publicado dia 23/08/2022
Muito além do 7 de Setembro: Conheça outras histórias de luta pela independência do Brasil
Reportagem: Ingrid Matuoka
publicado dia 23/08/2022
Reportagem: Ingrid Matuoka
Que ouviram do Ipiranga um brado retumbante, todo mundo já sabe. Mas e as outras histórias de lutas travadas pela independência do Brasil que quase ninguém conta? Para mudar esse cenário, o Portal do Bicentenário – Um portal para vários brasis traz quatro trilhas formativas e materiais gratuitos e de uso livre para educadores e estudantes aprenderem, de forma interdisciplinar, sobre todos os processos que levaram ao 7 de Setembro, os sujeitos dessas lutas e as demais independências que, até hoje, não foram plenamente conquistadas.
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Desenvolvido por um coletivo de professores e professoras da Educação Básica e do Ensino Superior de todo o país, que produziram e fizeram uma curadoria de materiais a respeito do tema, o Portal visa ampliar a visão sobre a independência do Brasil para além das margens do rio Ipiranga e do eixo Rio-São Paulo, consolidada em discursos, livros didáticos e produções culturais como a única e verdadeira versão dos acontecimentos.
“A partir de várias pesquisas historiográficas, concebemos que a independência do Brasil não se deu só no 7 de Setembro. Esta foi apenas uma data escolhida como oficial para se comemorar isso, por uma historiografia e um grupo de intelectuais que queriam ressaltar a ação de poucas pessoas e criar essa memória de que o Brasil se tornou independente apenas pela ação de poucas pessoas, em sua maioria, homens brancos, europeus, cristãos, monarquistas e escravistas”, explica Alexia Pádua Franco, professora da Faculdade de Educação da Universidade Federal de Uberlândia (MG) e uma das coordenadoras do Portal do Bicentenário.
Para os estudantes, é especialmente importante conhecer as outras histórias de independência para compreenderem as disputas entre os vários projetos de sociedade, de brasis. “É entender que a história também foi feita por mulheres, negros, indígenas e que no presente também é assim. Dessa forma, eles podem se compreender como sujeitos históricos e refletir criticamente sobre os diferentes projetos em disputa atualmente”, diz a educadora.
O Portal, voltado para estudantes e educadores de todas as áreas do conhecimento da Educação Básica, disponibiliza todos os materiais gratuitamente para serem utilizados na íntegra, adaptados ou remixados de forma livre, bastando citar a fonte. Quem criar um material e desejar compartilhar com a plataforma, pode enviá-lo por meio da aba “Participe”. O canal no YouTube do Portal Bicentenário também possui rodas de conversa e debates que podem apoiar o trabalho pedagógico.
“O Portal do Bicentenário não acaba agora em 7 de Setembro deste ano e vai continuar sendo alimentado com novos conteúdos interdisciplinares, da Matemática às Artes e Filosofia”, afirma Alexia.
No Sul, no Norte e no Nordeste havia projetos republicanos, anti-escravistas e abolicionistas que pensavam a independência brasileira e que essa trilha evidencia. “Também mostra como esse projeto vencedor de independência do Estado-nação e da elite brasileira em relação a Portugal veio acompanhado de muitas não-independências, como a dos negros, que continuaram a ser escravizados, dos indígenas perdendo suas terras e das mulheres, ainda subjugadas aos homens”, diz Alexia.
Essa trilha conta a história de várias pessoas que, nos últimos 200 anos, lutaram e continuam lutando por essas outras independências no Brasil. São as trajetórias de vida e de luta de negros, indígenas, mulheres, LGBTQIA+, educadoras e escritores.
“É mostrar que a construção do Brasil independente é feita por diferentes sujeitos, mas também por agentes não-humanos, como rios e ecossistemas que influenciam a história da região”, conta a coordenadora.
“Comemorar os 200 anos de independência do Brasil não é celebrar como se estivesse tudo certo, mas refletir e problematizar como um exercício coletivo para avaliar o presente – por isso co-memoração – e o que podemos planejar de futuro a partir de nossos passados, no plural mesmo”, explica Alexia.
Assim, essa trilha mostra como as escolas tradicionalmente costumam comemorar a data, como ela foi celebrada ao longo dos anos de diferentes maneiras e os outros marcos a serem exaltados para se pensar e constituir um Brasil efetivamente independente, como o Dia dos Povos Indígenas, da Consciência Negra, da Família, e da Constituição.
O nome desta trilha é inspirado nos escritos da antropóloga Lélia Gonzalez e tem por objetivo colocar em destaque a ação dos povos originários da América e da África pelas lutas pela independência.
“O Haiti é um exemplo, porque foi a segunda colônia do continente americano a se tornar independente por uma luta de negros, que tinham acabado de conquistar a abolição da escravização. Por aqui, havia um medo de que o Brasil seguisse o mesmo caminho, o que fez com que a elite brasileira pressionasse o príncipe para agilizar a independência”, explica Alexia.