Projeto de EJA itinerante alfabetiza adultos e idosos em Lajedo do Tabocal (BA)
Publicado dia 17/09/2024
Publicado dia 17/09/2024
🗒️ Resumo: As casas, praças e locais de trabalho de adultos e idosos de Lajedo do Tabocal (BA) passaram a ser também suas salas de aula, desde a criação do Programa EJA Itinerante (PEJAI) pela Secretaria Municipal de Educação, uma forma de combater as altas taxas de analfabetismo da cidade, em contraste com a baixa frequência escolar da EJA.
As roças, fazendas e fábricas de Lajedo do Tabocal, no interior da Bahia, estavam repletas de adultos e idosos trabalhadores que desejavam aprender a ler e escrever. Mas diante de suas rotinas exaustivas e longos percursos por estradas de terra, frequentar uma escola de Educação de Jovens e Adultos (EJA) era inviável.
No município, 28,3% da população é analfabeta, de acordo com o Censo de 2010, último dado disponível. A taxa brasileira à época era de 9,6%.
Para garantir a essas pessoas o direito à Educação, a Secretaria de Educação do município criou o Projeto EJA Itinerante (PEJAI) em 2021. Professoras de escolas de EJA da rede atendem cerca de 25 estudantes por semana em suas residências, locais de trabalho ou outros pontos de encontro individuais e, por vezes, coletivos.
O acompanhamento pedagógico individualizado dura uma hora e pode ser realizado pela manhã ou à noite. Além disso, há dois encontros coletivos semanais na escola, residências, praças ou outro lugares da cidade, com duração de 2h30.
“Entrevistamos essas pessoas e perguntamos se eles estudariam se a professora fosse até a casa deles. A maioria são idosos e disse que sim. A aceitação foi boa e nos últimos dois anos alfabetizamos 600 alunos”, relata Jutália Souza Fontana, coordenadora pedagógica do PEJAI.
Para contribuir com as condições para essas pessoas continuarem estudando, o programa também oferece, além do lanche nas aulas coletivas, uma cesta básica por mês, essencial em um município onde a renda per capita média não chega a dois salários mínimos.
Hoje, 11 escolas participam do PEJAI. Cada uma delas construiu o Projeto Político Pedagógico do programa a partir de seus próprios contextos e demandas, envolvendo a comunidade escolar.
“Tem que ser contextualizado à realidade de cada escola, para que de fato esse programa possa contribuir com a vida desses indivíduos dentro e fora da escola, com suas vivências no dia a dia, e para que seja uma troca de experiências entre professores e estudantes”, afirma Jutália.
Maria da Guia Silva dos Santos é uma das professoras que participa do programa. A educadora conta que para alfabetizar essas pessoas, que tiveram o direito à Educação e outros tantos negados, é preciso muita pedagogia, mas também muita sensibilidade.
“Eles têm vergonha, ansiedade, ficam tremendo quando vão escrever o próprio nome. Então fazemos artesanato, bingo, jogos e palestras para ensinar e descontrair ao mesmo tempo, mas também conversamos muito”, diz a professora, que também busca ajuda intersetorial da Saúde e Assistência Social para que os estudantes tenham condições de permanecer aprendendo.
Uma casa de farinha, onde um pequeno grupo de estudantes foi formado, se tornou palco de trocas de saberes. Os adultos e idosos explicaram para a professora sobre a produção da farinha, as ervas e seus usos e as histórias locais.
A partir desse material vivo, Maria atrelou aos conteúdos curriculares de Ciências, Matemática e História. “É possível aproveitar seus valores, seus conhecimentos ancestrais, para dar oportunidades de eles estudarem e conseguirem outros trabalhos”, afirma.
“Muitos deles já conseguem ir ao mercado sozinhos. Dá muita alegria ver essas conquistas, o entusiasmo que eles têm de aprender, quando conseguem ler e escrever”, comemora a professora Maria.