publicado dia 04/04/2022

A importância de ressignificar o 19 de abril nas escolas não indígenas

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“Pintam o menino com guache, fazem cocar com cartolina e vão dançar a música da Xuxa. Isso é ridículo e não pode acontecer”, disse Edson Kayapó, doutor em Educação, durante a Hora do Intervalo que aconteceu em março, em referência ao trabalho que muitas escolas conduzem em 19 de abril, o chamado “Dia do Índio”, e que como o especialista explica, tem contribuído mais para a ampliação do racismo do que para a valorização dos povos indígenas.

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“Os povos indígenas estão ressignificando esse feriado, se reportando agora ao Abril Indígena, e não é tempo de festejar, porque historicamente nunca tivemos motivos para festejar as politicas vindas do Estado”, destacou Edson, que também é ativista no movimento indígena, ambientalista e escritor premiado pela UNESCO.

Ele também contou que tem sido fortalecida a data de 9 de agosto, que marca o Dia Internacional dos Povos Indígenas, reconhecida como mais legítima por ter sido criada em diálogo com os povos indígenas da América e a Organização das Nações Unidas (ONU).

Pela lei nº. 11.645, de 2008, as escolas públicas e privadas de todo o Brasil devem, obrigatoriamente, ensinar história e cultura afro-brasileira e indígena. Para que esse trabalho seja feito de maneira aprofundada e significativa, Jaciara Santos da Silva, mestre em Línguas Indígenas pelo Programa de Pós-Graduação em Letras da UNIFAP, orienta os professores a buscarem trabalhos publicados pelos próprios indígenas a respeito do assunto e priorizar mostrar aos estudantes a realidade contemporânea de algumas das 305 etnias indígenas brasileiras ao longo do ano inteiro, em todos os componentes curriculares.

“Procurem mais conhecimentos sobre os povos indígenas para que o povo brasileiro venha a entender quem são os indígenas. Muitos professores ensinam que são só um, mas existem vários povos indígenas, com culturas, línguas, costumes e tradições diferentes. Somos humanos, igual a todos, temos uma cultura diferente, costumes diferentes, como cada estado do Brasil tem uma cultura, uma história”, destacou Jaciara, que também é professora do povo Galibi-Marworno, na Escola Indígena Estadual Camilo Narciso, em Oiapoque no Amapá.

Durante o bate-papo, os convidados destacaram a importância de levar as produções literárias e audiovisuais de indígenas para os estudantes e também falaram sobre o processo de conquista de uma educação escolar indígena específica, bilíngue ou multilíngue, comunitária e intercultural, os desafios que ainda precisam ser enfrentados, bem como a importância da escola na luta indígena pela garantia de seus demais direitos.

Assista ao debate na íntegra:

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