As mudanças climáticas deixaram de ser uma previsão distante para se tornarem uma realidade cotidiana. As escolas, por estarem espalhadas por todo o território e terem papel central na vida das comunidades, estão na linha de frente desse desafio.

Ondas de calor, secas, enchentes e deslizamentos têm interrompido aulas e impactado diretamente a saúde e o bem-estar de estudantes e profissionais da Educação. Diante desse cenário, a adaptação das escolas tornou-se uma questão estratégica para proteger a infância e fortalecer a resiliência das comunidades escolares.

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A proposta vai além de infraestrutura: trata-se de repensar o espaço educativo a partir da combinação entre Soluções Baseadas na Natureza (SBN), estratégias bioclimáticas e naturalização dos ambientes externos.

Ao integrar o verde à arquitetura e ao cotidiano escolar, as escolas não apenas se tornam mais frescas, seguras e acolhedoras, mas também passam a educar pelo exemplo, mostrando que a natureza é uma aliada fundamental no enfrentamento da crise climática.

A natureza como ferramenta pedagógica

A conexão com a natureza é reconhecida por pesquisadores como essencial para o desenvolvimento físico, emocional e cognitivo das crianças. Além de reduzir o estresse e aumentar a concentração, o contato direto com o ambiente natural favorece o aprendizado ativo e o senso de pertencimento ao planeta.

A partir dessa perspectiva, surge o conceito de Escolas Baseadas na Natureza (EBN), uma abordagem que transforma pátios, jardins e áreas externas em verdadeiros laboratórios de vida.

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Inspirado em movimentos globais de educação ao ar livre, o guia Escolas Baseadas na Natureza, desenvolvido em parceria entre Instituto Alana, Unicef e Nova Escola, convida redes públicas e privadas a redesenharem seus espaços e práticas pedagógicas.

O material gratuito do projeto oferece cursos autoinstrucionais, planos de aula e exemplos práticos, ajudando professores e gestores a desenvolver uma pedagogia que reconhece a natureza como agente ativo no processo educativo.

O guia propõe quatro princípios fundamentais para essa transformação:

1. Brincar ao ar livre
2. Valorizar a experiência corporal
3. Reconhecer a diversidade
4. Explorar múltiplos ambientes de aprendizagem

Esses pilares orientam uma educação viva, que integra corpo, mente e território, aproximando o currículo da realidade das crianças e fortalecendo a ética do cuidado com o meio ambiente.

Escolas Baseadas na Natureza envolveu escuta de educadores e crianças

Em sua fase inicial, o projeto EBN promoveu formações presenciais e on-line com apoio das secretarias de educação, alcançando diferentes regiões do país. As escutas realizadas com 90 crianças e 78 professores revelaram um desejo crescente de sair das salas e redescobrir o aprendizado em contato com o mundo exterior.

Entre os educadores ouvidos, 46,6% afirmaram acreditar ser possível ensinar fora da sala de aula, embora a maioria ainda se sinta despreparada para isso. Esse dado aponta para a necessidade de apoio técnico e pedagógico para incorporar práticas ao ar livre de forma consistente e segura.

Ao naturalizar os espaços escolares e incorporar soluções ecológicas, como jardins de chuva, telhados verdes e sombreamento natural, as escolas podem reduzir ilhas de calor, mitigar enchentes e melhorar o conforto térmico, benefícios que extrapolam os muros e impactam positivamente o entorno urbano.

Essas ações não apenas reduzem a vulnerabilidade das escolas aos eventos extremos, mas também criam oportunidades de aprendizado sobre sustentabilidade e cidadania ambiental. A criança que planta, observa e cuida de um espaço verde internaliza valores de respeito e interdependência que são essenciais para o futuro do planeta.