publicado dia 06/04/2021
Sete estratégias para manter o contato com estudantes e suas famílias
Reportagem: Ingrid Matuoka
publicado dia 06/04/2021
Reportagem: Ingrid Matuoka
Interessada em compreender os impactos da pandemia de coronavírus nas escolas públicas, Aline Coimbra, estudante de Administração Pública na Fundação Getúlio Vargas (FGV), entrevistou coordenadores pedagógicos da zona leste paulistana. Dentre seus achados, Aline destaca ter percebido que ao longo do ano passado o engajamento dos alunos foi gradualmente diminuindo, o que demandou das escolas mais processos de busca ativa. Nesse contato, as escolas descobriram estudantes desmotivados, achando que se tratava de “um ano perdido”, ou que precisaram parar de estudar para contribuir com a renda da família.
Leia + CR defende ações para garantia de direitos em meio ao agravamento da pandemia
A pesquisa “Sobre os impactos da pandemia da covid-19 nas escolas públicas da rede estadual de ensino: impressões e reflexões dos coordenadores pedagógicos das escolas da Leste 1” feita por Aline ouviu 26 escolas, uma amostra pequena diante da extensão das redes brasileiras, mas que revela um cenário de evasão escolar e aumento da vulnerabilidade que se repete em muitos outros contextos. Em todo o país, ao longo de 2020, mais de 5,5 milhões de crianças e adolescentes não tiveram acesso a qualquer atividade escolar, segundo o Fundo das Nações Unidas para a Infância (Unicef), e portanto estão desvinculados da escola, com grandes chances de não retornar.
Nesse sentido, a escola desempenha um papel importante enquanto equipamento público que tem acesso direto à maioria das crianças e adolescentes do país e pode ser a porta de entrada para acionar a rede de proteção e garantir direitos. “Manter contato com as famílias é importante para tentar diminuir os impactos da pandemia em relação às desigualdades”, afirma Aline. Assim, o objetivo desse contato é tanto promover o acesso dos estudantes ao trabalho pedagógico e manter o vínculo entre professores e alunos, quanto identificar e encaminhar demandas de proteção integral, como casos de fome, violências e outras vulnerabilidades.
Para auxiliar as escolas a conseguirem um primeiro contato ou a manterem o vínculo com as famílias e estudantes, o Centro de Referências em Educação Integral (CR) preparou uma lista com diferentes estratégias de comunicação, tendo por base a pesquisa de Aline e a experiência de outras redes e escolas.
Cartazes e faixas
Uma das estratégias que as escolas de São Paulo (SP) entrevistadas por Aline utilizaram foi a distribuição de cartazes e faixas pela comunidade. As equipes das escolas colaram os comunicados nos postes, muros, e nas unidades de Saúde dos bairros, pedindo para que as famílias entrassem em contato ou fossem até as escolas. Esse recurso tem baixo custo e maior durabilidade.
Carros de som e comunicados no rádio
Algumas redes escolares pelo Brasil, como as do Paraná e de Suzano (SP), apostaram em comunicados nas rádios locais e em contratar carros de som para circular pelos bairros pedindo para as famílias irem até as escolas ou entrarem em contato. Essas estratégias são especialmente úteis para acessar famílias que não são alfabetizadas ou que não possuem meios de comunicação virtual. Além disso, alertam a comunidade toda, que pode ajudar a espalhar a mensagem.
O apoio da comunidade
Lideranças comunitárias e religiosas têm contato com um grande número de pessoas e podem ajudar a espalhar o pedido das escolas. Na pesquisa de Aline, esse foi um importante ponto de apoio para contato com as famílias. Além dessas figuras, vizinhos e pessoas que moram próximas também podem ajudar a encontrar endereços, telefones e a passar o recado.
O WhatsApp foi o aplicativo mais utilizado em 2019 no Brasil, com 120 milhões de usuários ativos, de acordo com relatório da empresa de monitoramento App Annie. Na pesquisa de Aline, o app foi considerado o mais responsivo por estudantes e familiares, portanto, a forma mais fácil e rápida de comunicação. Por ter baixo consumo de dados, ele também permite acesso a quem tem baixa conectividade.
Em entrevista ao CR, Ana Yazbek, diretora do Espaço Ekoa, escola privada para Educação Infantil, em São Paulo (SP), conta que esse recurso é um dos mais utilizados pelos professores, tanto para comunicados institucionais, sobre reuniões e atividades, quanto para interação com as famílias e crianças. “Criamos grupos de Whatsapp por turmas, e as famílias participam se quiserem. Neles, há muita troca de sugestões de brincadeiras, receitas e atividades. Conseguimos formar uma comunidade íntima, em que todo mundo partilha coisas da sua vida e desse cotidiano com as crianças”.
Encontros por vídeo
Para as famílias que possuem boa infraestrutura tecnológica e acesso à internet, as chamadas de vídeo por plataformas como WhatsApp, Google Meet e Zoom são uma boa estratégia para conversas mais dinâmicas, que promovam a interação entre as famílias. É especialmente útil para os momentos de tomada de decisão coletiva, para escuta das demandas e possíveis insatisfações, e criação e manutenção de um vínculo mais próximo entre professores e familiares.
A professora de ensino fundamental Kassiane dos Santos Oliveira, da Escola Municipal Milton Campos, em Belo Horizonte (MG), contou ao CR que ainda aproveita essas reuniões com as famílias para promover a interação entre as crianças, que também participam das chamadas de vídeo.
“As crianças gostam de ver os amigos, então pergunto como elas estão, do que estão sentindo falta, o que estão achando das atividades e o que poderia ser diferente”, conta a educadora. Assim, em meio à “conversa dos adultos”, as crianças podem falar e ouvir os colegas. Em outro momento, as turmas aproveitaram o contato por vídeo para fazer uma festa juntos. A interação virtual não substitui a qualidade das relações presenciais mas, no momento, é uma oportunidade de socialização e diversão para os estudantes.
Ligação telefônica
As escolas costumam manter uma lista de telefones das famílias, e esse pode ser um caminho para contato que permite conversas mais próximas. Contudo, é comum os números mudarem ou as pessoas não atenderem. Por isso é importante manter a lista atualizada e combinar os melhores horários para ligar.
No portão da escola
Quando a escola está aberta para as famílias retirarem atividades impressas e cestas básicas, este também pode ser um momento para conversar sobre como tem sido esse período para os estudantes, como está a realização das atividades, e para avaliar se há outras demandas de proteção integral.
O que é a #Reviravolta da Escola?
Realizado pelo Centro de Referências em Educação Integral, em parceria com diversas instituições, a campanha #Reviravolta da Escola articula ações que buscam discutir as aprendizagens vividas em 2020, assim como os caminhos possíveis para se recriar a escola necessária para o mundo pós-pandemia.
Leia os demais conteúdos no site especial da #Reviravolta da Escola.
Leia também