publicado dia 12/11/2018
Florestan Fernandes e a liberdade de ensinar
Reportagem: Ingrid Matuoka
publicado dia 12/11/2018
Reportagem: Ingrid Matuoka
Florestan Fernandes (1920 – 1995) dedicou-se a olhar a Educação por meio das lentes da Sociologia. Para o educador, entender a razão da escola ser tão excludente passava por enxergar o processo de urbanização que o País vivia, marcado pela desigualdade e o racismo.
O Especial Educadores, do Centro de Referências em Educação Integral, traz 10 especialistas fundamentais para compreender a educação integral e a importância da escola pública no Brasil.
O educador é considerado o fundador da Sociologia crítica no Brasil. Criado pela mãe, que trabalhava como empregada doméstica para uma família abastada da cidade de São Paulo, ele precisou abandonar os estudos para ajudar a complementar a renda de casa. Assim, desde cedo circulava por vários espaços, da mansão aos cortiços, e tinha contato com variadas classes sociais enquanto trabalhou como engraxate, garçom e outros ofícios pela cidade paulistana.
Aos 21, após concluir a Educação Básica por meio do Supletivo, ingressou na Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas da Universidade de São Paulo (USP), onde formou-se em Ciências Sociais e iniciou sua carreira acadêmica e docente.
Em suas quase 80 obras publicadas nos campos da Educação, Sociologia e Antropologia, o sociólogo versa, sobretudo, a respeito das discriminações e desigualdades no Brasil, e a situação dos negros em relação aos brancos.
O que é sociologia crítica? É o estudo multidisciplinar para compreender como a sociedade chegou à configuração atual, e colaborar para a emancipação dos seres humanos
Em entrevista de 1984 para o programa Vox Populi, Florestan Fernandes afirmou: “O negro vai ser sempre, enquanto não houver democracia no Brasil, o nosso melhor ponto de referência para determinar que o Brasil não é uma sociedade democrática. Uma democracia deve ser um regime político, econômico, cultural, social que permite estabelecer igualdade entre todas as raças.”
O sociólogo teve participação ativa na Campanha em Defesa da Escola Pública, da Comissão de Educação, que ajudou a elaborar a Constituição de 1988, e na idealização da Lei de Diretrizes e Bases (LDB), que só foi aprovada em 1996, um ano depois de sua morte. Na formulação da LDB, o educador também propôs um piso salarial para os professores.
Mentorado pelo antropólogo Darcy Ribeiro, Florestan defendeu que a educação fosse um direito fundamental da população, e que o ensino fosse público, laico e gratuito.
Para ele, as escolas também tinham um papel importante na busca por equilíbrio e paz social, que seria potencializado se as escolas fossem mais integradas e formassem uma rede, um “sistema comunitário de instituições sociais”.
Além disso, compreendia que a escola deveria ser um meio de libertação da opressão social, e só o seria se deixasse de reproduzir os mecanismos de exclusão da sociedade e fosse também um espaço de liberdade.
Na perspectiva do funcionamento das escolas, Florestan Fernandes propunha que os diretores fossem eleitos pelas famílias, alunos e professores, para que tivessem mais autonomia, e combatia a noção de “transmissão de conhecimento” — ele afirmava que as aprendizagens são construídas nas relações, pelo coletivo, e não transmitidas de um e absorvidas pelo outro tão somente.
Ao longo de sua vida, além de publicar diversos livros e artigos, foi também professor em universidades brasileiras e estrangeiras, e duas vezes deputado federal.