No Grajaú (SP), Comunidade Cidadã aproveita espaços públicos para a produção de conhecimento
Publicado dia 28/05/2014
Publicado dia 28/05/2014
Foi no início dos anos 2000 que um grupo de jovens, com idades entre 15 e 24 anos, moradores da Zona Sul de São Paulo, começou a se reunir de maneira informal na garagem da casa de um deles. O objetivo era discutir os direitos da juventude no território e mostrar que a cidade também era um espaço de aprendizado, trazendo a ideia de um processo de ensino baseado na Educação Integral, no qual escola e comunidade traçam diálogos de forma constante.
Assim, em 2004, nascia a Comunidade Cidadã que mantém, até hoje, 80% de jovens entre os envolvidos. Em 2006, o grupo se envolveu com o Fórum Social Sul, espaço deliberativo que buscava ouvir as principais demandas das organizações sociais da região do Grajaú. Foi neste momento que a Comunidade Cidadã se solidificou no território e iniciou a coordenação do Grupo de Trabalho de Educação da “Grajaú em Rede pela Cidadania”, garantindo ao coletivo uma interação maior com escolas públicas.
A partir da experiência, a Comunidade Cidadã conheceu o projeto Jovens Urbanos, desenvolvido pelo Cenpec, em parceria com a Fundação Itaú Social, e se efetivou como um braço da iniciativa ficando a cargo do atendimento a estudantes do Grajaú. A presença ativa do coletivo no território até os dias de hoje colabora com o processo de ampliação do repertório sociocultural dos envolvidos para além dos conteúdos disciplinares da escola. O grupo tem promovido diversas ações junto à comunidade, sempre com o intuito de reforçar as impressões locais. Conheça algumas delas.
Em 2013, a Comunidade Cidadã deu início ao primeiro projeto próprio: o Programa Escola Livre, realizado em parceria com escolas públicas da região. A ideia era promover temas de cultura, cidadania e educação aos jovens do ensino médio, a partir de atividades no contraturno escolar que fizessem uso das ferramentas de comunicação, como rádio, vídeo, fotografia e blog. O programa se dividia em quatro módulos, com duração de dois meses e meio cada. No primeiro deles, “Cultura e Cidade”, o participante tinha a oportunidade de sair dos muros da escola para entender a comunidade local e suas características e, com isso, discutir como se dão os processos culturais e a formação da cidade.
No módulo “Comunicação”, o jovem experimentava diferentes ferramentas comunicacionais, a fim de registrar tudo aquilo que viu no módulo anterior acerca do espaço urbano. No terceiro momento da formação, colocava as mãos na massa, com a produção de documentários, revistas, programas de rádio e exposições fotográficas. Por último, o projeto apresentava aos estudantes o módulo de reflexão e apresentação de alternativas aos jovens de como prosseguir com as iniciativas realizadas durante o curso.
Por falta de financiamento, o Programa Escola Livre se encerrou em 2013.
A atuação do coletivo também se voltou para a sala de cinema do Grajaú, a partir da constatação de que o espaço vinha sendo mal utilizado. Com a ideia de reconfigurar o uso da sala e também de divulgar a produção audiovisual de profissionais locais, passaram a acontecer – três vezes por semana – a exibição de um filme ou documentário que sustentasse diálogo com o território. Até a calçada em frente à sala era utilizada com fim educativo, evidenciando mais uma oportunidade de ampliação de aprendizagem. A sala de cinema também abriga oficinas gratuitas com profissionais de comunicação da região. O projeto acontece todas as semanas até hoje, e o público, na maior parte das vezes, é formado por estudantes de escolas públicas ou participantes de outros projetos sociais.
Com um olhar essencialmente para a infância, uma vez por mês, um grupo de voluntários se junta à Comunidade Cidadã para levar as crianças para ocupar as praças do território. A atividade tem como intuito resgatar o sentido de brincadeiras antigas e trabalhar o desenvolvimento infantil por meio do lúdico. Com a ação, o grupo conseguiu chamar a atenção do poder público para a conservação de uma das praças, que recebeu há pouco tempo uma academia ao ar livre.
A questão da acessibilidade às pessoas com deficiência também é fomentada pelo “Entra na Roda”. Realizado em parceria com o a Prefeitura de São Paulo, por meio do Serviço de Atendimento Especial (Atende), a Comunidade Cidadã promove encontros em equipamentos públicos e privados do Grajaú para refletir e trocar experiências sobre a questão da inclusão e seus desafios.
Início e duração: 2004 aos dias atuais
Local: Grajaú (Zona Sul de São Paulo)
Responsáveis: Comunidade Cidadã
Envolvidos e parceiros: organizações sociais, escolas públicas e Prefeitura de São Paulo.
Financiamento: Fundação Itaú Social, Secretaria Estadual de Cultural e Secretaria Municipal de Cultural de São Paulo.
Nos dez anos de projeto, a Comunidade Cidadã já atendeu cerca de 1500 jovens. Além dos resultados imediatos, como a produção de documentários, revistas, blogs e fotos, foi possível notar que os participantes dos projetos propostos pela organização adquiriram autonomia e encontraram, com a iniciativa, espaço para o diálogo sobre as juventudes.
Alguns estudantes que estiveram no Programa escola Livre, hoje organizam seus próprios projetos de educomunicação na escola ou na comunidade. Alguns deles foram, inclusive, contemplados pelo Programa de Iniciativas Culturais da Cidade de São Paulo (VAI) para desenvolver ações próprias.
Outro ponto destacado pela organização é o estreitamento da relação com as escolas públicas da região, a partir de diálogo constante por meio da participação de professores, coordenadores e diretores escolares em reuniões do coletivo, o que facilitou a entrada do projeto na vida dos estudantes a partir do entendimento de que a educação deve atender a todas as dimensões do desenvolvimento humano, em uma perspectiva integral.
A apropriação do espaço público também é um dos resultados positivos da organização, que conseguiu chamar a atenção do poder público para a conservação dessas áreas.
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