Debate sobre diversidade integra projeto político pedagógico de escola

Publicado dia 16/09/2015

A diversidade ganhou o olhar integral do CEF 01. Créditos: Reprodução

A diversidade ganhou o olhar integral do CEF 01. Crédito: reprodução

“A escola é um microcosmo da sociedade, uma réplica, então, por aqui também encontrávamos homofobia, lesbofobia, sexismo, machismo, racismo”. Lidar com essa realidade cotidiana foi o que impulsionou o Centro de Ensino Fundamental 01 de Planaltina (CEF 01) – também conhecido como Centrinho -, a estruturar, em 2013, a iniciativa “Diversidade na Escola”, hoje integrada ao projeto político pedagógico da instituição.

Lúcia Pedroza, supervisora do colégio, conta que o projeto nasceu da necessidade de minimizar as discriminações nas relações escolares e pautá-las pelo respeito à diversidade. O desenho inicial foi feito pelo coordenador da escola integral, Alexandre Magno. Para dar o pontapé, ele convocou reuniões com os professores da parte diversificada (PD) que atuam desenvolvendo projetos e buscando integrá-los à base comum. Foram quatro encontros, assistidos também pela supervisora Lúcia, que acabaram por definir a entrada do tema diversidade entre os projetos e orientar estratégias para tais práticas.

A primeira foi a de utilizar a informação como grande força motriz, visto que os estudantes ainda não estavam apropriados dos conceitos que transitam nessa agenda, tais como sexismo, homofobia, transgênero, homossexual, heterossexual, entre outros. “A nossa primeira estratégia foi ancorá-los do ponto de vista teórico, com apoio de livros e cartilhas, e construir um glossário coletivo”, conta Lúcia.

Alunos de turma inclusiva em sala ambiente. Crédito: reprodução

Alunos de turma inclusiva em sala ambiente. Crédito: reprodução

Também se definiu um leque de abordagens para que a linguagem pudesse ser adequada às diferentes faixas etárias dos estudantes e às formas de compreensão e apropriação do debate – a escola atende ao todo 1400 alunos, dos quais ao redor de 150 têm necessidades especiais. Os estudantes com casos mais graves de deficiência frequentam as aulas em turmas diferenciadas, enquanto os outros assistem às aulas em salas comuns, em turmas inclusivas.

Saiba + Glossário: educação inclusiva

“Estabelecemos como recurso rodas de conversa, filmes, atividades discursivas, jogos, de acordo com a necessidades das turmas”, explicita a supervisora. Às vezes, a escola também lança mão de outras linguagens – como peças teatrais – para abordar a temática a partir de outras perspectivas.

O modelo começou a funcionar em março de 2013 e já em outubro do mesmo ano rendeu à instituição o seu primeiro reconhecimento: o CEF 01 conquistou o Prêmio Construindo a Igualdade de Gênero, instituído em 2005, pela Secretaria de Política das Mulheres (SPM-PR), no âmbito do Programa Mulher e Ciência, que possibilitou verba de 10 mil reais à instituição, além de visibilidade do trabalho pedagógico desenvolvido.

Novas projeções

Um ano após o início do projeto, em 2014, a escola entendeu a necessidade de retirar o “Diversidade na Escola” do âmbito de projeto, ainda marcado por ações isoladas, e de integrá-lo enquanto diretriz escolar. Lúcia conta que houve um trabalho de sistematização das práticas realizadas e integração da iniciativa ao projeto político pedagógico.

“E não foi somente a conquista do prêmio que nos orientou para essa ação. Já percebíamos uma modificação de nosso ambiente com relação à diminuição da violência e de tratamentos pejorativos. Não podíamos e nem queríamos voltar atrás”, explica.

O que mudou foi que a escola inteira foi convocada a olhar para a diversidade e seus desdobramentos, seja nas relações entre seus diversos atores, seja nas aprendizagens de sala de aula. A principal ancoragem, nesse sentido, foi a de estabelecer uma rede interna e também uma externa de apoio à disseminação das práticas pela diversidade, com envolvimento de diversas pessoas e organizações.

Rede interna

A mobilização e sensibilização considerou todos os funcionários escolares – atendentes da cantina, porteiros, servidores de limpeza, diretores, coordenadores, professores -, além dos estudantes e comunidade. O trabalho envolveu momentos institucionais – com uma agenda fixa -, ações de acordo com a demanda e orientações ao longo do cotidiano escolar.

Todos os professores foram orientados a dialogar com a temática da diversidade em suas diversas áreas do conhecimento. Lúcia conta que, o coordenador Alexandre Magno, que já tinha repertório sobre o assunto se encarregou de dar algumas palestras aos docentes, embasando-as em legislações e desdobramentos pedagógicos. Alguns professores da instituição também se envolveram em cursos e foram orientados a multiplicar os conhecimentos aos demais, a escola conta com um total de 130 docentes.

