publicado dia 07/07/2017

Quatro escolas de SP mostram que uma educação democrática é possível

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Imagine uma escola onde os alunos participam das decisões daquilo que vão estudar e quando; onde há espaço para alunos, educadores e funcionários debaterem temas que vão desde o uso dos espaços até a gestão da instituição e onde a comunidade se faz sempre presente. Parece utópico? Pois quatro escolas de diferentes regiões da cidade de São Paulo mostram que essa é uma realidade possível.

Reunidas nesta última quarta-feira (05/07) na Universidade Aberta do Meio Ambiente e Cultura de Paz – UMAPAZ, educadoras da EMEF Desembargador Amorim Lima, CIEJA Campo Limpo, EMEI Nelson Mandela e Escola Politeia relataram suas experiências de educação democrática, destacando a importância de construir uma escola que promova a autonomia e responsabilidade dos alunos sobre suas trajetórias escolares e de vida.

Entre as histórias mais emblemáticas está a de Ana Elisa Siqueira, diretora da EMEF Amorim Lima, situada no bairro do Butantã, que ao assumir a gestão da instituição mandou derrubar as paredes e muros da escola, inspirada pela experiência portuguesa da Escola da Ponte.

“O conflito é algo muito presente na Amorim Lima como é de se esperar de qualquer processo democrático”, diz a diretora Ana Elisa

A atitude, conta, foi fundamental para que ocorressem encontros entre os alunos e educadores e para trazer os pais para dentro da escola. “A partir do momento que isso aconteceu, os pais pararam de se preocupar exclusivamente com seus filhos para ver a escola como um todo”.

Da participação ativa da comunidade escolar, garantida por meio da organização de assembleias, saem as decisões que pautam o cotidiano da escola e, claro, muitas tensões. “O conflito é algo muito presente na Amorim Lima como é de se esperar de qualquer processo democrático. As pessoas pensam diferente e a escola é muito heterogênea, temos filhos de famílias de nível socioeconômico mais baixo e filhos de professores da USP, por exemplo. E são com os conflitos que vamos nos aprimorando”, coloca Ana Elisa.

Debate sediado na UMAPAZ reuniu quatro escolas democráticas de São Paulo

Alice Signorelli, professora da EMEI Nelson Mandela, localizada no Bairro do Limão, também reforça a ideia de escola democrática como uma escola em constante construção. “É um processo de revisão constante, inclusive, de nós, educadores, pois estamos sempre repensando nossas práticas, se tal direcionamento foi autoritário ou não”, conta.

Como exemplo, a professora traz o caso de uma das assembleias feitas com as crianças de onde foi demandado um chá de boneca. A discussão seguinte envolveu a decisão de se os meninos participariam ou não do evento. “Nesse momento, nós intervimos a favor da participação de todos, o que não deixou de ser uma decisão vinda de cima para baixo. Mas se não levássemos a referência, como elas saberiam o que é correto? Enfim, são coisas que nos questionamos sempre”, conta Alice.

“Também faz parte do processo democrático compreender e rever nossas escolhas e no que elas acarretam”, diz Iara, da Politeia

Na escola Politeia, instituição particular localizada no bairro de Perdizes, o exercício democrático tem impacto direto no currículo. Os alunos escolhem o que vão estudar em seus projetos individuais, que duram cerca de seis meses.

“Mas nada que é decidido é fixo. Os alunos podem, por exemplo, mudar de ideia e trocar de tema no meio do percurso. Isso também faz parte do processo democrático: compreender e rever nossas escolhas e no que elas acarretam”, explica Iara Haasz, educadora da escola.

Localizado em um bairro já eleito como um dos mais violentos do mundo, o Capão Redondo, o Cieja Campo Limpo é um exemplo de como legitimar a voz dos estudantes é um caminho de transformação da escola e de seu entorno, principalmente, quando se trata de adolescentes e adultos. “Me perguntavam como era possível a convivência dentro da escola de pessoas que pertenciam a grupos em disputa na comunidade. Para mim, a resposta é essa escuta por inteiro e o respeito que esses jovens têm pela escola”, diz a diretora Eda Luiz.

Foi também com essa perspectiva de acolhimento que Eda determinou que os portões ficariam abertos até às 22h30.  “Todos acharam uma loucura. Mas é nessa relação de confiança que as pessoas passaram a ver a escola. Entram, usam as salas de aula, de leitura, de informática, sem nenhum problema”, conta a diretora, acrescentando que é necessário também enfrentamento para que ocorra mudança.

“A lei não está aí para ser cumprida, mas para ser interpretada a favor do aluno. Acho que muitas mudanças não ocorrem porque antecipamos problemas. Mas o Cieja mostra como essa outra escola é possível”, conclui.

Escola em São Paulo muda práticas buscando democratizar a gestão

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