Planejamento reverso: o que é e como aplicar
Publicado dia 28/05/2019
Dentre as diferentes maneiras de se pensar uma aula, o planejamento reverso traz a vantagem de estimular a atitude investigativa nos estudantes.
“O planejamento reverso é uma metodologia que enfatiza as perguntas por meio das quais a sociedade construiu conhecimentos. Então, transforma o que precisa ser ensinado aos alunos em propósitos de por que ensiná-los e em competências para a vida, e não apenas conteúdos para aprender na escola”, diz Julia Andrade, pesquisadora do Centro de Referências em Educação Integral.
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Dessa maneira, o professor deve partir do objetivo que quer alcançar ao final de uma sequência de ensino-aprendizagem para depois pensar em como chegar lá.
A especialista exemplifica que, se um professor deseja ensinar sobre nutrição, alimentação balanceada e a pirâmide alimentar, a pergunta a ser feita para os estudantes não é: “como fazer para ter uma dieta equilibrada?”
E sim, o educador deve perguntar: “o que acontece com os alimentos quando eles entram no corpo humano? É verdade que o que não mata, engorda? Por que gostamos de junk food?”
“As perguntas essenciais visam transformar o conteúdo de ensino em investigação. Assim, se a pergunta essencial for ‘por que podemos afirmar que nós somos o que comemos?’ e os alunos conseguirem responder, eles terão uma compreensão profunda, ao invés de só saber reproduzir uma pirâmide alimentar”, explica Julia.
Para Raquel Oliveira, gerente executiva do Centro de Excelência e Inovação em Políticas Educacionais da Fundação Getúlio Vargas (FGV) e professora da pós-graduação do Instituto Singularidades, um dos principais pilares desta metodologia é compreender a avaliação como um diagnóstico e uma oportunidade de aprendizagem.
“A avaliação não pode vir só no final do processo. Ela é mais um check-up de rotina médica do que uma necrópsia, que não tem como reverter e, portanto, vem a reprovação”, compara Raquel.
Na hora de implementar essa metodologia, Raquel recomenda que os educadores compreendam que precisam se desenvolver para conseguir planejar uma atividade independentemente do livro didático, e que o planejamento reverso mobiliza diversas habilidades e competências ao mesmo tempo. “Na prática, podem começar com uma única aula ou atividade, para depois ir ampliando para situações maiores”, afirma.
Julia Andrade e Raquel Oliveira explicam quais são as etapas de implementação do planejamento reverso. Confira:
Comece estabelecendo o objetivo da aula, o que os alunos precisam compreender ou fazer. Também é crucial saber justificar por que esses conhecimentos são importantes para o desenvolvimento dos estudantes.
Por fim, defina quais são as perguntas essenciais que podem instigar a curiosidade dos alunos, e transformar o conteúdo a ser compreendido em questão a ser investigada.
Descreva critérios para avaliar as evidências de aprendizagem dos estudantes, como insuficiente, básica, intermediária e avançada.
Depois, defina por meio de quais ações e registros os alunos demonstrarão quanto sabiam antes da aula ou atividade e quanto aprenderam. Explore também quais oportunidades os alunos terão para repensar e revisar o conhecimento que estão construindo. Vale atenção às diferentes necessidades e linguagens das crianças e adolescentes.
Durante esta etapa, é necessário ter em mente as seis facetas da compreensão, entendendo que os alunos revelam suas aprendizagens de maneira mais eficaz quando podem explicar, interpretar, aplicar, mudar a perspectiva, ter empatia e fazer uma autoavaliação.
Na etapa final, defina como organizar as aprendizagens de forma a atender aos objetivos propostos, ajudar os estudantes a investigar e construir sentido, e permitir efetividade nas avaliações.
Isso pode ser feito por meio de sequências didáticas, jogos, desafios, tarefas, projetos utilizando diferentes abordagens e metodologias de ensino-aprendizagem, por exemplo.