publicado dia 06/03/2024

Estudo produz material de apoio para professores sobre violência e cultura de paz

Reportagem:

🗒️Resumo: Pesquisa “Algoritmos, violência e juventude no Brasil: rumo a um modelo educacional para a paz e os direitos humanos“, do Think Twice Brasil, investiga como o acesso a conteúdo violento nas redes sociais pode influenciar os jovens a agirem com violência nas redes e fora delas. 

O estudo também produziu um material de apoio gratuito para professoras desenvolverem ações de cultura de paz e direitos humanos em suas escolas com poucos recursos.

“Qual foi a coisa mais assustadora que você viu na Internet nos últimos tempos?”, diz uma das perguntas disparadoras do material de apoio do estudo “Algoritmos, violência e juventude no Brasil: rumo a um modelo educacional para a paz e os direitos humanos“, desenvolvido pelo Think Twice Brasil.

Leia + Especial Escola Segura: Cultivando a Cultura de Paz traz conteúdos para apoiar estratégias de enfrentamento às violências

A primeira fase da pesquisa ouviu 216 jovens de 13 a 24 anos de idade de todo o Brasil a respeito de seu acesso a conteúdos violentos por meio das plataformas digitais. Entre os participantes, 84,3% já haviam assistido a vídeos violentos; racismo, misoginia e cyberbullying estão entre os temas mais comuns. 

Após assistirem a esse tipo de conteúdo, 15,3% dos jovens afirmaram que cometeram ataques verbais e/ou físicos. Outros 26,4% se sentiram motivados a fazer o mesmo, ainda que não tenham agido sobre isso. 

Na segunda etapa, uma pesquisadora imitou a experiência de um internauta nas redes, confirmando a predominância dos temas violentos recorrentes logo nos primeiros dias. 

A partir do 12º dia de uso, a violência se tornou ainda mais explícita: “Começaram a aparecer [para a pesquisadora] filmagens de cenas de violência doméstica, verbal, de ataques às escolas e suicídios”, relata Gabriele Garcia, uma das fundadoras do Think Twice.

Além de ferir Direitos Humanos, esse tipo de conteúdo dessensibiliza os jovens e gera um vício específico na temática. “Precisamos ampliar a consciência crítica e afetiva dos jovens e educadores para identificar, nomear as violências e entenderem que há alternativas a isso e ferramentas para enfrentá-las”, afirma Gabriele.

O esforço de uma Educação para a paz e os Direitos Humanos é uma possível prevenção às diversas violências que permeiam a sociedade, em especial, os ataques às escolas. 

Os últimos dois anos (2022 e 2023) concentram 58% dos ataques registrados nas duas décadas anteriores. Os dados são de um levantamento feito por pesquisadores da Unicamp, que fazem parte do Gepem (Grupo de Estudos e Pesquisas em Educação Moral).

Nesse combate, as escolas não podem ficar sozinhas. “A sociedade precisa ampará-las, trabalhar em parceria, produzir conteúdos de excelência de livre acesso, pressionar os governos, as plataformas digitais e o setor privado, questionando a lógica de operação dessas empresas, uma vez que direitos humanos são inegociáveis”, aponta Gabriele. 

Cartilha para combater a violência 

Para além do diagnóstico, a pesquisa também produziu uma cartilha de material de apoio gratuito para professoras implementarem mesmo com poucos recursos. Ele traz 5 planos de aula para abordar questões como os impactos individuais e coletivos das violências, cyberbullying, direitos humanos e cultura de paz, e um bingo dos direitos humanos. 

Há, ainda, uma série de “chat cards” (“cartas para conversar”, em tradução livre do Inglês), isto é, cartas com perguntas disparadoras para conversar sobre o tema com os estudantes. A proposta é que os conteúdos possam se somar às ações permanentes e interdisciplinares da unidade.

“O material traz recomendações para o antes, durante e depois das práticas pedagógicas. Uma delas é localizar o contexto, buscar referências do lugar em que a escola está inserida, as principais violências que a impactam, e o contexto da comunidade escolar, do bairro e da cidade”, explica Gabriele.

Também convida as escolas a refletirem sobre como elas próprias lidam, na prática, com questões de gestão democrática, violência e paz em seu interior. “Esses processos são pautados no controle rígido e autoritário ou é no sentido de cuidado, prevenção e identificação das violências?”, questiona a especialista.

Em sala de aula, a proposta é que professoras, devidamente amparadas pela gestão escolar, possam convidar adolescentes ao diálogo sobre as experiências deles nas redes sociais. “É uma construção coletiva, em que todo mundo se coloca aberto para navegar juntos por um tema que causa dor em todos”, define Gabriele.

Mais um ataque contra escola reforça necessidade de cultura de paz 

As plataformas da Cidade Escola Aprendiz utilizam cookies e tecnologias semelhantes, como explicado em nossa Política de Privacidade, para recomendar conteúdo e publicidade.
Ao navegar por nosso conteúdo, o usuário aceita tais condições.