publicado dia 06/10/2022
“Sonho com uma educação da escuta”, diz Rian Santos, poeta e estudante quilombola
Reportagem: Ingrid Matuoka
publicado dia 06/10/2022
Reportagem: Ingrid Matuoka
No ensejo do processo eleitoral deste ano, a Hora do Intervalo debateu o Brasil e a Educação que os jovens desejam – e merecem. Para tanto, foram convidados Helena Singer, vice-presidente da Ashoka América Latina e coordenadora do Movimento de Inovação na Educação, e Rian Santos, estudante do Ensino Médio, poeta e quilombola da Comunidade Remanescente de Quilombo de Gurupá, no Município de Cachoeira do Arari (PA).
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Por problemas de conectividade no município, Rian não conseguiu participar da live, o que reforça a necessidade de garantir o acesso à internet por todo o Brasil, a fim de enfrentar a exclusão digital e promover os direitos de todos e todas. Para ouvi-lo, o Centro de Referências em Educação Integral realizou uma entrevista, disponível a seguir, e a conversa com Helena Singer pode ser assistida na íntegra abaixo:
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Rian Santos é um jovem escritor que co-lidera o projeto Biblioteca Comunitária Gurupá, que criou junto com seus amigos para estimular a leitura entre jovens e promover atividades culturais, como peças de teatro e discussões sobre questões da comunidade, como a gravidez precoce.
A biblioteca também tem apoio das famílias, da Associação de Moradores da comunidade, bem como de outras organizações sociais e universitários da região. Além de desejar promover a cultura entre os jovens, Rian, um dos autores do livro infantojuvenil amazônico “Igara e o povo das águas”, também luta pela preservação ambiental.
Em entrevista ao Centro de Referências em Educação Integral, ele destacou a importância das escolas ouvirem mais as juventudes para construir uma educação que faça sentido para todos e todas. Confira a conversa na íntegra:
Rian Santos: Os jovens são o agora, não um o futuro como muitos dizem e pensam, a juventude é aqui e o agora. Ter projetos em todo Brasil liderados por jovens mostra muito isso, eu como jovem e envolvido em várias frentes sociais, reafirmo isto.
Ser alguém jovem engajado e participativo em minha comunidade é tentar sempre devolver e contribuir com esta. O projeto como a biblioteca Gurupá traz em mim o desejo de despertar em outros jovens o desejo pela educação e ser para eles algum tipo de referência jovem e mostra que a juventude pode, e sempre pode, estar à frente de muitas coisas.
RS: O período da pandemia, assim como para todos, foi muito difícil para mim, como estudante ainda no início do Ensino Médio. Foi bem assustador ficar sem a convivência escolar e tudo isso dificultou o aprendizado. Agora o retorno presencial está tudo caminhando bem, com certas dificuldades, mas o retorno tem sido bom.
RS: Os jovens querem participar e estar nos lugares de decisões. Queremos um sistema de educação que não seja imposto, mas desenvolvido sob a percepção da juventude, uma estrutura melhor nas escolas que possa favorecer os desenvolvimentos de suas habilidades. Esta é a educação que os jovens querem, uma educação participativa. As propostas de educação não atendem esse modelo que imagino e é preciso mais processos de escuta dos estudantes para formar tais propostas.
RS: Neste ano, tive a oportunidade de participar do FOSPA (Fórum Social Pan-Amazônico) sediado na Universidade Federal do Pará em Belém pela organização do ISER (Instituto de Estudos da Religião) no movimento Fé no Clima, um movimento que busca agregar as comunidades religiosas para falar e debater sobre as mudanças climáticas.
O movimento até lançou um guia para as comunidades religiosas sobre tão importante tema. Eu, como uma das lideranças da minha comunidade religiosa e jovem, sei da importância deste tema ser trabalhado em nossas comunidades.
As minhas reivindicações em relação a isso é que seja trabalhado o tema da preservação do meio-ambiente e o enfrentamento às mudanças climáticas nas instituições de ensino. Precisamos da conscientização de todos sobre algo que é urgente, gritante.
RS: Sonho com uma educação da escuta, que os jovens possam participar cada vez mais e que haja estrutura e condições para isto. Deixo aqui um poema que fiz juntamente com um perfil literário @rabisco.com_ do Instagram e ofereço a famílias e amigos que perderam seus entes queridos no triste incidente ocorrido com a embarcação que partiu do Marajó a Belém do Pará e, infelizmente, veio a naufragar.
Olhando para o mar
Te vejo
Lembranças do nosso amor… tanto desejo
Dos meus olhos escorrem lágrimas
Fruto do medo
Do temível ceifador
Levar-te tão cedo
Avistei do horizonte a triste realidade
Em um barco for à óbito o meu amor
E com as ondas afundei-me em saudade
Sei que tua volta é improvável
Mas ainda assim
Em meu peito habita uma esperança afável
De um dia a dor se esvair
Do meu coração miserável.