publicado dia 15/10/2025
Relatório do novo Plano Nacional de Educação (PNE) defende mais recursos e equidade
Reportagem: Ingrid Matuoka | Edição: Tory Helena
publicado dia 15/10/2025
Reportagem: Ingrid Matuoka | Edição: Tory Helena
🗒 Resumo: O relatório do novo Plano Nacional de Educação (PNE) foi apresentado na última terça-feira (14/10) na Câmara dos Deputados pelo relator Moses Rodrigues (União – CE). Entre outros pontos, o deputado federal destacou que, para sair do papel, o novo PNE exigirá investimentos de 280 bilhões de reais até 2035. Na reportagem, Carolina Canegal (Observatório da Branquitude) analisa a proposta e destaca a importância de que a ampliação do Tempo Integral nas escolas seja acompanhada da concepção de Educação Integral.
Promover no Brasil uma Educação de qualidade, com equidade, vai demandar 280 bilhões de reais até 2035. Essa é a estimativa de recursos necessários para a execução do novo Plano Nacional de Educação (PNE).
O cálculo detalhado de como será feito o custeio foi apresentado nesta terça-feira, 14 de outubro, pelo relator do Projeto de Lei do Plano (PL 2614/24), deputado Moses Rodrigues (União-CE), durante sessão na Câmara dos Deputados.
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O parecer segue em discussão na Comissão Especial antes da votação. Os parlamentares terão cinco sessões do Plenário da Câmara para propor alterações. A expectativa é de que a análise seja concluída até o início de novembro e que o projeto seja apreciado pelo Senado até o fim do ano.
Uma das novidades é a inclusão do financiamento como o 19º objetivo do Plano. A proposta original do governo federal previa 18. “Isso é fundamental porque o financiamento é o que viabiliza o Plano”, destaca Carolina Canegal, coordenadora de pesquisa do Observatório da Branquitude.
O relatório estima que, ao término dos dez anos, o Plano representará um custo equivalente a 11% do PIB nacional, sendo 7,5% provenientes de investimentos públicos e subsídios, e 3,5% oriundos da iniciativa privada.
“A conquista de 11% do PIB é uma demanda histórica. Mas é preciso cautela em relação ao modelo de composição que envolve recursos privados. A Educação é um campo de disputa de projeto de sociedade antiga e será necessário observar como será feito o controle social da qualidade”, pontua Carolina.
O que diz a meta sobre Educação Integral em tempo integral? Garantir a oferta de matrículas de tempo integral na perspectiva da educação integral, com, no mínimo, sete horas diárias ou trinta e cinco horas semanais, preferencialmente em turno único em, no mínimo, 55% (cinquenta e cinco por cento) das escolas públicas, de forma a atender pelo menos 40% (quarenta por cento) dos estudantes da Educação Básica até o final da vigência deste PNE.
A garantia de verbas também é fundamental para dar condições às redes educacionais de implementarem a meta 6 do Plano, que visa ampliar a jornada escolar a partir da concepção de Educação Integral.
A proposta, portanto, é que as crianças e adolescentes passem mais tempo na escola, mas não apenas, e possam aprender no território, em comunidade e em diálogo com os saberes locais. Ainda, que a aprendizagem se dê a partir de linguagens e metodologias variadas e que supere a lógica de turno e contraturno, integrando o currículo.
“A sociedade vem tensionando a ampliação do tempo e é fundamental que essa implementação aconteça de fato a partir dessa concepção, essencial para nosso país”, afirma Carolina.
Os recursos do PNE deverão financiar a ampliação das redes municipais e estaduais, com construção de novas unidades e investimento em tecnologia. E parte do montante total será destinado a corrigir defasagens históricas da infraestrutura escolar, como quadra, banheiro, cozinha e espaços de lazer.
Há ainda metas específicas voltadas à Educação escolar indígena, do campo e quilombola, e à Educação bilíngue de surdos, com o objetivo de melhorar a qualidade e reduzir as desigualdades regionais.
Acesse os materiais gratuitos do Observatório da Branquitude sobre PNE e equidade:
Equidade para quem? Análise do PNE
As emendas anti-equidade ao novo PNE
Caderno PNE Antirracista
“A equidade é um conceito norteador desse PNE. Precisamos que a Educação crie mecanismos e políticas que de fato produzam igualdade de oportunidades para públicos diferenciados”, afirma Carolina.
O Observatório da Branquitude acompanhou de perto a discussão do PNE e produziu uma série de estudos sobre equidade, defendendo a nomeação específica de raça, território, gênero e renda para quem a equidade se destina, e as propostas de emendas ao Plano que ameaçavam a equidade, em relação à participação social, formação docente e implementação da Educação para as Relações Étnico-Raciais.
“As emendas não passaram e a população negra foi nomeada como destinatária da política. Então não apenas não retrocedemos, como avançamos, ainda que essa nomeação precise ser melhor detalhada em alguns pontos”, explica Carolina.
“É uma conquista na agenda do clima”, diz Carolina Canegal
O novo Plano Nacional de Educação traz outra novidade em relação ao anterior. Com o avanço da crise climática pelo mundo, a sociedade pediu durante a Conferência Nacional de Educação e outras audiências pela inclusão no Plano da Educação Ambiental e do enfrentamento e adaptação às mudanças do clima, que agora estão contemplados em diferentes metas e estratégias.
“É uma conquista na agenda do clima e essa precisa ser uma prioridade no planejamento dos Estados e municípios. Com atenção especial às populações desproporcionalmente afetadas pelas ondas de calor, enchentes, secas, falta de áreas verdes e precariedade da infraestrutura, que ainda falta nomear no novo texto”, afirma Carolina.
O novo PNE define 19 objetivos a serem alcançados até 2035. Cada um deles é acompanhado por metas e estratégias que permitirão o monitoramento dos avanços, com ações integradas entre União, estados, Distrito Federal e municípios.
O texto também estabelece um calendário de responsabilidades entre União, estados e municípios, determinando claramente as atribuições de cada ente federado.
O acompanhamento das metas será feito por meio de dois instrumentos principais. O primeiro é o Plano da Educação, um documento de longo prazo que estabelece as metas e diretrizes gerais. O segundo são os Planos de Ação, elaborados a cada dois anos pela União, Estados e municípios, com metas intermediárias e indicadores locais para monitorar a execução do Plano.
“A construção de metas intermediárias, não só as finais, é um aspecto importante para corrigir rotas e alterar o que for necessário em prol de garantir uma Educação de qualidade para todas as pessoas”, explica Carolina.
*Foto: Vinicius Loures/Agência Câmara de Notícias