Como praticar a Educação Física inclusiva?
Publicado dia 04/10/2018
Publicado dia 04/10/2018
“A Educação Física inclusiva favorece o melhor de cada estudante em sua singularidade e na coletividade”, explica Rodrigo Hübner Mendes, fundador do Instituto que leva seu nome e se dedica há 24 anos a lutar para que todas as pessoas com deficiência tenham acesso a uma educação de qualidade.
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Desde 2012, a organização vem se dedicando especialmente à transformação da Educação Física nas escolas por meio do projeto Portas Abertas para a Inclusão, percorrendo o Brasil para formar professores e gestores e mostrar que outra abordagem da disciplina é possível.
“Essa é uma das disciplinas que mais exclui. No entanto, quando se transforma, é uma das com maior potencial de inclusão por ser um espaço que rompe com os padrões rígidos da sala de aula. Além disso, propicia uma interação física extremamente favorável para que todos os estudantes convivam e interajam em pé de igualdade e descubram suas potencialidades físicas”, afirma o especialista.
Este é também o entendimento da Convenção Internacional sobre os Direitos das Pessoas com Deficiência, que em 2006 estabeleceu que todas as atividades físicas devem atender às especificidades de cada aluno, permitindo a participação do maior número de estudantes possível, com as mais variadas habilidades.
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Rodrigo Mendes explica que essa área do conhecimento, historicamente, foi muito pautada pela competição e pela busca do mais forte e do mais ágil, e que esse direcionamento inevitavelmente se tornava excludente, não só às pessoas com deficiência, mas a todos e todas que não se enquadram no perfil psicomotor ou afetivo dos esportes convencionais.
Para ele, o primeiro passo para tornar a Educação Física inclusiva é abordar a disciplina a partir da concepção de cultura corporal, que amplia as atividades, olhando também para a dança, as lutas, as culturas e as brincadeiras. E quando isso acontece, os resultados são “impressionantes”.
“A Educação Física inclusiva transforma a percepção que o aluno tem em relação ao seu potencial. Muda o olhar da família e dos colegas desse aluno, que começam a enxergar as possibilidades para muito além do que se pensava até então. A relação com a comunidade escolar também se torna mais genuína e igualitária. Além disso, por vezes, vemos essa mudança transcender para outras disciplinas e até mesmo em uma revisão do Projeto Político Pedagógico (PPP) da escola”, conta Rodrigo.
Ambas têm como objetivo o desenvolvimento afetivo, cognitivo e psicomotor dos estudantes, mas diferem na maneira de fazê-lo.
A Educação Física adaptada baseia-se nas práticas dos esportes convencionais para mudar apenas algumas regras de maneira a atender cada tipo de deficiência. Por exemplo, o basquete em cadeira de rodas, o futebol para cegos que utiliza uma bola com guizo, ou vôlei com um intérprete de libras.
Já a inclusiva diz respeito a todos os alunos e é orientada pela equiparação de oportunidades e respeito às diferenças. Também rompe com o foco no esporte competitivo e privilegia o convívio e o bem-estar de todos.
“Esta é uma oportunidade de todos os estudantes reinventarem ou criarem atividades físicas inclusivas, engajando os alunos nesse desafio”, sugere Rodrigo.
O Instituto Rodrigo Mendes já atuou, por meio do projeto Portas Abertas, em 15 estados brasileiros, certificando 916 educadores para a prática da Educação Física inclusiva e impactando mais de 90 mil estudantes.
Abaixo, o Centro de Referências em Educação Integral selecionou algumas das atividades de Educação Física inclusiva desenvolvidas pelas escolas em parceria com o Instituto, que também podem ser praticadas em outros espaços do território como parques e envolvendo toda a comunidade:
O objetivo do minitênis é fazer a bola cruzar a rede, como no esporte tradicional, mas sem regras rígidas ou técnicas específicas, variando de acordo com a experiência de cada turma. O tamanho da quadra também é passível de adaptação, devendo variar conforme o contexto com demarcações em giz de lousa.
Para confeccionar as raquetes e bolinhas, pode-se utilizar papelão e papel amassado, e as telas de janela contra insetos podem fazer a vez da rede. Como suporte, pode-se utilizar cordas ou tubos de PVC presos a pneus.
Bocha
Na bocha inclusiva, uma bola branca, chamada jack, é lançada por meio de uma calha em uma pista. Em seguida, os times lançam outras bolas coloridas e o objetivo é colocá-las o mais próximo possível da bola jack.
O desafio está no diálogo entre a dupla: quem manuseia a calha está de costas e não pode ver o posicionamento das bolas. A pessoa que está de frente, por sua vez, é quem deve decidir a melhor estratégia e o momento de lançar a bola pela calha.
As bolas utilizadas podem ser as que a escola já possui ou confeccionadas com papel e jornal.
Corrida guiada
A turma é dividida em pares. Um membro da dupla é vendado e o outro desempenha a função de guia. Na sequência, os papéis se invertem. Após algumas rodadas, também é possível trocar as duplas por colegas com quem se tem menos contato, de forma a estimular a confiança.
Quando a Educação Física passa a ser entendida de maneira mais ampla, isto é, como uma cultura corporal, abrem-se horizontes para compreender as danças como manifestações relevantes que favorecem o desenvolvimento integral dos estudantes.
Para além do corpo, estas podem ser ainda oportunidades de expressão cultural, envolvendo a diversidade brasileira na Educação Física, trazendo por exemplo o jongo, o hip-hop, a capoeira e o maculelê para a escola.
Também é possível estimular a interdisciplinaridade, explorando a origem cultural e histórica dessas danças e atividades e criando oportunidades para discutir o racismo e a inclusão de todos.
Vôlei e basquete sentado
No vôlei ou basquete sentado, mantém-se a mesma quantidade de jogadores das modalidades tracionais e a missão de passar a bola para o outro lado da rede ou acertá-la em uma cesta. As regras adicionais envolvem não levantar-se do chão para fazer os movimentos, e adequar a altura da rede ou da cesta de basquete aos jogadores.