publicado dia 09/10/2023
Seminário Escola em Tempo Integral traz experiências de aproximação com o território
Reportagem: Ingrid Matuoka
publicado dia 09/10/2023
Reportagem: Ingrid Matuoka
🗒️Resumo: Diadema (SP) recebeu a etapa Sudeste do ciclo de seminários “Programa Escola em Tempo Integral: princípios para a Política de Educação Integral em tempo integral” nos dias 4 e 5/10. A mesa de encerramento do evento dialogou sobre temas transversais contemporâneos e os territórios.
Até o momento, a iniciativa do Ministério da Educação (MEC) já passou pelas regiões Norte, Nordeste e Centro-Oeste – saiba como foram estas etapas. É possível acompanhar os encontros na transmissão ao vivo pelo canal no YouTube do MEC.
Para encerrar a etapa Sudeste do ciclo de seminários “Programa Escola em Tempo Integral: princípios para a Política de Educação Integral em tempo integral”, aconteceu o painel “Os temas contemporâneos transversais em diálogo com a Educação Integral os territórios”, com mediação de Mauricio Ernica, Coordenador-Geral de Equidade Educacional do MEC.
O Podcast Curumim, realizado por crianças do 3º a 5º ano do Ensino Fundamental, produziu um episódio sobre o Seminário. Elas entrevistaram participantes do evento e conversaram sobre a importância do encontro.
O evento aconteceu nesta quinta-feira (5/10), em Diadema (SP). Mais cedo, o seminário discutiu o Ensino Fundamental e Ensino Médio. No dia anterior, aconteceram conversas sobre cultura, esporte, meio ambiente e direitos humanos e sobre Educação Infantil.
Em 2021, Educação Integral em tempo integral virou lei em Diadema. “Ela dá materialidade aos nossos sonhos”, disse Ana Lúcia Sanches, Secretária de Educação do município.
O programa atende todas as escolas dos Anos Iniciais da rede que possui 60 unidades da Educação Infantil ao 5º ano do Ensino Fundamental. Todos os dias, as crianças permanecem na escola ou em atividades no território por 7 horas e, além das aulas regulares, realizam duas atividades: uma de Letramento ou Matemática e outra de Cultura e Esporte ou Meio Ambiente.
“A Educação para as relações étnico-raciais é o eixo transversal de todo o trabalho”, disse Ana Lúcia Sanches
Todas elas são realizadas utilizando metodologias ativas, com brincadeiras, oficinas e outras experiências lúdicas e contextualizadas à cultura local e aos interesses das crianças. “A Educação para as relações étnico-raciais é o eixo transversal de todo o trabalho”, lembrou Ana Lúcia.
Para a gestora, o PPP Participativo da rede, em que cada comunidade escolar discute e pactua acordos em torno do propósito e funcionamento da unidade, é a “nossa melhor experiência de fazer coletivo em curso”. No começo, o processo pareceu confuso e as pessoas não sabiam ao certo como participar. Hoje, os diálogos fluem melhor.
Ana Lúcia explica que essa é uma forma de fazer a gestão democrática acontecer efetivamente e de maneira contextualizada a cada realidade local.
No processo de pensar a função social da escola em relação à comunidade e ao território, a EMEB Sagrado Coração de Jesus, por exemplo, identificou que para as famílias e estudantes que frequentavam a escola, seria necessário trabalhar a identidade e o pertencimento ao território.
“Em 2010, era comum as pessoas terem vergonha de dizer que moravam no bairro e hoje isso mudou”, contou Camila Parente, vice-diretora da unidade que atende 530 estudantes dos Anos Iniciais do Ensino Fundamental.
Essa mudança foi possível a partir do trabalho das professoras que resgataram a memória da construção do bairro, começaram a realizar mais atividades fora da escola e estabeleceram parcerias, como a associação de moradores do local, que participa ativamente e empresta sua quadra para os estudantes.
A Horta Comunitária Gazuza, que fica perto da escola, se tornou outra parceira. “Era um espaço de descarte de lixo e os moradores cuidaram desse terreno. Hoje utilizamos para atividades com as crianças”, contou Camila.
Raphael Honorato, Vice-diretor da EM Professora Esther Limírio Brigagão, de Uberaba (MG), contou a experiência da escola em aproximar-se do CEU das Artes, que fica a três quarteirões da unidade. Sua abertura à comunidade começa pela ausência de muros ao redor. “É quase uma extensão da escola […] um espaço de lazer e encontro”, definiu Raphael.
A escola, que realiza reuniões semanais para discutir oportunidade educativas do bairro, já realizou uma “Corrida Rústica”, uma forma de levar a prática de maratonas à comunidade que, de outra forma, teria menos oportunidades de acessá-la.
“Algumas práticas esportivas não vão para a comunidade, então oportunizamos a cerca de 400 corredores a conhecer nosso bairro, passar um domingo percebendo nossa construções e afetividades, e a partir daí desconstruir alguns paradigmas”, disse Raphael.
Além de um jornal do bairro, em edições mensais físicas, feitas pelos estudantes, a escola também traz manifestações culturais tradicionais para as aulas, como o Congado. “É a raiz ancestral deles, então na minha pesquisa desenvolvi a Pedagogia Congadeira, com base na lei 10.639 e enquanto uma prática educativa que promove as circularidades, musicalidade, corporeidade e ancestralidade”, explicou Raphael.
Para abrir sua fala, Crislaine Fernandes, Vice-Diretora e membro da comissão da Educação Integral pela Secretaria municipal de Educação de Campinas (SP), defendeu que Educação de qualidade requer financiamento porque ela “é o patrimônio de um povo”.
A especialista também definiu que a concepção de Educação Integral apresenta um conjunto de possibilidades que contribui para uma formação que visa o pleno desenvolvimento da pessoa humana. “E que liberta das amarras e forma sujeitos autônomos nas condições de enfrentar os desafios e assegurar os direitos das nossas crianças e nenhum a menos”, disse.