Professores percorrem o território de Diadema (SP) para planejar aulas mais significativas
Publicado dia 13/03/2023
Publicado dia 13/03/2023
Poucos dias antes do início do ano letivo em Diadema (SP), em fevereiro, os professores da rede municipal deixaram os muros de suas escolas para conhecer o território e a comunidade ao redor. De volta às salas de aula, tornou-se mais completo o olhar que têm para seus estudantes.
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A proposta faz parte do planejamento participativo dos Projetos Políticos-Pedagógicos (PPP) das 61 unidades educacionais da rede, que possui 2300 professores e 30 mil crianças e adolescentes da Educação Infantil ao Ensino Fundamental.
“Os professores puderam reconhecer no território da escola em que atuam as potências e fragilidades que ele oferece”, diz Ana Lúcia Sanches
Denominada “Leitura de Mundo”, a atividade que acontece todo ano letivo desde 2022 visa alçar o PPP de um documento burocrático da escola para um registro vivo, com sentido para toda a comunidade escolar, fruto de reflexões entre todos e todas.
Ao mesmo tempo, é uma forma de compreender a realidade social e cultural dos estudantes, a fim de ter mais ferramentas para engajá-los nos processos educacionais, propor projetos e estudos mais contextualizados e estar atentos a demandas por direitos básicos, como o acesso à escola ou a outros entes da rede de proteção.
“Os professores puderam reconhecer no território da escola em que atuam as potências e fragilidades que ele oferece. Sair da escola significa conectar territorialmente”, define Ana Lúcia Sanches, Secretária Municipal de Educação de Diadema. “Não tem como elaborar um PPP sem identificar onde a escola está, quem são os moradores, sua rotina e realidade”, complementa.
Na EMEB José da Silva Filho – uma creche em bairro industrial que é um dos equipamentos públicos mais antigos do território – as educadoras se reuniram para conversar sobre o propósito de sair da escola para ler o mundo de suas crianças. “Para entendê-las, é preciso conhecer as famílias e o bairro”, sintetiza Cleuza Pedroso, gestora da unidade.
As professoras foram divididas em grupos, que percorreram setores diferentes do bairro, com a missão de reconhecer o território: os equipamentos públicos disponíveis, o tipo de comércio, de residência, as condições das ruas, as manifestações culturais e artísticas, e se haviam árvores, praças e crianças brincando nas ruas.
De volta à escola, todo o grupo conversou sobre seus achados e impressões. “Nós encontramos, por exemplo, uma churrasqueira comunitária em uma praça, e achei interessante ver como a comunidade se organiza para isso”, relata a professora Flávia Branca Machado.
Também viram árvores frutíferas, lixo na rua, batataria e bananaria, o Centro Cultural Heleny Guariba, uma Unidade Básica de Saúde (UBS) e um campo de futebol. Padarias, cabeleireiros, igrejas e outros centros religiosos, a Rodovia dos Imigrantes e, ainda, as crianças que atendem e suas famílias andando pelas ruas. “As professoras foram reconhecidas pela comunidade e muitas famílias pediram vaga, transferência ou ajuda com problemas burocráticos”, relata Cleuza.
Na hora de escrever o PPP, as educadoras trouxeram suas leituras de mundo para o documento. “Essa atividade fortaleceu que elas olhassem para si mesmas, para esses sujeitos e para o território como autores desse PPP, conhecendo e respeitando cada vez mais o contexto dessas pessoas”, observa a gestora escolar.
“Essa atividade fortaleceu que elas olhassem para si mesmas, para esses sujeitos e para o território como autores desse PPP”, relata Cleuza Pedroso
A Secretária Ana Lúcia relembra, ainda, um caso de uma escola de Ensino Fundamental da rede em que os professores reclamavam do atraso de seus estudantes.
“Nesse reconhecimento do território, os professores tiveram que percorrer as escadarias imensas que esses meninos e meninas tinham que subir e descer para chegar à escola – e por isso se atrasavam. Precisamos sempre compreender o contexto dos estudantes para poder contribuir com o acesso e permanência deles”, pontua.
Sobretudo após a retomada presencial das atividades escolares pós-covid, a questão da busca ativa, acesso e permanência na escola tornou-se ainda mais relevante. Em Diadema, Ana Lúcia conta que há muitos casos de trabalho infantil, devido à perda de renda das famílias mais acentuada nos últimos anos,
“Além dos estudantes que não voltaram, vivemos um processo de muitas faltas das crianças. Então essa atividade também ajuda a sensibilizar os educadores a monitorarem a frequência da turma e a entender que não pode haver uma segunda falta, já precisa ir atrás. Conhecer o lugar onde as crianças vivem ajuda a compreender a conexão da realidade com a busca ativa, e a se aproximarem das famílias e estudantes”, observa Ana Lúcia.
*Crédito pelas fotos: Dino Santos/Prefeitura Municipal de Diadema