Em Turim, na Itália, escolas adotam monumentos para se aproximar de suas comunidades

Publicado dia 04/03/2015

Você saberia dizer o que representa cada patrimônio histórico de sua cidade? Ou que relação eles têm com a memória do território? Na cidade italiana de Turim, com cerca de 140 mil habitantes, essas descobertas foram designadas às escolas de educação primárias e secundárias pelo entendimento de que essa relação aproximada com a cidade pode ampliar a oferta de aprendizagem dos alunos – em uma perspectiva integral – a partir de maior entendimento sobre as localidades, estímulo ao senso identitário e de pertencimento  e ao envolvimento ativo de crianças e jovens em suas comunidades.

Essa ideia é o que sustenta o projeto La scuola adotta um monumento (A escola adota um monumento), criado em 1995, pela Fondazione Napoli Novantanove de Nápoles. Inicialmente localizada nas escolas da cidade, a iniciativa se replicou para outras regiões italianas. Em Turim, a responsabilidade pelo desdobramento é da Instituzione Torinese por una Educazione Responzabile (ITER).

Pelo protagonismo infanto juvenil

Cada escola de Turim que participa do projeto deve adotar um monumento histórico da cidade pelo período de três anos. Essa aproximação conta com a mediação de professores, mas confere uma liberdade de atuação aos alunos para que eles se tornem protagonistas da trilha de aprendizagem visto que, para cuidar dos elementos e transmitir a sua importância à comunidade, necessitam realizar pesquisas de fundo histórico, social e ambiental, além de desenharem um plano de ações para o resgate de suas memórias e papel no território.

Alunos do município de Mérida, na Espanha, participam de ato no Teatro Romano, como fechamento do projeto. Créditos: Europa Press

Alunos do município de Mérida, na Espanha, participam de ato no Teatro Romano, como fechamento do projeto. Créditos: Europa Press

As atividades para ressignificá-los lançam mão de eventos, mostras e visitas guiadas, todas propostas e executadas pelas crianças e adolescentes, que contam com acompanhamento pedagógico de suas equipes escolares. A dinâmica também permite a troca de experiências com alunos de outras unidades, já que cada uma delas tem um monumento sob sua responsabilidade. De  igrejas a museus, palácios históricos a fontes ou estátuas e até mesmo ruas e praças, os elementos podem variar, desde que se tenha reconhecimento de seu significado histórico e afetivo para a comunidade em que se situa.

Metodologia

A iniciativa organizada em Turim tem objetivos claros relacionados à ampliação da aprendizagem para além do contexto escolar, ao fortalecimento da cidade como território educativo, e da cidadania responsável, que faz uso de um legado histórico para promover o respeito ao espaço público e senso de identidade nas esferas individuais e coletivas.

Para tanto, há uma metodologia de trabalho para ancorá-los. Embora a adoção dos monumentos seja acordada entre as equipes escolares e da ITER, são os alunos que apontam aqueles pretendidos. As escolas de educação primária tendem a trabalhar os mais próximos ao seu entorno, maneira encontrada para desenvolver o senso de pertencimento à localidade e agregar valor na relação com a cidade. Já as de educação secundária, buscam os localizados no centro histórico, forma encontrada para dialogar com os conteúdos vistos no currículo escolar.

Em outros territórios

badajoz

Créditos: Europa Press

Na província espanhola de Badajoz o projeto também acontece. Por lá, uma das escolas resolveu adotar a ponte Romano y el Rollo e, pela atitude, ganhou o nome de seu arqueólogo fundador Maximiliano Macías, em 2013. A comunidade escolar foi condecorada com a visita dos familiares de Macías, em 2014. A mensagem de um de seus bisnetos, José Ramón Permanyer Fernández, foi para que os alunos se animassem a estudar e se interessassem por descobrir coisas sobre a vida, para que possam ampliar seus conhecimentos.

(Com informações do Europa Press)

Os professores envolvidos com o desdobramento da experiência de Turim recebem apoio formativo da ITER. As instituições responsáveis pelos monumentos também se corresponsabilizam pela construção de conhecimento e oferecem encontros regulares aos docentes para apoiá-los no embasamento do ponto de vista histórico.

O percurso é pensado em fases ao longo dos três anos. No primeiro deles, a ideia é que os alunos estudem o monumento e o conheçam a partir de seus vários aspectos, histórico-iconográfico, urbanístico-ambiental, social; essa fase de pesquisas é acompanhada e estimulada pelos docentes escolares. Feito isso, cada escola fica responsável por desenvolver um plano de ação e instrumentos de difusão capazes de mobilizar a comunidade para a importância daquele bem patrimonial.

No segundo ano, há a promoção de interações entre as escolas que aderem ao projeto, visto que cada uma delas tem um percurso de aprendizagem bastante específico, delimitado pelo monumento adotado. As turmas marcam encontros, trocam material de pesquisa e organizam visitas aos locais para trocar as experiências vivenciadas.

Até o fim do projeto, as escolas tornam-se referência cultural e simbólica da manutenção do monumento e se encarregam de apresentá-lo não só às demais escolas, mas em caso de qualquer manifestação pública que o considere como objeto. Outro ponto importante é que, após a apropriação, os alunos podem direcionar suas ideias aos gestores municipais caso enxerguem a necessidade de qualificar o território em que o elemento está inserido, buscando fortalecer a sua integração e valorização pela comunidade. As propostas são avaliadas e, se validadas, são postas em prática, incentivando crianças e alunos a desenvolverem uma postura ativa, crítica e participativa.

Como forma de apresentar toda a trilha educativa aos moradores da cidade, o projeto conta com um evento chamado Turim de Portas Abertas, momento em que os alunos, no papel de guias, apresentam os monumentos adotados, o porquê da escolha, e sua representatividade do ponto de vista histórico, social e urbanístico.

Principais resultados

Desde a sua formatação, o projeto se expandiu para mais de 80 cidades italianas, e também chegou a alguns territórios europeus. Somente entre os anos de 2013 e 2014, na cidade de Turim, mais de 49 momentos foram adotados por 45 centros educativos, o que implica na participação ativa de mais de 3 mil alunos.

A iniciativa vem se tornando uma sólida estratégia para motivar os professores na construção de uma aprendizagem autônoma, de fortalecer os alunos como protagonistas desses percursos e as famílias e comunidade como potenciais formadores em conjunto com as escolas, visto o conhecimento que também adquirem sobre os elementos, e que podem replicar.

O trabalho de sensibilização já possibilitou a reabilitação de diferentes bens patrimoniais na cidade de Turim, como do Mausoleo della Bella Rosin, que é utilizado frequentemente para exposições; a recuperação de parte da praça Vittorio Veneto, da igreja barroca de Santíssimo Salvador, dos banheiros públicos de Borgo San Paolo.

Embora esbarre em alguns problemas econômicos que dificultam a continuidade do programa, principalmente em relação ao desenvolvimento de materiais de divulgação, a iniciativa quer dialogar com outros atores da cidade para aumentar a sinergia com os territórios e ganhar ainda mais visibilidade. A ideia é que o movimento seja percebido como de toda a cidade e não somente das escolas. Para tanto, é fundamental contar com o apoio de formadores de opinião que possam pautar essa discussão com mais profundidade.

Contatos:
Instituzione Torinese por una Educazione Responzabile (ITER)
Site: http://www.comune.torino.it/iter/
Email: [email protected]
Telefone: 39 0114429104

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