publicado dia 11/06/2015
Municipalidade de Rosário apresenta práticas para uma cidade educadora
Reportagem: Julia Dietrich
publicado dia 11/06/2015
Reportagem: Julia Dietrich
“Organizar uma cidade educadora é uma fervorosa decisão política”, define Carolina Balparda, na abertura do segundo dia (11/6) do Seminário Internacional de Educação Integral: Práticas para uma Cidade Educadora.
Acompanhe o Seminário ao vivo pela transmissão do Mídia Ninja
Carolina é Diretora Geral de Programas Educativos e do Tríptico da Infância – circuito estruturante do projeto pedagógico urbano – da Municipalidade de Rosário, na Argentina, e apresentou as razões que configuram o município como uma das principais referências na discussão de educação no território – e que, por isso, receberá, em 2016 o Congresso da Associação Internacional de Cidades Educadoras (AICE).
Segundo Carolina, o título se deve à escolha do governo de reorganizar a área urbana a partir de um projeto pedagógico da cidade, que reconhece seus espaços públicos como espaços formativos, compartilhando da mesma concepção de cidade educadora que a AICE. “O conceito de cidade educadora nos leva a reinventar a cidade como lugar de aprendizagens permanentes, de convivência e de diálogo, na perspectiva de aprofundamento da democracia e da afirmação de liberdades. Esse planejamento requer a cooperação entre os diferentes departamentos das diversas políticas, assim como promover ações coordenadas que deram forma a este projeto global que constitui a Cidade Educadora”.
Para fazer o plano sair do papel, foi necessário reconhecer o território como dimensão fundamental da convivência cidadã, que traz a memória e a identidade do local, onde todos podem, pelo uso, transformá-lo e dar novos sentidos. Outra medida estruturante foi a reorganização da cultura e da educação a partir de quatro eixos de gestão: o aprofundamento da descentralização por meio de iniciativas transversais que entrelaçam os territórios; promoção da participação dos cidadãos por meio da comunicação e das tecnologias de informação; estímulo ao desenvolvimento de produção cultural independente e articulação dos espaços, programas e projetos, ligando diferentes esferas e níveis de governo.
As resultantes dessas decisões se materializam em propostas educativas que se percebe a cada esquina da cidade. Uma das mais inovadoras é Triptico de la Infância, que conecta três espaços públicos antes subutilizados para promover o jogo e a convivência entre adultos e crianças. Ou ainda o ônibus que circula pela cidade, conduzido por um coletivo de educadores, que propicia para estudantes e habitantes e visitantes de Rosário uma experiência extra cotidiana de se aprender com o território – a Escola Móvel.
Carolina destaca que para elaborar e implementar uma proposta de cidade como a de Rosário, envolver toda a sociedade civil é um pressuposto inegociável. Nessa perspectiva, o município criou mecanismos para incluir a voz das crianças nas decisões políticas. No Conselho das Crianças, elas encontram espaço para aconselhar o prefeito sobre quais as decisões lhes parecem mais acertadas, enquanto no Congresso de los Chicos, a voz do jovem encontra lugar na tomada de decisão sobre os assuntos da cidade.
É também por meio do envolvimento da sociedade civil que Julia Ventura, Coordenadora Executiva do Projeto Aluno Presente e debatedora da manhã no Seminário, acredita que seja possível superar o desafio da evasão escolar no município do Rio de Janeiro.
Desenvolvido pela Associação Cidade Escola Aprendiz, em parceria com a Fundação Education Above All e a Secretaria Municipal de Educação, o Projeto Aluno Presente busca garantir o direito de acesso à educação básica às crianças e adolescentes de seis a 14 anos da cidade do Rio de Janeiro.
Para dar conta de um desafio de 21 mil crianças e adolescentes fora da escola, o projeto atua na identificação daqueles que não foram matriculados e na prevenção da evasão escolar. E o envolvimento das famílias, organizações não governamentais e da comunidade é fundamental para garantir a inclusão de todos eles.
“O território precisa se mobilizar para superar esse desafio. A participação social nos espaços como fóruns e associações tem apoiado sensivelmente a atuação dos articuladores do projeto”, destaca. De 2014 a abril de 2015, as estratégias já garantiram a matrícula de 4.048 das 5.145 que estavam evadidas e foram localizadas pelo projeto.
Mas só a participação social não é suficiente para trazer todas as respostas de uma realidade tão complexa. Essa responsabilidade é compartilhada entre Estado, sociedade, família e estudante e coloca em xeque o modelo educacional vigente. A partir desse prisma, Julia afirma ter ficado latente a necessidade de integrar também as políticas públicas. Formou-se, a partir do projeto, um Grupo de Trabalho (GT) Intersetorial, composto pelas secretarias municipais de Educação, do Desenvolvimento Social, Secretaria da Casa Civil e de Saúde, cuja pauta principal é a questão da criança fora da escola.
Entre todas as conquistas, a mudança de olhar de cada ator para sua participação nessa questão é uma das mais árduas e mais estruturantes que o GT pode trazer. “É necessário deixar pra trás uma cultura de culpabilização recíproca para dar lugar a uma cultura de responsabilização compartilhada”, finaliza.
Por Roberta Tasselli, do Portal Aprendiz