pública, a formação integral do indivíduo.
  • Lançamos escolas de tempo integral para buscar uma formação mais integral no Ensino Médio, coisa que o Brasil já está buscando desde antes. Mas não é só mais tempo, mas o que a gente faz com esses jovens dentro da escola ouvindo e com a participação dele.

Alfabetização

  • Nós temos um grande desafio na alfabetização. O Brasil coloca para dentro das escolas a maioria das crianças no Ensino Fundamental, mas elas saem sem o conhecimento mínimo nas etapas, o que faz com que elas tenham muito mais chances de abandonar a escola.
  • O programa Mais Alfabetização traz o formato de formação de pares porque temos grandes professores que estão conseguindo alfabetizar em condições ruins. Por que ele não pode ser formador para colega da rede? Queremos colocar apoio para escolas terem outro alfabetizador se preciso, que ele possa fazer atividades com outros alunos enquanto o professor foca no aluno que tem mais dificuldade, ou vice-versa.
  • O PNAIC [Pacto Nacional pela Alfabetização na Idade Certa] é um processo de formação de professores que olhou para uma dimensão do que o Ceará fazia, sem olhar para as demais dimensões do que o estado fazia, imaginando que obteria o mesmo resultado. E não obteve justamente por esse balanço das dimensões que são trabalhadas pelo PAIC [Programa de Alfabetização na Idade Certa, do Ceará]: colocar na escola no prazo certo, trazer materiais estruturados na formação prática dos professores, e a troca de experiências entre os docentes.

Reforma do Ensino Médio

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  • [O modelo do Novo Ensino Médio com itinerários formativos] não vai aprofundar as desigualdades porque não existe caminho para isso, ela já é absurda. Não tem como, porque a gente está no fundo do poço, estamos há 3 edições da Prova Brasil sem qualidade, sem avanço nenhum.
  • Nós estamos discutindo com o CNE [Conselho Nacional de Educação] e a sociedade propostas de minimizar ou evitar eventuais desigualdades nos itinerários. Mas tratar todo mundo igual, ter todos os mesmos formatos em todo o Brasil, não tem dado certo. 

Formação docente

  • A formação dos professores precisa ser revista em todas as etapas, bem como a formação para os futuros gestores escolares. Acho que devemos aumentar de 3 para 4 anos o tempo da formação de professores. Mas aumentar o tempo e continuar fazendo o mesmo, não acho bom. O ponto está em que formação devemos oferecer, e qual o perfil dos futuros professores que queremos.
  • Grande parte das universidades é delegada para instituições privadas, não sou contra desde que a gente tenha claramente onde quer chegar. A BNCC ajuda muito, mas ela por si só não é um aspecto completo da formação de professores. É uma dimensão que precisa ser observada.
  • Nós vamos apresentar uma proposta inicial de Base Nacional de Formação de Professores para todas as etapas ainda este ano. Não que vá ser aprovada este ano, mas tem que botar na rua, fazer discussão.

Financiamento

  • As pessoas perguntam porque a escola privada tem resultado melhor [no IDEB — Índice de Desenvolvimento da Educação Básica] do que a pública. É porque tem particular que cobra de 3 a 4 mil reais por mês, enquanto na escola pública o investimento é de 5 mil por ano [por aluno].
  • Falta gestão dos recursos e faltam recursos. Vocês nunca vão me ouvir falando que a educação tem dinheiro suficiente. A educação precisa de mais recursos e isso tem que ser uma decisão de Estado. É o governo federal, estadual, municipal, é a gente enquanto sociedade. A sociedade tem que botar isso no centro do debate eleitoral.
  • Não é que tem dinheiro suficiente, mas para o que o Brasil arrecada e coloca na Educação, os resultados são muito ruins. Deveríamos estar melhor posicionados em relação ao que a gente investe.
  • Temos que discutir eficiência do gasto. O gestor tem que fazer boas escolhas e elas requerem muitas vezes tirar penduricalho, como quando se gasta mais com aluguel de carro para diretor de campus e menos com assistência estudantil.
  • Um dos problemas da gestão da educação é conseguir calcular o custo aluno efetivo para uma rede, porque às vezes em municípios pequenos não há um contador. Imagina fazer a construção de um indicador com razoável confiança. Não é simples.

Participação social é condição para uma educação de qualidade

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