publicado dia 23/08/2023
Belém (PA) discute Educação Infantil no seminário do Programa Escola em Tempo Integral
Reportagem: Ingrid Matuoka
publicado dia 23/08/2023
Reportagem: Ingrid Matuoka
🗒️ Resumo: Nesta quarta-feira (23/08), aconteceu o segundo painel da etapa Norte do ciclo de seminários “Programa Escola em Tempo Integral: princípios para a Política de Educação Integral em tempo integral”, que serão realizados em todas as regiões brasileiras.
Organizados pelo Ministério da Educação (MEC), os encontros desta etapa acontecem em Belém (PA) e contam com transmissão ao vivo pelo canal do YouTube da pasta. O primeiro debate do dia discutiu a importância da intersetorialidade.
Reunidas em Belém (PA), especialistas, pesquisadoras e educadoras discutiram a Educação Infantil durante o ciclo de seminários “Programa Escola em Tempo Integral: princípios para a Política de Educação Integral em tempo integral”, que vai acontecer em todas as regiões do país.
Leia + Começa a etapa Norte de seminários do Programa Escola em Tempo Integral
Os debates da tarde desta quarta-feira abordaram os “Princípios da Educação Integral em Tempo Integral na Educação infantil – Orientações para o tempo integral em Creches e Pré-Escolas”.
Um dos principais desafios para a etapa está na concepção de qual é seu papel. Muitos dos trabalhos pedagógicos são voltados para a preparação para o futuro ingresso no Ensino Fundamental, com atividades direcionadas de leitura e escrita, deixando de lado o desenvolvimento que bebês e crianças necessitam no presente.
“Tem todo um mundo para ensinar às crianças, por meio de um trabalho pautado nas interações e brincadeiras, a forma primordial de aprendizagem das crianças”, explica Sinara Almeida da Costa, doutora em Educação pela Universidade Federal do Ceará (UFC).
A especialista afirma que mais tempo na escola contribui para o enfrentamento às desigualdades educacionais, ofertando mais acesso a bens culturais e vivências na infância. Mas para que esse trabalho todo possa ser efetivo, é preciso criar estratégias para escutar o que as próprias crianças pensam e desejam da escola e o que entendem por qualidade da Educação.
Nas pesquisas e escutas que Sinara conduziu, as crianças citaram, por exemplo, gostar de escutar música, ir ao zoológico, brincar no pula-pula e com a natureza. “Elas sabem dizer o que esperam da escola e podem ajudar a construí-la”, reforça.
Vigente entre 2007 e 2016, o Programa Mais Educação foi um dos maiores do Brasil em alcance e recursos. Concretizado como um dos objetivos do Plano de Desenvolvimento em Educação, foi a principal ação indutora para a agenda de Educação Integral no país, chegando a mais de 50 mil escolas.
Para Ney Cristina Monteiro, professora na Universidade Federal do Pará (UFPA), um dos principais legados do programa foi desvelar a situação precária das escolas, muitas sem banheiro, cozinha, refeitório, quadra, climatização, bibliotecas e laboratórios.
“Essas escolas estavam assim desde que foram criadas, mas foi quando o programa chegou falando de fazer balé e futsal que nos demos conta, que começou a incomodar as autoridades e educadores para fazerem mais. Os filhos das elites sempre tiveram acesso a todas essas atividades e espaços. Os filhos da classe trabalhadora e pobre só começaram a ter essa possibilidade a partir do Mais Educação, que é outra grande vitória desse programa”, diz Ney.
Em relação ao programa atual, Escola em Tempo Integral, a pesquisadora afirma que é crucial a participação de professores e professoras em sua criação e implementação. Além disso, que o foco da política não deve estar em ampliar o tempo para mais atividades que tenham o cognitivo como centro.
“Também não podemos focalizar a união de grandes áreas do conhecimento apenas em melhoria de resultados de aprendizagem, atrelados aos exames nacionais e sistemas padronizados de avaliação”, defende.
Para compartilhar como acontece a Educação Integral, em tempo integral, em Palmas (TO), Suiane Costa, superintendente de gestão escolar de Palmas (TO), contou a experiência das unidades de educação que atendem bebês e crianças de 0 a 3 anos das 7h30 às 17h.
As propostas são centradas no brincar, com intencionalidade e planejamento. “Faz parte desse planejamento ouvir a criança, o que ela quer descobrir e aprender. É um desafio constante e a formação continuada é fundamental para fazer isso”, observa Suiane.
Atividades nas áreas externas, como brincar em casinhas na árvore, que estão presentes em metade das unidades e em implementação nas demais, são uma das experiências favoritas das crianças.
Elas também passam bastante tempo ao ar livre para desenhar e brincar, convivendo com crianças de todas as faixas etárias, a partir de combinados prévios para garantir o respeito e a cooperação.
Nas salas de referência, há cantinhos de experiências, organizados com diferentes temas e materiais simples. Neles também acontecem a hora da contação de histórias pela professora. “Também a leitura feita pela criança, que vai adquirindo informações e se apropria daquela história para poder contar para os colegas”, relata Suiane.
Em todas as atividade de alimentação e higiene há o incentivo à autonomia e à cooperação, por meio da ludicidade. Boa parte das unidades contam com self-service para as crianças, por exemplo. “Muitas famílias me contam que as crianças já pedem para comer sozinhas, que não precisa dar na boca e nem pegar para elas”, conta Suiane.
Luiza Brasileiro, dirigente municipal de educação de Lajeado (TO) e presidente da Undime (TO), também compartilha a experiência do município com o tempo integral na Educação Infantil.
Elas realizam atividades de esporte, pintura, musica, dança, composição de bandas, meio ambiente, horta e informática. “E elas não precisam ficar o dia todo na escola, podemos utilizar outros espaços para fazer o tempo integral acontecer”, diz Luiza.
As brincadeiras, a interação e a participação da família são os pilares do projeto educacional do município. “E principalmente o afeto, porque o que faz toda a diferença para a criança é como ela é tratada na escola”, observa.