Terra de Macunaíma pede socorro: conheça o projeto sobre garimpo ilegal da EJA
Publicado dia 08/04/2024
Publicado dia 08/04/2024
Resumo: Conheça o projeto “Terra de Macunaíma pede socorro”, da EM Francisco de Souza Bríglia, em Boa Vista (RR), em que estudantes da Educação de Jovens e Adultos (EJA) produzem conhecimentos sobre os impactos do garimpo ilegal para a natureza e seus trabalhadores, e levam o debate para além dos muros da escola. A iniciativa é uma das vencedoras do 7º Prêmio Territórios Tomie Ohtake.
Em Roraima, o garimpo ilegal tem presença maciça: está nas invasões a territórios indígenas e de preservação ambiental, bem como na contaminação das águas, solo, ar e dos próprios garimpeiros por mercúrio.
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Na sala de aula da professora Shirlei dos Santos Catão, que leciona para os anos iniciais do Ensino Fundamental da Educação de Jovens e Adultos (EJA), na EM Francisco de Souza Bríglia, em Boa Vista (RR), as histórias de quem é afetado pela atividade ilegal são corriqueiras.
Os ex-garimpeiros e seus familiares relatam problemas de saúde, maus-tratos, negligência, violências e até mortes devido ao garimpo ilegal, recurso utilizado por parte da população para sobreviver à falta de emprego e outras políticas públicas. “Eles buscam a escola para tentar ter uma oportunidade de emprego melhor”, relata a professora Shirlei.
Parte da realidade de sua turma, o tema virou objeto de estudo em 2023. O objetivo era promover a alfabetização dos adultos de forma próxima à capacidade de ler também o mundo que os rodeia, como propôs Paulo Freire.
“Eles ficaram encantados de ver a realidade deles na escola. Então investigamos as consequências para o meio ambiente, mas também para os indígenas, os trabalhadores do garimpo, como a questão do trabalho infantil, já que muitas mulheres têm que levar seus filhos para o campo”, relata Shirlei sobre o início do projeto “Terra de Macunaíma pede socorro!”.
A iniciativa, que envolveu estudantes de 16 a 75 estudantes, muitos deles ex-garimpeiros ou familiares, imigrantes, refugiados e indígenas, é uma das vencedoras da 7ª edição do Prêmio Territórios, do Instituto Tomie Ohtake, realizada em parceria técnica com a Cidade Escola Aprendiz e o Centro de Referências em Educação Integral.
A turma começou estudando o noticiário local e debatendo as vivências próprias com a questão. “Ouvimos músicas de cantores regionais que falam sobre isso e isso inspirou um dos estudantes a compor uma música. Também lemos textos reflexivos e reportagens, entre elas, uma que mostra o peixe-cachorro, o mais consumido por nós, e também o mais contaminado por mercúrio”, explica a professora.
Depois, foram estudar um igarapé no bairro da escola, que não é mais utilizado devido à contaminação, e analisaram a água do rio Branco, que corta todo o estado de Roraima.
“Foi muito bom participar desse projeto, porque temos que ter mais cuidado com o meio ambiente e com os garimpeiros, que tem tanta dificuldade de conseguir outro emprego”, conta a estudante Oriannys Josefina Alejandro Zambrano.
Após uma mostra cultural na própria escola sobre o tema, a turma levou o debate para a rua, em uma feira municipal no centro de Boa Vista. “Queremos sensibilizar a comunidade sobre isso, levar esse conhecimento para as famílias, para a população”, diz Shirlei.
Para Edneia Gonçalves, uma das avaliadoras do Prêmio Territórios e coordenadora executiva adjunta da Ação Educativa, o projeto prima por aproximar a alfabetização de temas urgentes para Boa Vista e o Brasil todo.
“É a EJA mais uma vez provando que a experiência de vida dessas pessoas, a vida vivida, cotidiana, é que traz pistas para pensarmos o futuro. É um tipo de projeto que faz com que se concretize isso, que promove aprendizagens significativas e transforma as realidades territoriais e de seus viventes”, afirma Edneia.
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