Conheça boas práticas de alfabetização no Ensino Fundamental durante a volta presencial à escola

Publicado dia 18/07/2022

Embora a Educação Infantil não tenha o objetivo de alfabetizar as crianças formalmente, o trabalho pedagógico desenvolvido na etapa apoia a adaptação à rotina escolar e a alfabetização propriamente dita no começo do Ensino Fundamental. Para as crianças que não puderam vivenciar a Educação Infantil por causa do fechamento das escolas durante a pandemia, há um trabalho a mais a ser feito e práticas pedagógicas significativas e contextualizadas podem ajudar, como mostram as experiências de duas professoras que lecionam para o 1º ano.

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Geisla Lima, professora na EMEB Professora Marina de Almeida Rinaldi Carvalho, em Jundiaí (SP), percebeu que os estudantes não sabiam lidar com a rotina escolar, os materiais e tinham dificuldades de se relacionar com os colegas e a professora, além de uma grande diversidade no nível de alfabetização entre os estudantes. “Mas notei que eles chegaram com muita vontade de aprender”, diz a professora que agora, após seis meses de trabalho, já conta com metade dos 32 estudantes alfabéticos.

“Eles chegaram com muita vontade de aprender”, conta a professora Geisla.

Uma das principais dificuldades da turma era cuidar dos pertences individuais e coletivos. Por isso, a educadora propôs que organizassem os materiais em caixas e listassem o que havia dentro de cada uma delas. Eles também elaboraram um cartaz de referência com a quantidade de cada um dos materiais e, todos os dias, os ajudantes de sala eleitos são responsáveis por checar os materiais e as quantidades, trabalhando os aspectos iniciais da Matemática. “É um trabalho de autonomia e responsabilidade para eles, também”, afirma Geisla.

Outra atividade foi convidar as crianças para um passeio pela escola para que elas fizessem fotos do que mais chamasse sua atenção. Depois, o desafio foi legendar as imagens. Para tanto, a professora contou que as fotos seriam expostas em um mural na reunião com as famílias e, por isso, seria necessário que elas tivessem legendas. “Conversamos sobre o que é a reunião, como seria esse mural e qual sua finalidade, assim eles compreenderam a função social dessas legendas”, relata. 

Em seguida, exploraram e descreveram cada uma das fotos. Os principais termos levantados foram utilizados para formar uma nuvem de palavras. Em duplas, os estudantes foram desafiados a criar as legendas e, depois, corrigiram a ortografia coletivamente. As legendas foram impressas e distribuídas entre a turma, que deveria buscar a foto correspondente a partir do texto. Por fim, montaram o mural.

Confira o livro virtual que a professora Geisla criou com as crianças, responsáveis pelo design e por elaborar as legendas, digitá-las.

Agora, a professora está explorando junto com a turma as diversas infâncias brasileiras. “Eles quiseram começar com o Pantanal. Então peguei o álbum de uma jornalista que passou um tempo lá retratando a infância, mostrei para a turma sem as legendas e fomos analisamos as imagens”, conta Geisla. 

Depois, leram juntos a reportagem para entender quem eram as crianças, o que estavam fazendo e o nome da jornalista. Em seguida, a professora criou uma brincadeira parecida com a atividade do mural, mas com um desafio a mais: “Contei que a legenda tem origem no jornal e brinquei com eles que aconteceu um problema e as legendas das fotos da reportagem sumiram e agora eles precisavam ajudar a repórter”. 

A professora imprimiu as legendas originais e adicionou outras, que não tinham relação com o tema. Colocou todas em um envelope e pediu para a turma fazer a correspondência entre legenda e imagem. “Enquanto isso, fomos conversando sobre como são as escolas no Pantanal, as brincadeiras e a cultura local. Agora, vamos para o Cariri e depois pretendo montar um álbum virtual com as brincadeiras da nossa região”, conta a educadora.

Camila Mendes, que leciona na EMEB Anna Rita Alves Ludke, também em Jundiaí (SP), notou um cenário parecido com o de sua colega: “Alguns estudantes estavam alfabéticos, mas outros não sabiam nem as letras do próprio nome”, conta Camila.

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Um dos estudantes da professora Camila escrevendo o cardápio do dia na lousa.

Crédito: Camila Mendes

O trabalho começou com parlendas, textos ritmados de fácil compreensão e memorização, e conversas sobre o que é escrever. Depois, começaram a usar listas com funções no dia a dia, como as brincadeiras favoritas da turma para realizarem na hora do intervalo. Outra atividade que tem apoiado a turma é a escolha de dois ajudantes do dia que têm a função de ir ao pátio ler o cardápio da merenda e registrar na lousa para que os demais estudantes saibam as opções do dia. 

Todos os dias, a professora também escreve na lousa a rotina do dia, não só para ajudar os estudantes a se organizarem e se localizarem no tempo, mas também para ajudar na escrita. “Estávamos fazendo uma lista dos doces favoritos da turma e um menino queria escrever ‘gelatina’. Por já conhecer a palavra ‘rotina’, escrita na lousa todos os dias, ele conseguiu fazer a associação e escrevê-la”, relata Camila. 

A turma também tem trabalhado com legendas de fotos da família e de paisagens e bilhetes que possuam uma função social. “Quando vamos perguntar para a coordenadora pedagógica se podemos utilizar a quadra, por exemplo, eles escrevem o bilhete”, menciona a educadora que agora prepara atividades envolvendo a escrita por meio do WhatsApp, ferramenta digital que já começa a fazer parte do dia a dia das crianças.

Em relação à leitura, ela procura representar o papel de leitora para a turma, a fim de incentivar que eles também leiam, além de proporcionar um momento de fruição da história para os estudantes. A educadora também costuma propor atividades que eles façam uma leitura espontânea, que leiam histórias para as famílias e também tentem escrever textos de memória. 

Para fazer todos os 28 estudantes avançarem e ter mais da metade deles alfabéticos, Camila conta que promover diferentes agrupamentos tem sido fundamental. “Às vezes coloco crianças com hipóteses parecidas juntas, outras vezes as divergentes, sejam em duplas ou grupos, e tem muito resultado. Mas sempre procuro uma disposição de mesas que favoreça as trocas, porque eles aprendem muito uns com os outros”, afirma a educadora.

Confira um debate sobre alfabetização no contexto atual, com a participação da professora Geisla Lima e Tereza Perez, diretora-presidente da Comunidade Educativa Cedac:

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