publicado dia 22/01/2015

Os oito minutos que mais importam

Reportagem:

Texto de Brian Sztabnik, professor de literatura em Long Island, nos Estados Unidos, publicado originalmente no portal Edutopia e traduzido pelo Centro de Referências em Educação Integral.  Os hiperlinks originais foram mantidos no texto e, portanto, levam para sites no idioma original do autor.

Eu sou um professor de inglês, então presto muita atenção quando escritores falam sobre seus processos de escrita. Eu aprendi que os conselhos que eles oferecem sobre escrever são bastante úteis para o planejamento das atividades com meus estudantes. Isso porquê tanto a escrita quanto o planejamento de aulas exigem habilidade.

Enquanto escritor, você quer que sua audiência seja encantada pela sua história. Você quer que seus leitores se importem com seus personagens, você quer que eles se encantem com o suspense. Isso não é fácil de conseguir, e é igualmente complicado em sala de aula. Então, quando escritores expõem aquilo que fazem, eu presto atenção. Eu procuro como eles criam situações dramáticas e tensão na trama, eu estudo como eles criam reviravoltas no ritmo da história assim como nas transições de uma aula. Eu também me fascino pelos rituais que eles estabelecem.

Brian Sztabnik criou o podcast “Conversando com professores” e a hashtag #aplitchat no Twitter. Ele ensinou Inglês por quase dez anos em escolas de ensino médio e de ensino fundamental em diferentes regiões metropolitanas. Ele é atualmente professor de Inglês em uma escola em Long Island, onde ensina Literatura e outras matérias eletivas. Além disso é treinador do time do colégio de basquete e um pai dedicado.

John Irving, o autor de As regras da Vida, começa seu texto com essa sentença: “Eu escrevo a última frase, e então, a linha antes dessa. Eu me pego escrevendo de trás para frente por um tempo, até que eu tenha sólida compreensão de como o fim da trama soa e me faz sentir. Você tem que saber como a sua voz soa no final da história, porque ela indicará qual deve ser seu tom de voz quando você começar.”

Esse é o ponto crucial do planejamento de aula: começos e fins. Se nós falhamos em engajar os estudantes logo no começo, podemos perdê-los de vez. Se não temos clareza do resultado final, corremos o risco de nos mover ao acaso de uma lição para outra. Todos os momentos do planejamento de uma lição devem ter relação com a proposta final.

Os oito minutos que mais importam são aqueles dos começos e fins. Se uma lição não começa com força ativando conhecimentos prévios dos estudantes, criando antecipação, ou estabelecendo objetivos, o interesse dos estudantes diminui sensivelmente. E aí você tem que fazer uma força enorme para trazê-los de volta. E, ao mesmo tempo, se você não conseguir verificar o que os estudantes compreenderam, você nunca saberá se o objetivo proposto foi atingido.

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Aqui vão oito formas de fazer mágica com esses oito minutos:

Começos

1. Faça tendência com o YouTube

YouTube alcança mais jovens de 18 a 34 anos de idade que qualquer outro canal a cabo. Cem horas de vídeo são carregadas a cada minuto. Lá sempre é possível encontrar algo para cada série, assunto e abordagem. O recurso não apenas torna visível a “aprendizagem HD” , como permite que professores criarem conexões que, antes, não seriam possíveis.

Eu pedi, por exemplo, que meus estudantes estabelecessem comparações entre o poema “Chicago“, de Carl Sandberg, e o comercial da Chrysler para o Super Bowl [campeonato de futebol americano nos Estados Unidos], com o cantor Eminem. Há 15 anos atrás, eu teria que ficar esperando em frente à televisão, com meu dedo no botão gravar do meu vídeo cassete e rezar para que o vídeo aparecesse na televisão. O YouTube nos permite criar cenários de antecipação com muito mais facilidade.

2. Comece com boas notícias

Se você quer criar um ambiente seguro para que seus estudantes arrisquem, você não vai conseguir isso com um pé de cabra. O professor e também blogueiro do Edutopia, Todd Finley, começa suas aulas com dois minutos de compartilhamento de boas notícias. Turmas que celebram sucesso constroem o conforto necessário para estudantes perguntarem questões fundamentais, compartilhar ideias, e participar em discussões abertas e honestas. Começar as aulas com celebrações é um caminho rápido e fácil de alcançar esse ambiente.