Essa troca de conhecimentos acontece principalmente nas reuniões pedagógicas coletivas que acontecem semanalmente, geralmente às quartas-feiras, com duração de três horas, e permitem ao corpo pedagógico intercambiar suas práticas, discuti-las e propor realinhamentos.

Com isso, foi possível acompanhar uma mudança na condução das aprendizagens em sala de aula, a partir de uma perspectiva interdisciplinar. “Agora é comum ver professores de História abordando a contribuição cultural dos negros e indígenas ao falarem sobre o descobrimento do Brasil”, exemplifica Lúcia. Ela também comenta de uma ação proposta pelo professor de Português, José Rabelo: “ele propôs um levantamento étnico racial dos estudantes. O trabalho de pesquisa possibilitou o envolvimento de outras áreas, como Matemática, por exemplo, já que o estudo envolveu cálculos”, relata.

Os alunos também foram convocados a ocuparem um lugar de autonomia na aprendizagem e de replicarem os conhecimentos adquiridos para a escola. “É comum ver o movimento deles entrando nas salas de aula, munidos de materiais informativos – como, por exemplo, cartilhas contendo a Lei Maria da Penha -, e repassando informações para as turmas”, conta.

Muitas vezes, essa construção de conhecimento se dá em conjunto com a comunidade, um elemento importante e ativo no projeto político pedagógico. A escola acabou por se abrir ao território, entendendo que tal interação fortalece tanto a escola como a comunidade. Um desses momentos de participação tem data fixa e ocorre semestralmente: no “Dia Letivo Temático”, o CEF 01 expõe seu plano político pedagógico para que a comunidade o conheça, o discuta e faça proposições.

Outro espaço para o público é o “Cine Diversidade”. Realizado no pátio da escola, sem data fixa, ele promove a veiculação de um filme que suscite debates sobre a diversidade, preconceito e tolerância. A escola acaba por acatar algumas sugestões de filmes e consulta os alunos, que acabam por decidir qual será exibido. Após esse momento, também aberto à participação, é feito um debate com os presentes e os desdobramentos também chegam às salas de aulas mediados pelos professores.

Pelo menos uma vez por ano, essa discussão também se dá para além dos muros da escola e ocupa as ruas da cidade. No mês de agosto, a instituição realiza um desfile cívico em comemoração ao aniversário da cidade de Planaltina. É o segundo ano que o tema da diversidade acompanha alunos e professores pelas ruas. Divididos em alas, eles acabam por problematizar a violência contra as mulheres, intolerâncias religiosa e sexuais, entre outras abordagens.

Alunos pela diversidade religiosa em desfile cívico em Planaltina.

Docentes e alunos pela diversidade religiosa em desfile cívico em Planaltina. Crédito: reprodução

O arranjo educador já rendeu uma nova condecoração ao CEF 01. Em outubro de 2015, o Centrinho vai receber o Prêmio Educar para a Igualdade Racial e de Gênero, iniciativa que faz parte do Programa de Educação do Centro de Estudos das Relações de Trabalho e Desigualdades (Ceert). “A escola virou referência no assunto”, comemora Lúcia ao relembrar que o modelo pedagógico da instituição já serviu de inspiração para outras unidades da rede.

Rede externa

Outro ponto de apoio para o trabalho, como enfatiza Lúcia, é a configuração de uma rede externa à escola, composta por atores como Secretaria da Mulher do Distrito Federal, Regional de Ensino de Planaltina, Universidade de Brasília (UNB), Centro Especializado de Atendimento à Mulher (Ceam), entre outros. A supervisora conta que esses atores são peças chave na construção desse conhecimento. “Eles nos apoiam com materiais informativos, espaços para organizarmos nossos eventos, disponibilizam especialistas para mediar palestras e debates”, relata.

Mediação de conflitos

Lúcia conta que o programa fez com que a escola e os estudantes desenvolvessem uma postura mais crítica e autônoma na mediação de conflitos. “Cada vez chegam menos casos de desrespeito à direção”, o que mostra, para ela, que os estudantes estão informados e sabendo conduzir pequenas manifestações contrárias à diversidade em sua condição de igualdade. “Vivemos uma escola mais humana”, finaliza.

A instituição é tida como referência no debate da diversidade dentro do ambiente escolar e os seus processos pedagógicos têm chamado a atenção de outros atores educacionais e escolas da rede. No dia 17 de setembro de 2015, o “Diversidade na Escola” será apresentado em um encontro de Formação em Diversidade para gestores, professores e comunidade, realizado pela Escola de Aperfeiçoamento dos Profissionais da Educação (EAPE).

Centro de Ensino Fundamental 01 de Planaltina (CEF 01)
Telefone: (61) 3901-4547/ 3901-4546/ 3901-4474.
Mais informações: [email protected]
Facebook: https://www.facebook.com/cef01deplanaltinadf

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