Educação Infantil: Conheça 3 experiências de acolhimento de bebês e crianças
Publicado dia 08/02/2024
Publicado dia 08/02/2024
🗒️ Resumo: Receber bebês e crianças novas na Educação Infantil pode ser um desafio no começo do ano. Conheça o trabalho realizado por três unidades para acolher bebês e crianças, bem como suas famílias e as professoras, conquistar a autonomia dos pequenos em ficarem sozinhos na unidade e como ampliar a jornada para o tempo integral.
A separação de um bebê ou criança da família para ficar na Educação Infantil pode ser traumático para os pequenos – mas também complicada para suas famílias e educadoras.
Leia + Choro não é birra: A importância de ouvir os pequenos durante o acolhimento na Educação Infantil
Na foto, bebês do CMEI Fúlvia Rosemberg, em Maceió (AL), participam de vivência proposta pela educadora de referência Wedja Ramos.
Para inspirar outras unidades de Educação Infantil a pensarem diferentes dimensões do seu trabalho no começo do ano, o Centro de Referências em Educação Integral ouviu 3 experiências de creches e pré-escolas que têm conseguido acolher bebês e crianças recém-chegados de forma cuidadosa.
Para tanto, planejam como será a chegada das turmas, a organização dos espaços e das atividades, a relação com as famílias e com as próprias educadoras. Confira a seguir.
No CMEI União da Boca do Rio, em Salvador (BA), que atende 223 bebês e crianças, uma situação se repetia com frequência: as famílias deixavam os pequenos recém-chegados à unidade e iam embora, sem qualquer possibilidade de contato para que alguém buscasse o bebê ou criança que não se acalmava.
Conversando com as famílias, perceberam por um lado um problema da política pública brasileira, que não garante a elas uma flexibilidade no trabalho para promover o acolhimento dos pequenos junto à unidade educacional. Por outro, que as próprias famílias não se sentiam importantes para esse processo.
“A nossa premissa é que aqui não é lugar de sofrimento”, diz Amanda Reis
Por isso, há 8 anos o CMEI firma um compromisso com as famílias no ato da matrícula: elas devem eleger um adulto que ficará responsável por acompanhar a chegada do pequeno à unidade.
“A nossa premissa é que aqui não é lugar de sofrimento e fazemos de tudo para garantir que quem chora vai receber o amparo necessário para se acalmar, nem que seja a família buscando a criança aqui”, explica Amanda Reis, diretora da unidade.
Leia + Não é adaptação, é acolhimento: 6 orientações para a chegada à Educação Infantil
Assim, a chegada de toda a creche, de turmas novas da pré-escola e de bebês e crianças com deficiência acontece de forma gradual. As turmas são divididas em até 10 bebês, para garantir um acompanhamento próximo, e todos tentam manter o ambiente silencioso.
Eles entram na unidade acompanhados pela família, começam a explorar o espaço, a sala de referência e conhecem os colegas. Aos poucos, este adulto vai se afastando e comunica para a criança que vai esperar do lado de fora. Se ela chora e a educadora não consegue acalmá-la, o adulto volta para a sala e o processo se reinicia, até que seja possível que adulto espere de casa, atento ao telefone.
As atividades preparadas para esse momento são as que mais costumam encantar os pequenos: bacias cheias d’água e contações de histórias.
A adaptação ao tempo integral também acontece de forma gradual. Os pequenos permanecem por meio período na unidade e, educadora e família, avaliam quando é possível estender a jornada para cada um.
Todo o cuidado com os bebês e crianças também envolve as famílias, que participam uma vez por mês de formações a respeito de temas que os interessam, como desfralde e desenvolvimento integral.
Também participam ajudando a afinar o cardápio, para que a alimentação também contribua para a permanência dos pequenos na unidade. “A família tem um papel imprescindível na estabilidade desse bebê. Fazemos as coisas muito juntos, por isso dá certo”, afirma Amanda.
Na EMEI Dona Leopoldina, em São Paulo (SP), as crianças que já frequentam a escola ajudam a acolher os recém-chegados. Eles buscam os colegas que estão no portão com dificuldade para entrar, mostram os espaços da unidade, os brinquedos e apresentam as educadoras e demais funcionários.
