publicado dia 05/08/2016
Alto rendimento não deve ser foco principal da Educação Física escolar, dizem especialistas
Reportagem: Caio Zinet
publicado dia 05/08/2016
Reportagem: Caio Zinet
Qual objetivo da Educação Física e da prática esportiva na escola? Para o senso comum, é provável que a resposta seja encontrar potenciais atletas que se destaquem em uma determinada prática esportiva, para que esse jovem ou criança possa desenvolver todo seu talento, tornando-se eventualmente um atleta de ponta.
Mas a realidade é que, em muitos casos, os estudantes que não têm habilidades esportivas desenvolvidas acabam ficando de lado na aula de Educação Física. Esses estudantes não se enxergam dentro de determinadas práticas, não se sentem confortáveis ou têm vergonha. Não raro, pensam que não têm talento e preferem fazer outra atividade, dedicando-se pouco à práticas que envolvam o corpo.
Mas qual deve ser o papel do esporte na escola? Encontrar potenciais atletas? Desenvolver apenas as práticas esportivas mais populares transmitidas na televisão? Como ficam os estudantes que não se enquadram nesse padrão? Como pensar a Educação Física privilegiando o desenvolvimento integral, atendendo tanto aos que preferem práticas diversas como aqueles que, eventualmente, queiram se tornar atletas de ponta?
Especialistas ouvidos pelo Centro de Referências em Educação Integral defendem que o estudante com potencial esportivo deve ter um tratamento diferenciado para que possa desenvolvê-lo, mas que a prática esportiva escolar não deve ser pensada somente com esse viés.
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Da mesma forma como a Matemática, Biologia, História, Português e demais matérias do currículo são pensadas para desenvolver o potencial de todos e todas, assim também dever ser pensada a Educação Física.
Um exemplo vem da Fundação Gol de Letra que faz parceria com escolas e comunidade no seu entorno, dentro de uma visão de que o importante é desenvolver habilidades físicas, motoras e melhorar as relações coletivas entre as crianças e jovens.
“O central na prática esportiva escolar é garantir o desenvolvimento físico, motor e a inteligência corporal. O sujeito só pode ser plenamente desenvolvido a partir disso. Esporte é envolvimento com o outro, entender e respeitar regras, compartilhar regras com amigos e adversários. A Educação Física tem que se preocupar com isso e não em formar atletas de elite”, afirmou o diretor geral da Fundação Gol de Letra, Sóstenes Brasileiro, irmão dos jogadores de futebol Raí, um dos fundadores da Fundação, e de Sócrates.
Para o diretor da ONG, a Educação Física tem que ser inclusiva, percebendo e dialogando com a necessidade de cada estudante, envolvendo-o no processo educativo. “O esporte educacional tem que ser um esporte de inclusão, verdadeiramente inclusivo. Costumamos falar aqui na Gol de Letra que todo esporte, em algum momento, já foi uma brincadeira que se transformou em um esporte de alta competição”, afirmou.
Para Rodrigo Mendes, diretor do Instituto que leva o mesmo nome, a escola restringe muito o potencial da atividade física quando trabalha o esporte apenas na perspectiva de alto rendimento, deixando de lado outras dimensões do esporte que são parte de uma educação integral.
“Acredito que um primeiro aspecto a ser considerado é a origem da Educação Física como disciplina escolar ainda muito relacionada à busca por desempenho e formação de atletas. Esse é um obstáculo para que a gente possa entender e explorar a Educação Física como linguagem que favorece uma educação para todos”, afirmou.
Para a diretora do Instituto Esporte & Educação, Ana Moser, o mundo contemporâneo é cada vez mais sedentário e as pessoas acabam tendo pouca prática esportiva. A escola poderia ser um caminho para massificação do esporte.
“Quando se pensa em qualquer tipo de política de massificação da prática esportiva, é preciso pensar na escola”, afirmou.
Ao mesmo tempo em que o foco da Educação Física não deve se centrar na produção de atletas de alto rendimento também é preciso ter um olhar diferenciado para aqueles que se destacam ou que têm o desejo de tornar-se atleta, de forma que esse jovem ou criança encontre os instrumentos necessários para desenvolver todo seu potencial.
Para a professora da USP, Kátia Rubio, assim como as escolas pensam em políticas para os alunos que se destacam em Matemática, deveria também pensar no estudante que mostra talento e aptidão acima da média em alguma prática esportiva.
“O professor e a escola têm ficar atentos e perceber quem tem mais talento. A partir desse momento, ele pode buscar equipamentos públicos, clubes ou pessoas que possam permitir que aquela habilidade seja desenvolvida”, afirmou a docente.
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