publicado dia 10/11/2020

O que os candidatos à prefeitura de São Paulo propõem para a educação integral? 

Reportagem:

O Fórum de Educação Integral para uma cidade educadora (FEICE) reuniu especialistas para analisar como os principais candidatos à prefeitura de São Paulo compreendem a Educação Integral e o que têm a propor para a agenda na cidade.

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Durante o evento virtual, Elie Ghanem, professor da Faculdade de Educação da USP, e Natacha Costa, do Centro de Referências em Educação Integral, debateram os programas de governo de Bruno Covas (PSDB), Celso Russomano (Republicanos), Guilherme Boulos (PSOL), Jilmar Tatto (PT) e Márcio França (PSB), candidatos que lideram as pesquisas eleitorais na cidade.

Confira as propostas resumidas dos candidatos e os principais comentários dos especialistas:

Educação Integral

O que é: A educação integral, como concepção que se volta para os sujeitos na sua integralidade, rompe com um paradigma tradicionalista da escola e reconhece os estudantes como sujeitos competentes, sociais, históricos e multidimensionais. Suas famílias e comunidades como aliadas dos processos educativos, os professores como profissionais que pesquisam, desenvolvem suas práticas e conhecem seu contexto de atuação melhor do que ninguém e a escola como espaço articulador de aprendizagens.

O que propõem os candidatos para a Educação na cidade:

Bruno Covas. “Vamos ampliar o ensino integral, que será oferecido a mais crianças da rede, seja a partir das aulas presenciais, seja com conteúdos online”. 

Celso Russomano. “Garantir o direito, o acesso e a permanência na educação pública municipal, com direito à inclusão, pertinência, transparência e equidade, mediante ampliação e melhoria dos serviços, benefícios, programas e projetos educacionais que contribuam para o desenvolvimento individual e social dos paulistanos”. 

Guilherme Boulos. “O objetivo é transformar a capital paulistana em uma Cidade Educadora, ideia inspirada na proposta de educação integral formulada por Anísio Teixeira”.

Jilmar Tatto. “A Educação Humanizadora, integral e inclusiva, visa promover o direito ao conhecimento socialmente referenciado, a defesa e a promoção da vida, e o combate à desigualdade e todas as formas de injustiça e discriminação. A educação é direito humano fundamental, meio de acesso à cultura, às ciências, às artes, à filosofia, à tecnologia e deve voltar-se ao pleno desenvolvimento das potencialidades humanas. Promover a Política de Educação Integral nos CEUs e nas UES, considerando a meta 9 do PME.

Márcio França. “Ensino em tempo integral, com disciplina e respeito à hierarquia; menos alunos por sala de aula; professor com formação continuada”.

Os principais comentários dos especialistas:

Elie Ghanem. O professor destacou que não aparece nos programas um ponto essencial: para ampliar o acesso e a qualidade da educação na cidade é preciso priorizar o investimento nos educadores e nos profissionais de outros setores, como Saúde, Assistência Social e Transporte, fundamentais para compor uma educação integral.

Ele afirmou que França, Russomano e Tatto trazem pontos desejáveis, mas que são genéricos, postos de maneira tímida, e sem dizer o que será atingir esses objetivos. “Na proposta de Boulos, traz Anísio Teixeira, referência para Educação Integral, mas ainda fortemente circunscrito aos centros educacionais, o que é necessário, mas não suficiente para desenvolver uma cidade educadora. E a formulação de Covas é ambígua, porque oferecer educação por mais tempo não necessariamente garante qualidade ou integralidade”. 

Natacha Costa. Para Natacha, Boulos, Russomano e Tatto trazem um entendimento de educação integral vago. Covas e França, por sua vez, equivocados. “Eles restringem a tempo integral, e Covas coloca o ensino como se fosse deslocado da aprendizagem e de um processo mais amplo, inclusive colocando foco no ensino online. Do ponto de vista da educação integral, isso não se sustenta. E no caso do França, há uma menção a disciplina e respeito a hierarquia, enquanto a educação integral preza por uma perspectiva democrática e horizontalizada nas relações. Essa questão nos causa um desconforto. De que hierarquia e de que disciplina estão falando?”. 

Cidade educadora e território

O que é: A dimensão territorial da educação integral se assenta no reconhecimento das várias experiências empreendidas nas instituições escolares que procuram, articulando atores escolares, famílias, bebês, crianças e jovens, comunidades locais, equipamentos públicos e privados, movimentos sociais e universidades, consolidar, articular e colocar em circulação conhecimentos, práticas e ações de Educação Integral.

O que propõem os candidatos:

Bruno Covas. Não menciona.

Celso Russomano. “Realização de intercâmbios de experiências pedagógicas entre as unidades escolares”.

Guilherme Boulos. “Criar espaços formativos de trocas de experiências pedagógicas entre as escolas”.

Jilmar Tatto. “Garantir o direito à cidade e aos seus bens culturais para os milhares de estudantes e familiares, objetivando a construção de uma Cidade Educadora e garantindo a infraestrutura necessária para a promoção e acesso a atividades culturais e educativas […] Articular e consolidar a Rede de Proteção Social, impulsionando políticas intersecretariais e intersetoriais nos territórios vividos a partir da Educação […] Fortalecer os instrumentos de participação, transparência e controle social, como, por exemplo, conselhos municipais da cidade”.

Márcio França. “Intercâmbio das escolas com equipamentos culturais públicos e independentes, incluindo a realização de visitas pedagógicas, apresentações nas escolas e nestes equipamentos. Constituição de uma rede de formação cultural envolvendo as escolas e os equipamentos culturais locais e regionais”. 

Os comentários dos especialistas: 

Natacha Costa. A especialista explica que são necessários quatro eixos fundamentais para se constituir uma cidade educadora: participação, que inclui desde as crianças pequenas para que todos possam pensar e transformar a cidade; acesso aos bens culturais, seja os que já estão institucionalizados mas também os bens e saberes populares; intersetorialidade, que prevê um pensar a cidade que envolva todos os seus setores da cidade; escolas articuladas entre si e com os outros espaços e agentes. 

“Nos programas há menção das escolas articuladas, e França e Tatto mencionam o acesso a bens culturais. Tatto é o único que trata da intersetorialidade e da participação, dispositivos fundamentais para a construção de uma cidade inclusiva e garantidora de direitos”. 

Elie Ghanem. O professor da USP ressalta que é preciso ampliar o acesso a recursos culturais, esportivos e educacionais pela cidade, redistribuindo do centro para as periferias a localização desses equipamentos e melhorando as condições de acesso a eles por meio de transportes públicos que sejam estes, também, acessíveis. 

“Poder circular com segurança pela da cidade, para além do deslocamento casa-trabalho ou casa-estudo, e com gratuidade de transporte. Ou considerar, por exemplo, abrir as bibliotecas escolares para as comunidades do entorno. Tudo isso seriam políticas que dão importância a uma cidade educadora. Mas elas ainda não estão suficientemente assimiladas, não só pela opinião pública de forma geral, mas também nas propostas dos candidatos”. 

Assista ao debate na íntegra:

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