publicado dia 05/12/2025
“Aqui meu filho aprendeu”: comunidade reage a mudanças na EMPoeint, referência em inclusão e Educação Integral
Reportagem: Ingrid Matuoka | Edição: Tory Helena
publicado dia 05/12/2025
Reportagem: Ingrid Matuoka | Edição: Tory Helena
🗒️ Resumo: A Escola Municipal Polo de Educação Integrada (EMPoeint), em Belo Horizonte (MG), é reconhecida por seu projeto pedagógico inovador, que depende da estrutura da unidade. No fim de novembro, a Secretaria Municipal de Educação determinou a mudança da escola para um novo edifício. Famílias relatam avanços decisivos no desenvolvimento de seus filhos e apontam falta de diálogo sobre a decisão.
“A EMPoeint fez uma diferença imensa para mim. Essa escola abre portas que nenhuma outra pode abrir. Não quero rebaixar as outras, mas aqui eu aprendi o que nas outras eu não aprendi. Além de ter várias matérias diferentes, a gente aprende esportes, sobre a raça negra e a vida. E não é em sala com carteira enfileirada, é ao ar livre, no gramado, é em um salão de conhecimento onde aprendemos com outras pessoas, não só com os professores. Essa escola ensina a falar e a conviver com os outros”.
Este é o relato de Miguel, 14 anos, que estuda há três anos na Escola Municipal Polo de Educação Integrada (EMPoeint), escola cujo projeto agora está ameaçado. Sua mãe, Derminda Justiniano, reforça a importância da escola para o filho:
“Antes ele não conversava com ninguém, hoje ele tem amigos e ama esportes”, diz Derminda Justiniano
“Cheguei chorando na EMPoeint porque meu filho estava sofrendo muito nas outras escolas da própria rede, onde ninguém buscava entender por que ele não aprendia. Ele tem dificuldades de aprendizagem e até o 6° ano não sabia ler e escrever. Mas na EMPoeint ouviram ele, suas necessidades, e aqui meu filho aprendeu a ler, escrever, se defender e respeitar outras crianças. Antes ele não conversava com ninguém, hoje ele tem amigos e ama esportes”, relata Derminda.
O trabalho realizado pela escola, contudo, pode estar com os dias contados. No final de novembro, a Secretaria Municipal de Educação de Belo Horizonte (MG) publicou no Diário Oficial do município a Portaria nº 407/2025, que altera sua localização para um novo edifício. Não há qualquer menção sobre manter a Educação Integral ou o modelo pedagógico atualmente desenvolvido na EMPoeint na portaria.
Questionada pelo Centro de Referências em Educação Integral, a Prefeitura informou que o modelo pedagógico diferenciado será mantido, porém adaptado ao novo espaço e público atendido. Até a publicação desta reportagem, o órgão não explicou como será o formato do novo prédio.
A questão preocupa porque o projeto pedagógico da escola é intimamente ligado à sua infraestrutura. Para promover a aprendizagem de forma coletiva, colaborativa e com o protagonismo dos estudantes, a escola conta com amplos salões. Neles, crianças e adolescentes dividem mesas para realizar seus roteiros de estudos e os professores circulam para mediar a aprendizagem.

Salão onde estudantes aprendem juntos.
Crédito: EMPoeint/Acervo pessoal
Não há provas, seriação ou aulas expositivas. Para promover o desenvolvimento integral e acompanhar a aprendizagem de forma individualizada em todas as suas dimensões, não apenas cognitiva, os professores e monitores propõem oficinas e atividades variadas que dependem dos espaços da unidade.
Nos 10 mil m² construídos há piscina, quadras esportivas, campo de futebol, auditório, biblioteca comunitária, salas destinadas às oficinas, laboratórios de informática e estúdio de rádio. Nos 35 mil m² de área verde com gramados e tendas, os estudantes aprendem e convivem entre si e com a natureza.
Os amplos espaços também favorecem a gestão democrática, já que reunir toda a escola em assembleias para tomar decisões coletivas é prática recorrente na unidade, e também a realização do tempo integral com qualidade, para não aprisionar os estudantes em ambientes fechados o dia inteiro.
A Prefeitura também informou que a mudança “tem como objetivo garantir melhores condições de infraestrutura, ampliando a capacidade de atendimento da unidade”. Atualmente, a EMPoeint atende cerca de 175 estudantes dos Anos Finais do Ensino Fundamental e Educação de Jovens e Adultos (EJA).
“Se a escola está com poucos alunos, por que não traz mais gente para cá?”, indaga Irene Beatriz da Silva. Ela é mãe de Pedro, 14 anos, que estuda na escola há três anos, e têm uma experiência similar à de Derminda e Miguel na unidade.
“Nas outras escolas meu filho não conseguia aprender, fazer as atividades e nem permanecer em sala de aula. Aqui a metodologia de ensino consegue atender as necessidades dele, que tem dificuldade de aprendizagem e autismo. Ele ama a escola, passou a amar estudar, as oficinas de robótica e de circo, e por causa disso teve ganhos motores e na socialização. Perder o espaço físico vai mudar o formato da escola”, lamenta Irene.

Estudantes da EJA fazem atividade em meio à natureza na EMPoeint
Crédito: EMPoeint/Acervo pessoal
“Essa decisão é arbitrária e autoritária. Como podem não conversar com quem está no dia a dia para saber se essa ideia é viável, se a gente quer, quais são os impactos que vão causar?”, questiona.
Diante do cenário incerto, um abaixo-assinado em defesa da escola foi criado na plataforma Change.org. Até o momento, o documento já reuniu 2,3 mil assinaturas.
Além da comunidade escolar afetada diretamente pelas mudanças, a EMPoeint também recebeu manifestações de solidariedade e apoio do Grupo Territórios, Educação Integral e Cidadania (TEIA), da Faculdade de Educação da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG).
Outro gesto de apoio foi realizado pelo programa global de pesquisa-ação Escolas 2030. Em manifesto publicado no site da iniciativa, o Escolas2030 destacou a relevância do projeto da EMPoeint para a Educação Integral no Brasil.