publicado dia 21/11/2024
“Políticas setorizadas não dão conta de todas as necessidades das comunidades”
Reportagem: Ingrid Matuoka | Edição: Tory Helena
publicado dia 21/11/2024
Reportagem: Ingrid Matuoka | Edição: Tory Helena
🗒 Resumo: Como deve ser a relação entre a escola e a comunidade na Educação Integral? Qual o papel da intersetorialidade para o desenho de políticas educacionais efetivas? A discussão está na programação do Seminário Educação Integral em Debate 2024 e será mediada pela socióloga e educadora Helena Singer, da Ashoka, que falou sobre o tema na entrevista a seguir.
Intersetorialidade, escola e comunidade serão temas centrais de uma das mesas de discussão do Seminário Educação Integral em Debate 2024.
Com transmissão ao vivo pelo YouTube do Canal Futura, o encontro vai discutir a formação de professores na Educação Integral. A mesa “Educação integral: Relação escola-comunidade e intersetorialidade”, que acontece das 11h às 12h30 na sexta-feira (22/11), será mediada pela educadora e socióloga Helena Singer, líder da Estratégia de Juventude América Latina na Ashoka.
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O evento contará com as contribuições de Fred Amâncio (Secretário de Educação do Recife), Glaucia Vieira (Escola Municipal Polo de Educação Integrada de BH), Luis César Silva (Jovem Transformador Ashoka) e Monica Pinto (Unicef).
Em 2024, o Educação Integral em Debate é realizado pelo Centro de Referências em Educação Integral, Cidade Escola Aprendiz, Canal Futura, Avante, Ashoka, British Council, Cenpec, Fundação Vale, Fundação Santillana, Flacso, Instituto Alana, Itaú Social, Instituto Rodrigo Mendes, Instituto Tomie Ohtake, Roda Educativa, Oi Futuro e Unicef.
Para Helena Singer, políticas setorizadas – isto é, fragmentadas em diferentes áreas da gestão pública – são insuficientes para atender às necessidades dos estudantes, famílias e comunidades.
“Somos pessoas por inteiro, não somos fragmentados. Então é preciso que as políticas conversem entre si. Antes disso, que elas sejam construídas intersetorialmente para chegar de modo que faça sentido para as pessoas e para que recursos não sejam perdidos”, afirma a especialista.
Leia a entrevista:
Helena Singer: A escola e a comunidade são a mesma coisa. A escola faz parte da comunidade e poderia ser a instituição, e muitas vezes é, que catalisa as oportunidades e processos educativos da comunidade.
A escola não é a única a fazer isso, mas ela fortalece, conecta, articula os outros, como políticas e programas, a família, as instituições comunitárias, os equipamentos de Cultura, Esportes, Saúde, Assistência Social, entre outros.
Todas as políticas, programas e instituições também se beneficiam se a escola é uma parceira, se ela se abre para essa comunidade e se coloca a serviço dela.
Helena: Políticas setorializadas não dão conta de todas as necessidades das pessoas, famílias e comunidades. Somos pessoas por inteiro, não somos fragmentados.
Então é preciso que as políticas conversem entre si. Antes disso, que elas sejam construídas intersetorialmente para chegar de modo que faça sentido para as pessoas e para que recursos não sejam perdidos.
“Temos que pensar os territórios de forma integrada e superar essas segmentações”, orienta Helena Singer.
Tem muito desperdício, muito fundo que não chega na ponta, por causa da forma como as políticas são construídas. Recentemente tivemos a notícia de que milhões de vacinas não foram dadas – muito provavelmente pela forma setorializada de construir a política, os equipamentos de Saúde não deram conta de fazer chegar a quem precisa.
Temos que pensar os territórios de forma integrada e superar essas segmentações. Mesmo dentro da Educação há o raio de atendimento de um bairro e sobreposições e vazios.
Tem equipamentos municipais que não atendem estudantes da rede estadual, por exemplo. Então temos que olhar para essas áreas de abrangência e fazer os cruzamentos necessários para que a política possa, desde sua origem, possibilitar a maximização dos recursos, com melhor integração das oportunidades
Helena: Almirante Tamandaré é um bom exemplo. A Secretaria Municipal de Educação organizou as Caravanas da Educação para construir o currículo da cidade, que foi aprovado em lei.
Eles envolveram todas as pessoas dos territórios. Equipes técnicas da Secretaria, secretários de outras pastas, vereadores, o prefeito, foram conversar com as escolas, os moradores e lideranças comunitárias para pensar juntos os territórios da cidade.
“É um currículo que nasce no território, não dentro do gabinete”, diz Helena.
Não foi só uma questão de desenhar o currículo, mas de levantar uma reflexão sobre a cidade, mais especificamente, sobre cada um dos territórios que compõem essa cidade, envolvendo todo mundo nesse processo.
Assim, é um currículo que nasce no território, não dentro do gabinete. A equipe técnica aprende de fato, na prática, o que é a diversidade e as necessidades dos diversos territórios.
Sobretudo, promoveu o diálogo, a escuta atenta das pessoas que vão formular as políticas em relação à necessidade e ao desejo das pessoas para quem a política é desenhada.
Políticas de Educação que constroem um currículo e um material didático comum para todas as escolas de um Estado, fazendo uma mesma aula do mesmo jeito, desconhecem a diversidade de seu próprio território.