3. Dialogue com outras disciplinas

Jogue uma bola de futebol para os alunos antes de você ensinar o comportamento físico de da jogada espiral de Peyton Manning [jogador de futebol americano que realizou complexos lances em jogo]. Toque uma música que faça uma alusão à sua lição sobre mitologia. Meça os ângulos de um quadro de Picasso em uma aula de matemática. Integrar outras disciplinas ensina os estudantes que ideias e conceitos não estão sozinhos e sim existem como parte de uma ampla rede de conhecimentos. Começar com um conhecimento de uma outra área pode abrir os sentidos dos estudantes a um aprendizado mais profundo.

4. Escreva para cinco

Kelly Gallagher, autor do livro “Ensinando adolescentes escritores” afirma que os estudantes deveriam escrever quatro vezes mais do que a capacidade do professor de corrigir os textos. Os estudantes precisam escrever – e muito – se queremos que eles melhorem. Uma forma de alcançar isso é começar todos os dias com uma pergunta essencial que os estudantes precisam passar ao menos cinco minutos respondendo. Se eles fazem isso diariamente, essa experiência se torna ritualística e constrói perseverança.  Os autores Grant Wiggins and Jay McTighe apresentam uma lista diversa de questões essenciais.

Finais 

1. Passe de fase

A GameStop [maior rede de lojas de games nos Estados Unidos] opera 6457 franquias ao redor do globo. Não é segredo que as crianças e jovens adoram videogames, em especial porque eles recebem constantes recompensas por subir de nível e galgar melhores posições nos rankings. Isso cria um senso de realização, competência e valor. Professores podem aproveitar essa necessidade apoiando seus estudantes a desenvolverem níveis de proficiência a partir de padrões.

No final de uma lição, faça com que os estudantes tracem seus progressos em direção ao domínio de determinado assunto, baseado em padrões gerais. Um jogo popular oferece níveis em escala, como iniciante, heroico, legendário e mítico, e eles podem virar a motivação certa para encorajar estudantes a superarem suas dificuldades.

2. Bilhetes na saída

A estratégia de bilhetes na saída consiste em fazer uma pergunta aos estudantes sobre determinado conteúdo, ou sobre a qualidade ou dificuldades em sala de aula e deixar uma caixa disponível na saída. Os estudantes escrevem suas impressões ou respostas em um papel – que pode ou não ser assinado – e depositam na caixa para o professor ler.

O pesquisador em educação Robert Marzano classifica o uso de bilhetes na saída  em quatro categorias: dados para avaliação formativa, autoavaliação dos estudantes, feedback instrucional estratégico e comunicação aberta.

Independentemente da forma que são utilizados, os “bilhetes na saída” oferecem importantes dados e feedback. Os pesquisadores Wiggins and McTighe também oferecem uma lista de pontos e técnicas de checagem da aprendizagem dos estudantes.

3. Imite as mídias sociais

O espírito colaborativo e conexões do mundo digital podem ser replicadas em sala de aula fazendo uso de quadros de aviso como uma rede social em que estudantes e professores podem compartilhar ideias. A professora Erin Klein escreveu sobre os usos positivos do Twitter, Pinterest e Instagram na sala de aula. Nos minutos finais, você pode desafiar os estudantes a compor um tuíte ou encontrar uma imagem que melhor represente o aprendizado adquirido.

4. O poder do Post-it

Um outra forma de criar um clima positivo em sala de aula para além do início com “boas notícias” é fechar as atividades com mensagens de influência. Convide os estudantes a escreverem algo que aprenderam com outra pessoa da sala em um Post-it e colarem a mensagem na lousa. No início do dia seguinte, leia as notas em voz alta. Isso afirma que a sala de aula é uma comunidade de aprendizagem e valida a participação porque mais importante do responder uma pergunta, é ajudar alguém a entender melhor um determinado assunto.

E, você, como começa e termina uma de suas aulas?

Qual o papel dos professores e como estimular a participação dos estudantes?

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