publicado dia 26/01/2017

Com participação de bebês, ato exige negociação sobre creches da USP

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Na sexta-feira (27/01), os bebês sairão em passeata para protestar contra o fechamento da Creche Oeste da USP. Será a terceira passeata desse tipo. A primeira aconteceu em 1975, para que fossem abertas as creches da universidade, e a segunda em 2015, quando essas mesmas creches deixaram de abrir novas vagas. Se a primeira foi bem-sucedida, a segunda não teve o mesmo desfecho e agora os bebês precisarão voltar às ruas.

Desde o último dia 17, as famílias destes bebês estão ocupando a creche para evitar que seu mobiliário seja transferido para a outra creche do campus. Atualmente essas famílias são formadas por funcionários da universidade, já que nos últimos anos as creches deixaram de atender os filhos das estudantes. Com capacidade para 150 crianças, hoje a Creche Oeste possui apenas trinta.

A não abertura de novas vagas vem afetando também as outras creches e centros de educação infantil da universidade, tanto as da capital paulista quanto as do interior. A unidade que havia no Hospital Universitário já foi fechada no início do ano.

A informação choca quem acompanha o drama da falta de vagas em creches no país. O Plano Nacional de Educação (PNE) estabeleceu como meta ampliar a oferta de educação infantil em creches de forma a atender, ao menos, 50% das crianças de 0 a 3 anos até 2024. Ainda estamos muito longe dessa meta, que já era tímida antes de governo e Congresso congelarem os gastos públicos pelos próximos vinte anos. Na cidade de São Paulo, a estimativa é de uma demanda por quase 100 mil novas vagas em creches. No país, calcula-se que faltam 2,4 milhões de vagas.

“Uma criança para a Universidade, no auxílio-creche, custa em torno de 7,5 mil, anualmente. Se ela estiver na creche, custa 5 mil”.

Claro que é preciso reconhecer que uma crise afeta fortemente a universidade e sempre se pode argumentar que o direito das trabalhadoras está garantido pelo auxílio-creche que passam a receber. Mas, de acordo com o dossiê elaborado pela Comissão Creches Mobilizadas USP, formada por pais, professores e funcionários das creches, que utilizou o anuário estatístico da USP (2009- 2014), uma criança para a Universidade, no auxílio-creche, custa em torno de 7,5 mil, anualmente. Se ela estiver na creche, custa 5 mil.

Para além disso, é preciso também pensar como potencializar o recurso disponível nas creches da universidade. O maior empecilho para a construção de novas creches em cidades como São Paulo é falta de terreno público apropriado. Acontece até mesmo de o Ministério da Educação ter recursos a serem disponibilizados para a construção de equipamentos, mas não haver espaço para tal.

As creches da USP são equipamentos de ótima qualidade, com infraestrutura bem planejada e com amplo acesso à natureza, um privilégio na cidade. Será uma grande perda se todas suas vagas não forem ocupadas pelos filhos das funcionárias e os filhos da comunidade, sejam estudantes, vizinhos ou filhos das funcionárias das empresas terceirizadas pela universidade.

Ressalta também o valor que as creches universitárias já têm e que poderia ser ainda maior para a formação de novos profissionais dos campos diversos que atuam com a infância, como pedagogia, pediatria, neurociências, enfermagem, psicologia e sociologia. Hoje uma das maiores críticas que se faz à formação universitária, sobretudo na educação, é seu afastamento em relação à realidade. A existência de unidades de educação básica na universidade, especialmente se elas forem unidades de aplicação, possibilita que os futuros profissionais completem sua formação em programas de residência pedagógica, além de constituir campos privilegiados para a pesquisa.

Se a universidade não dispõe dos recursos, outros agentes devem ser mobilizados, mas o Estado não pode perder esse patrimônio conquistado há mais de quarenta anos. A ocupação da creche e a passeata dos bebês devem mobilizar os diversos envolvidos em um processo de construção coletiva das soluções necessárias para proteger o que já temos e transformar o que precisa ser melhorado.

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