Escola combate evasão e Ideb baixo com ampliação da jornada e mudanças na gestão

Publicado dia 22/11/2016

Ampliar o tempo das crianças na escola e qualificar essa permanência foi fundamental para que a Escola Municipal Waldir Garcia, de Manaus, enfrentasse o seu principal problema: a evasão escolar.

Em 2008, a diretora Lucia Cristina de Barros Santos conta que o número de estudantes que abandonava a escola chegou a 35 por ano – taxa acompanhada por um Índice de Desenvolvimento da Educação Básica (Ideb) de 3,5 – e que a situação tinha como fundo a alta vulnerabilidade social do território. “As famílias em geral são muito pobres e as crianças acabavam indo para os semáforos locais ajudar na composição de renda”, relata.

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A escola, que atende 220 estudantes no ensino fundamental I, passou a ofertar a educação em 9 horas diárias. O movimento de expansão do tempo escolar, iniciado com a adesão ao Mais Educação, foi internalizado pela gestão municipal há um ano após a descontinuidade do programa e a interrupção do envio de recursos pelo governo federal.

“Na época, fomos procurados pelo Coletivo Escola Família Amazonas (CEFA), um grupo de pais que tinha muito interesse pela continuidade da ampliação do tempo na escola, ideia que era partilhada pela comunidade escolar. Após algumas conversas, nos reunimos com os representantes da secretaria e o município acabou por internalizar as contrapartidas do modelo que mantem as crianças na escola das 7h10 às 16h10″, contou Lúcia, gestora da unidade há 11 anos.

O acúmulo dessa experiência permite que hoje a escola comemore o fim da evasão escolar e seja reconhecida como a segunda melhor instituição pública do município, com Ideb de 7,4.

Educação compartilhada

Na opinião da diretora, o programa de educação integral trouxe uma mudança estrutural para a dinâmica escolar. Os professores, juntos com a gestão, dedicam-se a pensar o currículo de forma integrada, elaborando todas as atividades e aulas distribuídas pela jornada ampliada.

“Agora, nossos professores passam o dia na escola e isso faz com que eles conheçam mais os estudantes e deixem de pensá-los de maneira fragmentada. A responsabilidade pela aprendizagem passou a ser compartilhada por todos, por exemplo, a alfabetização não recai mais só sobre a professora do 1º ano”, conta Lucia.

A mudança, segunda ela, também contribuiu para diminuir a alta rotatividade verificada na época dos oficineiros, devido aos baixos salários oferecidos. Segundo Lucia, a secretaria dobrou os salários para que os docentes pudessem atuar por mais horas.

A escola oferece um total de nove atividades diversificadas: teatro, iniciação ao pensamento científico, iniciação à filosofia, dança, jornal e rádio escolar, educação ambiental, leitura e produção de texto, inglês, telecentro (informática). Lúcia enfatiza a preocupação da unidade em integrar essas atividades ao currículo.

Comunidade escolar educativa

Ainda dentro da perspectiva de compartilhar as responsabilidades pelo ensino-aprendizagem, a escola oferece tutorias que buscam orientar e incentivar os estudantes em seus projetos de vida. Semanalmente, as turmas têm encontros com seus mediadores para criarem um planejamento e preverem a execução de cada etapa. A tutoria é feita por toda a comunidade escolar: merendeiras, porteiros, funcionários ligados a serviços gerais, professores e pessoas ligadas a gestão. Todos podem ser tutores.

Metodologia
A escola Waldir Garcia orienta as suas práticas pedagógicas para a educação integral e busca dialogar com a multidimensionalidade dos estudantes. Um dos instrumentos presentes no planejamento pedagógico da escola é a mandala, representação simbólica que apresenta uma proposta pedagógica de articulação, integração e interação de saberes escolares e saberes locais, entre a escola e a comunidade.

Estudantes apresentam mandala durante visita guiada de pais na escola.

Estudantes apresentam mandala durante visita guiada de pais na escola.

Crédito: Divulgação

“O objetivo aqui não é dar reforço relacionado a conteúdo, mas conhecer a vida desse estudante, sua família, seus problemas, essencial a cada ator escolar”, defende Lúcia. Esse planejamento é feito a cada início de ano, e revisitado mensalmente por todos os funcionários. “Isso é uma maneira de envolver e responsabilizar todos pelo projeto político pedagógico da escola”, comenta a gestora.

Movimento participativo e democrático

A dinâmica também faz parte de um movimento em curso na escola de repensar o modelo de gestão. Lúcia, que já atuou em modelos tradicionais que tendem a centralizar as decisões na figura do gestor, vem se esforçando por descentralizar os processos e promover uma gestão democrática.

Hoje, a escola conta com espaços democráticos instituídos e que permitem a voz dos estudantes e de toda a comunidade escolar. Todas as sextas feiras, por exemplo, ocorrem as assembleias gerais durante uma hora onde a escola debate e toma decisões conjuntas sobre problemas relatados durante a semana. Esse momento é precedido pelas pré assembleias realizadas nas turmas que elegem seus representantes e as pautas para a sessão final.

Flexibilização de processos

O repensar de alguns processos dentro da escola também contribuem para um projeto que busca atender cada estudante em sua integralidade. Uma decisão se deu acerca do mobiliário. As salas de aula não contam mais com as tradicionais carteiras.

Elas foram trocadas por mesas redondas que promovem a integração das crianças nas salas de aula. “Elas trabalham em grupos heterogêneos de cinco integrantes e não mais enfileiradas como antes”, conta a gestora escolar, que também assume ter lidado com alguma resistência por parte de sua equipe. Um dos problemas relatados, por exemplo, era que, na disposição, algumas crianças ficariam de costas para a lousa.

“E a ideia era essa mesmo, que a lousa passasse a figurar mais como um elemento decorativo. Não queremos mais o professor “giz e lousa”, mas um mediador, que circule por entre os estudantes, converse com cada um deles e oriente na construção do conhecimento”, esclarece Lucia.

Para ela, a dificuldade de alguns professores em aceitar a proposta reflete ainda uma educação que não foi pautada para a autonomia estudantil. “Não estamos acostumados com crianças que discutem em sala de aula. Quando elas falam é barulho, indisciplina. E quando se trabalha em grupo, o aluno conversa, levanta, circula. Ele deve ter essa abertura”, reconhece Lucia.

Ela ainda elenca um esforço da unidade por melhorar a comunicação em seus espaços. Na escola, o tradicional sinal que marca a transição das aulas foi trocado por música e as filas que pressupõem a organização dos alunos para circular foram abolidas, dando lugar a livre circulação e a compreensão de cada um do momento ideal para estar em sala de aula.

Contato:
Escola Municipal Waldir Garcia
Telefone: (92) 3215-2210
Facebook da escola

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