publicado dia 02/10/2025

“O território, com todos os seus saberes e dinâmicas, pode contribuir muito”, diz Tereza Perez

Reportagem: | Edição: Tory Helena

🗒 Resumo: A 4ª edição do Seminário Educação Integral em Debate vai debater caminhos para promover a integração curricular e comunitária na Educação Integral e no tempo integral. A seguir, a mediadora da mesa, Tereza Perez, faz um panorama sobre o tema.

Integrar o currículo, superando a divisão entre turno e contraturno, bem como aproximar a comunidade da escola, estão entre os principais desafios vividos no dia-a-dia de educadores e gestores escolares. Tarefas complexas, que demandam formação, equipe e tempo, elas nem sempre têm o devido espaço em meio a outras dificuldades a que as escolas estão submetidas. 

Para apoiá-las, Tereza Perez, diretora-presidente da Roda Educativa, trouxe algumas orientações, reflexões e inspirações nesta entrevista ao Centro de Referências em Educação Integral (CR).

“O território, com todos os seus saberes e dinâmicas, pode contribuir muito. E é absolutamente essencial, porque a Educação sozinha não dá conta de dar todas as condições para as crianças, adolescentes e jovens acessarem, permanecerem e aprenderem na escola com qualidade”, disse Tereza.

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A especialista também será a mediadora da mesa “Integração curricular e comunitária na Educação Integral em Tempo Integral”, que faz parte do Seminário Educação Integral em Debate 2025. O evento acontece entre os dias 07 e 08 de outubro, das 09h às 12h (horário de Brasília), com transmissão ao vivo pelo canal no YouTube do CR. Não é necessário realizar inscrição e o link para obtenção do certificado será compartilhado durante a transmissão ao vivo.

O Seminário também vai discutir o novo Plano Nacional de Educação (PNE), compartilhar experiências concretas de escolas públicas e redes de ensino com Educação Integral e abordar o papel das redes para a efetivação da Educação Integral. Confira a programação completa.

A seguir, leia os principais trechos da conversa com Tereza Perez: 

Centro de Referências em Educação Integral: Uma das maiores dificuldades que as redes e escolas têm é de integrar o currículo e superar a divisão das aulas em turno e contraturno. O que você observa pelas escolas brasileiras sobre essas dificuldades e o que vê funcionar?

Tereza Perez: Vemos muitas redes de tempo integral que ainda não conseguiram fazer um currículo integrado e fazem no contraturno atividades de Artes, Tecnologia, Educação Física e até reforço escolar. 

Na Educação Infantil, como não tem grade curricular, costuma ter mais liberdade para criar algo mais integrado e vejo muitos avanços. Os campos de experiência ajudaram a construir esse terreno fértil de experimentos, de possibilidades, de brincar e cuidar. 

Nos Anos Iniciais do Ensino Fundamental, já vi funcionar bem escolas que têm uma cultura de Educação Integral, mesmo que não seja em tempo integral. Elas estão atentas aos sujeitos, ao desenvolvimento da autonomia dos professores e dos estudantes, a presença da arte de uma maneira intensa, com música, dança, fotografia e rádio. São várias ações e projetos que fazem com que a vivência da Educação seja mais potente. 

Tem um grande acolhimento das crianças com deficiência, das diferentes culturas e cosmovisões do mundo. Não tem essa rigidez de ter que cumprir absolutamente aquilo que está prescrito. Tem um bom currículo, mas não funciona como uma camisa de força. A justiça curricular é vivenciada, na medida em que consigo olhar para cada estudante, comunidade, que sente acolhida e pertencente a essa escola. 

Quando vai para os Anos Finais do Ensino Fundamental e Médio, já vai endurecendo e fazendo essa cisão em turno e contraturno. O que costuma romper com isso são as pesquisas e projetos que partem da escuta dos estudantes para entender o que faz sentido, o que motiva eles. Então é um currículo vivo, em que os professores podem criar coisas novas, valorizar os interesses dos adolescentes e jovens, e não criminalizar tudo o que eles gostam e fazem.

CR: Como a articulação comunitária pode contribuir para a construção de escolas com mais sentido para os estudantes e para fazer o tempo integral funcionar? 

Tereza: O território, com todos os seus saberes e dinâmicas, pode contribuir muito. E é absolutamente essencial, porque a Educação sozinha não dá conta de dar todas as condições para as crianças, adolescentes e jovens acessarem, permanecerem e aprenderem na escola com qualidade. 

“A Educação também pode fazer parcerias com Esporte, Cultura, Saúde, e aproveitar as atividades e projetos dessas áreas voltadas para estudantes, além de seus espaços”, orienta.

A Educação também pode fazer parcerias com Esporte, Cultura, Saúde, e aproveitar as atividades e projetos dessas áreas voltadas para estudantes, além de seus espaços. Então o trabalho intersetorial é fundamental. E a comunidade, as famílias, também precisam fazer parte da escola, com sua cultura, sua diversidade histórica e a valorização de seus saberes.

Mas as possibilidades e condições de contribuição são muito variadas pelo Brasil. Em uma escola do campo, o tipo de contribuição da comunidade e dos serviços públicos costumam ter mais limitações pelo distanciamento, dificuldade de transporte, comunicação e conectividade. Tudo isso tem que ser levado em conta.

Já nas turmas multisseriadas, vemos uma participação das famílias muito maior, porque são escolas que de fato estão inseridas na comunidade. Nos grandes centros urbanos, a participação é menor, daí a importância de recorrer a estratégias como abrir aos finais de semana para as famílias irem e serem escutadas. 

CR: Como avalia a implementação do tempo integral no Brasil nos últimos anos, desde o começo do programa Escola em Tempo Integral, em 2023?

Tereza: O Ministério da Educação tem contribuído bastante com muitos materiais, guias, orientações e suporte para que a coisa aconteça. Mas depende muito da equipe técnica das Secretarias de Educação e da compreensão que elas têm sobre o que fazer nesse tempo a mais na escola, como articular o currículo integrado, e isso tudo é uma grande dificuldade para eles. 

“As Diretrizes Operacionais da Educação Integral vão ajudar bastante, porque dá um norte de por onde caminhar, porque as escolas precisam repensar tudo”, explica.

As Diretrizes Operacionais da Educação Integral vão ajudar bastante, porque dá um norte de por onde caminhar, porque as escolas precisam repensar tudo: tempos, espaços, equipe, alimentação, transporte, materiais. São muitas demandas objetivas que a rede tem que lidar.

Por isso, cada escola que consegue ser implementada tem que ser comemorada, e as redes vêm conseguindo fazer isso. Às vezes a verba não permite colocar todos da escola no tempo integral e os gestores escolares sofrem muito por isso, por ter que escolher uma parte dos estudantes em detrimento de outra, e porque dificulta o currículo e a relação com a comunidade. 

Toda vez que implantamos uma nova política, ela tem uma série de ajustes a serem feitas e não tem como escapar disso. Quando decidimos universalizar a escola no Brasil, as condições eram péssimas, tinha escola de lata. Hoje melhorou, ainda é preciso avançar, porque tem escola sem banheiro, mas tem escola para todo mundo. Então é uma questão de seguir trabalhando. 

E ainda tem muita coisa que precisa mudar em relação à avaliação, para adequá-la aos princípios da Educação Integral, porque as redes e escolas ficam muito submetidas a elas.

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