Projeto Cisternas nas Escolas aproxima alunos das ciências exatas na prática
Publicado dia 26/07/2018
Publicado dia 26/07/2018
Agora a água da chuva que cai sobre o telhado da EMEF Desembargador Amorim Lima, em São Paulo (SP), não escorre pelo chão e termina nos bueiros, como na maioria dos lugares, mas é utilizada para manter as salas de aula e os banheiros limpos. Isso foi possível graças ao projeto Cisternas nas Escolas, da OSC Engenheiros sem Fronteiras (ESF).
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“A água é captada no telhado e levada ao reservatório por uma calha. Para utilizá-la, basta abrir uma torneira instalada no recipiente”, explica Bárbara Passos Triginelli, engenheira ambiental, coordenadora do projeto Cisternas nas Escolas.
As atividades tiveram início em fevereiro deste ano. Durante o primeiro semestre, 15 voluntários dos ESF participaram semanalmente de aulas das turmas do sexto ano, propondo discussões sobre a crise hídrica, o uso racional da água, como a civilizações antigas garantiam seu abastecimento, e como as modernas canalizaram rios para construir vias asfaltadas.
Em julho, para finalizar o projeto, implementaram a cisterna, que tem capacidade de armazenamento de 2.500 litros de água da chuva. A compra dos materiais foi feita por meio do Fundo Patrimonial Amigos da POLI e a obra realizada por professores, alunos, familiares e os voluntários dos ESF.
Com os alunos, os voluntários também realizaram uma redação sobre como é viver sem água, utilizaram jogos para explicar a distribuição da água no planeta, e estudaram questões sobre massa, volume e pressão por meio de experiências práticas.
A OSC Engenheiros Sem Fronteiras – núcleo São Paulo – é composta por engenheiros e futuros profissionais que acreditam na promoção do desenvolvimento humano e sustentável através da engenharia. O grupo realiza trabalho voluntário para a transformação social por meio de projetos técnicos, acadêmicos e educacionais.
“Se de repente aparecesse uma cisterna, as crianças não iam se dar conta da importância dela, seria só mais uma coisa que surgiu na escola, mas como elas participaram de todo o processo, acredito que vão cuidar, porque faz sentido para elas”, diz Maria Silvia Braga Rios, professora da Amorim Lima que acompanhou o desenvolvimento das atividades. A docente afirma ainda que o envolvimento dos voluntários com as crianças foi fundamental para tornar o projeto significativo.
A engenheira Bárbara conta que o volume de armazenamento foi pensado a partir das necessidades cotidianas da escola, como limpar os banheiros, as salas, o refeitório e os corredores. “Isso faz com que a escola poupe a água de melhor qualidade e isso pode fazer diferença em um momento de crise hídrica”, diz.
A parceria entre a EMEF Desembargador Amorim Lima e a OSC Engenheiros sem Fronteiras foi firmada no ano passado, quando a ESF buscava colégios para desenvolver o projeto Cisternas nas Escolas. “A metodologia da Amorim Lima é algo que admiramos”, conta Bárbara.
Inspirada na Escola da Ponte, na Amorim Lima o conteúdo curricular é organizado por roteiros de pesquisa, e não por disciplinas. Quase não são realizadas aulas expositivas e os professores atuam de maneira a auxiliar as aprendizagens. Não há provas e as avaliações são feitas por meio dos projetos desenvolvidos ao final de cada roteiro temático.
A escola, que fica aberta à comunidade aos finais de semana, também abriu mão das paredes que separavam as salas de aula — multiseriada, as crianças convivem e aprendem umas com as outras, ao lado de uma gestão que preza pela democracia e o diálogo nas decisões.
Assim, professores e voluntário planejaram as atividades práticas e teóricas que seriam trabalhadas com os 90 alunos do sexto ano — etapa na qual o currículo escolar já prevê discussões sobre sustentabilidade, uso consciente da água e conceitos de Física e Matemática sobre volume, área e pressão.
Depois, todos esses conhecimentos puderam ser utilizados na elaboração do projeto de instalação da cisterna, do qual os alunos participaram ativamente, calculando o volume do recipiente, a altura da calha, a área de captação, dentre outros processos da obra. “A nossa ideia é mostrar as ciências exatas de uma forma diferente, mais divertida e concreta, com aplicação em um projeto real”, afirma Bárbara.
Tornar as ciências exatas mais acessíveis é um dos principais objetivos do projeto Cisternas nas Escolas, como explica a engenheira ambiental e diretora da OSC Engenheiros sem Fronteiras, Lígia Monteiro: “temos o objetivo de fomentar o interesse de crianças e jovens por seguir carreiras das ciências naturais e exatas, e tornar esse campo menos elitizado, mais diverso e inclusivo”.
Ao mesmo tempo, como explica Lígia, os ESF tem o intuito de realizar projetos capazes de mitigar os efeitos da crise hídrica, que vem assolando a região metropolitana de São Paulo desde meados de 2013, incentivando o uso racional da água e minimizando os impactos de escassez de água a nível local.
“Os alunos participaram muito das aulas, dessa conscientização do papel deles na redução no consumo de água. Eles também ajudaram a elaborar o projeto, a montar, serrar, conectar os tubos”, diz Bárbara. “Todos os problemas que iam surgindo durante a instalação, ajudaram a resolver, de fato, aplicando os conhecimentos teóricos das aulas”, comemora a engenheira.