Na matrícula, a gestão também procura saber se a criança já conhece alguém da unidade, para colocar na mesma turma. “Isso dá uma certa segurança para elas”, explica Claudia Maria Dos Santos Guirao, diretora da EMEI.
“Quando a criança confia nos adultos que estão ao redor dela e no que você está dizendo que vai acontecer, ela acredita no que você está dizendo, e a tendência é que no dia seguinte ela volte mais segura”, explica Claudia Maria dos Santos Guirao
No primeiro dia, professores, famílias e crianças percorrem a escola juntos para conhecer os espaços e fazer combinados de convivência. Nos outros dias, as famílias, ou alguém da comunidade escolar com quem a criança se sente mais segura, permanecem junto às crianças e, aos poucos, vão explicando para a criança que vão aguardar do lado de fora da sala, na horta ou em casa. Enganá-las nunca é uma opção.
“É melhor respeitar isso e não ter um processo traumático. Quando a criança confia nos adultos que estão ao redor dela e no que você está dizendo que vai acontecer, ela acredita no que você está dizendo, e a tendência é que no dia seguinte ela volte mais segura”, afirma Claudia.
A unidade, que funciona em tempo integral, reduz a jornada pela metade para fazer esse acolhimento e, aos poucos, amplia o tempo que a criança passa na escola. “Também temos famílias voluntárias que ficam na escola para ajudar a acolher as crianças”, conta a diretora.
Todo esse trabalho com os recém-chegados à escola se estende por todo o ano e para todas as crianças, então se uma delas não acordou bem, por exemplo, a família pode ficar na escola com ela.
“É um princípio de compreender que elas estão aprendendo a lidar com seus sentimentos e não podemos exigir uma maturidade maior do que elas têm. Não estamos preparando elas para ser nada, a criança é hoje e tem que ser respeitada com todas as suas características próprias”, define Claudia.
Para dar suporte e sentido a todo esse trabalho, o acolhimento é, primeiro, destinado à equipe de professores. “Procuramos acolher os professores e funcionários da mesma forma como esperamos que as crianças sejam acolhidas. Então dialogamos muito, planejamos juntos como vamos fazer para que todos estejam alocados da melhor forma, em horário que funcione para sua rotina, lembrando que eles também têm famílias, estudos e outras coisas importantes para fazer”, aponta a diretora.
Em Maceió (AL), o CMEI Fúlvia Rosemberg atende 210 crianças e 8 bebês. Para recebê-los no começo do ano, e continuar com o trabalho ao longo dos meses, o planejamento do ambiente é central. Os espaços são organizados de forma a permitir que as crianças possam se movimentar livremente e de diferentes formas.
Há espaço para deitar no chão e rotacionar o corpo, começar a sentar e ficar de pé e controlar a marcha. “Não colocamos as crianças em berços ou cercados. Recebemos as crianças em um chão limpo, livre de perigos, com todos os materiais e brinquedos à sua disposição e alcance”, afirma Rozana Melo, coordenadora pedagógica do CMEI.
Livros, objetos sonoros, como chocalhos, retalhos de pano, bolas de tamanhos e pesos diferentes, bacias de metal que fazem sons variados, colheres de pau e outros brinquedos não-estruturados estão entre a seleção de materiais para os pequenos.
“Quando as crianças chegam nesse espaço, se encantam e querem ficar aqui para explorar”, observa Rozana, que também conta com a praça próxima à escola e os materiais naturais para favorecer o desenvolvimento dos pequenos.
No diálogo com as famílias, abordam como esses materiais contribuem para as aprendizagens e como podem apoiar esse processo também em casa. “Falamos até sobre roupas que possam deixar eles mais livres para se movimentar”, conta a pedagoga.
Com a equipe de professoras, realiza momentos formativos coletivos e individuais de forma semanal ou quinzenal. “Conversamos sobre como vai o desenvolvimento de cada criança, o acompanhamento das famílias e as propostas pedagógicas que estão sendo, ou serão, desenvolvidas”, explica Rozana.