publicado dia 10/09/2021
Estágio na formação docente apoia educadores a repensar a escola
Reportagem: Ingrid Matuoka
publicado dia 10/09/2021
Reportagem: Ingrid Matuoka
O estágio, durante a formação de professores, é das mais potentes ferramentas. Não só aproxima o futuro educador do chão da escola, oferecendo oportunidades para compreender a teoria na prática, como também dá ao docente em exercício a chance de atualizar-se e de encarar a própria prática por outras perspectivas. Quando as condições são favoráveis, essa parceria pode ser potente para transformar a educação, sobretudo no atual contexto de desafios agravados pela pandemia de Covid-19.
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Jamille Mascarenhas é estudante de Pedagogia no Instituto Singularidades e começou a fazer estágio no primeiro semestre da faculdade. Formada em Administração, a ideia de pisar em uma sala de aula parecia assustadora, algo que foi se desfazendo e dando lugar às surpresas.
“Aconteceram várias coincidências de aprender um conteúdo em aula e, ao chegar no estágio, via acontecendo na prática. A teoria é muito rica, mas para acreditar, nada como vê-la sendo implementada”, conta.
Foi com os professores que a receberam que aprendeu, por exemplo, como o território e os saberes locais podem permear a escola e a prática pedagógica, como a brincadeira das crianças revela uma linguagem característica das infâncias, e pôde experimentar realizar atividades com os estudantes e outras pequenas intervenções.
Ao longo do tempo, Jamille foi ficando mais confortável nessa posição e, em certo ponto, passou a ter uma visão crítica sobre a prática dos docentes que acompanhava, atendo-se ao lugar de analisar, e não de julgar. “É chegar devagar, observando, porque a presença do estagiário afeta a dinâmica da aula e em alguns casos o professor pode se sentir vigiado. Então a confidencialidade é muito importante”, explica Jamille.
“Eu que estou de fora pude enxergar outro caminho”, conta Jamille Mascarenhas
Essa postura, quando bem recebida, permite que, para além de aprender com os professores em exercício, os estagiários também possam ensinar algo. Jamille conta que em uma das escolas em que estagiou havia um estudante estigmatizado como “difícil”, mas ela o percebeu de outra maneira:
“Eu que estou de fora pude enxergar outro caminho e dei uma ferramenta diferente para o aluno aprender. O resultado foi ótimo e a professora também ficou feliz com a mudança. Então é uma chance para o educador retomar ou aprender novas teorias, e aproveitar para repensar sua prática, já que o estagiário está ali, cheio de energia, otimismo, com tempo para refletir e observar”, diz.
Na outra ponta, a professora Franciele Busico, diretora do CIEJA Perus, em São Paulo (SP), sempre estimula a recepção de estagiários na unidade por perceber a importância que isso tem não só para o professor e o estudante universitário, mas também para a melhoria da educação como um todo.
“A escola é pública e, portanto, aberta. Assim, sempre conversamos sobre a importância de nos corresponsabilizar por essa formação, que nós também já passamos. A troca, o diálogo, fazer em dupla, trio, discutir um planejamento, o que foi viabilizado e o que não deu certo, é produtivo para ambos”, destaca Franciele.
A pandemia causou uma série de rupturas e agravou problemas que o Brasil já enfrentava. Nesse sentido, Jamille lembra a importância de repensar a educação: “A pandemia veio nos reafirmar que a gente planeja, mas chega na hora e as coisas acontecem de outra forma. Então é por isso que a formação dos sujeitos não pode ser estanque, separada, simplificando saberes. Tem que ser transdisciplinar, favorecer o pensamento crítico e outras competências”.
Nesse terreno de incertezas que atravessam os educadores, as parcerias podem fortalecer a busca por caminhos para garantir os direitos de todas e todos os estudantes e potencializar a transformação pela educação. “O estagiário pode contribuir para pensar os desafios colocados nesse momento, dividindo tarefas e colocando a mão na massa”, afirma Franciele.
No CIEJA Perus, por exemplo, foram os estagiários que auxiliaram os professores em exercício a usar um recurso digital, como o Google Formulários, por meio de um encontro formativo. “É essa perspectiva freiriana de humanização das relações, de diálogo constante, trocas horizontais em que todos têm algo a aprender e a ensinar, que está fazendo a roda girar em meio a essa crise”, finaliza a diretora.
O que é a #Reviravolta da Escola?
Realizado pelo Centro de Referências em Educação Integral, em parceria com diversas instituições, a campanha #Reviravolta da Escola articula ações que buscam discutir as aprendizagens vividas em 2020, assim como os caminhos possíveis para se recriar a escola necessária para o mundo pós-pandemia.
Leia os demais conteúdos no site especial da #Reviravolta da Escola.
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