publicado dia 31/03/2021
Ferramenta do Ioeb ajuda gestor a fazer um diagnóstico integral da educação
Reportagem: Ingrid Matuoka
publicado dia 31/03/2021
Reportagem: Ingrid Matuoka
A Comunidade Educativa CEDAC lançou em fevereiro a Ferramenta de Diagnóstico do Ioeb (Índice de Oportunidades da Educação Brasileira). Ela serve para dar um sentido pedagógico aos resultados do Ioeb, promovendo uma avaliação e um plano de ação que leve em conta o papel do território na qualidade da educação ofertada.
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À luz desse Índice, que é responsável por avaliar o que o sistema de ensino oferece para os estudantes, redes estaduais e municipais podem formar comitês intersetoriais para avaliar sete dimensões do território: Atuação com foco na equidade, Clima escolar, Estrutura do sistema de ensino, Educação não-formal e parcerias, Práticas de participação, Práticas educativas e Recursos para a educação. Os objetivos finais deste diagnóstico são promover o regime de colaboração e a intersetorialidade, e garantir oportunidades iguais para todas e todos os estudantes.
A ferramenta está disponível para download gratuito no site do Ioeb, na página de Gestão Educacional.
“Como qualquer índice, o Ioeb tem seus indicadores oficiais e sai com regularidade. Mas a Ferramenta dá um olhar mais amplo a partir disso, porque foi construída em parceria com gestores educacionais de municípios de todas as regiões brasileiras. Eles concluíram que essas sete dimensões são as que mais impactam a qualidade da educação ofertada e, por isso, devem ser avaliadas detalhadamente”, explica Renata Grinfeld, coordenadora pedagógica da Comunidade Educativa CEDAC, que está à frente do Ioeb.
Nesse cenário de pandemia, a Ferramenta pode ser especialmente útil para o planejamento do retorno às atividades presenciais, porque o diagnóstico leva em conta aspectos fundamentais para esse contexto, como a busca ativa, o acolhimento, a relação com as famílias e as parcerias com o território.
Você sabe o que é um território educativo?
“A pandemia destacou a importância das relações intersetoriais. A Educação precisa da parceria de ONGs, universidades, lideranças comunitárias, as secretarias de saúde, assistência, cultura, e toda a comunidade escolar e as famílias. E todos eles podem fazer parte desse comitê de diagnóstico”, afirma Renata.
Ao montar o comitê e promover as discussões, é provável que surjam especificidades locais que diferem da realidade predominante no território. Por exemplo, todos os bairros do município têm equipamentos culturais que promovem parcerias com as escolas, exceto um. Na Ferramenta, será preciso registrar essa predominância, mas há um espaço separado para relatar sobre esse bairro. Posteriormente, é possível que a Secretaria ou uma sub-região olhe para aquela realidade e enderece esse problema mais específico. E o contrário também vale. Se houver uma experiência exitosa isolada, será preciso marcar essa falta na Ferramenta e, depois, diagnosticar quais condições foram garantidas para que a ação desse certo ali e possivelmente seja adaptada para os demais contextos.
Com os debates feitos e a Ferramenta preenchida, será elaborado automaticamente um gráfico, que mostra as dimensões mais fortes e as mais fragilizadas, todas conectadas entre si, para destacar que elas não são independentes, e revela o que precisa ser priorizado. Por fim, há um modelo de plano de ação do território, para inspirar as ações que podem ser tomadas a partir dos resultados.
“A Ferramenta promove um olhar integral para o território e depois traz algumas referências de ações que podem ser feitas ou políticas públicas que podem ser alteradas, mas são apenas sugestões e cada comitê deve elaborar seu próprio plano”, recomenda Renata.
A Secretaria Municipal de Educação de Santa Bárbara d’Oeste (SP) foi uma das redes convidadas a testar a Ferramenta antes do lançamento. Maria Assunta, assessora técnico-pedagógica da Secretaria, relatou como foi a experiência.
“No segundo semestre de 2020, montamos um comitê e olhamos para essas sete dimensões. Isso nos fez olhar para além dos muros da escola e da própria família. Sempre tentamos trabalhar as parcerias culturais, sociais, esportivas, mas o diagnóstico nos mostrou quanto ainda podemos ampliar essas ações. O mesmo com as práticas de leitura, dentro da dimensão das práticas educativas, que confirmou a nossa percepção de que estavam adequadas, mas mostrou outras possibilidades. Então já planejamos um trabalho de leitura envolvendo a família e uma biblioteca comunitária.
Para realizar esse trabalho, foi necessário nos aproximarmos mais dos gestores escolares. Então agrupamos todas as escolas em diferentes áreas, e cada assessor técnico-pedagógico da Secretaria agora é responsável por uma delas, o que permite entender melhor esse território e suas demandas específicas.
O mais interessante dessa Ferramenta é que ela não foca só na formação de professores e no desempenho dos alunos, mas em outros aspectos que não ficam tão claros nas avaliações externas e outros índices. E foi preciso conversar com muita gente para fazer esse diagnóstico, porque ele olha para a educação de forma integral e coletiva”.
O Ioeb (Índice de Oportunidades da Educação Brasileira) indica as oportunidades educacionais oferecidas para todas crianças e jovens em um município ou estado. Inclui tanto informações referentes à qualidade da oferta para alunos que frequentam as redes públicas e privadas como também informações referentes àquelas crianças e jovens que não frequentam a escola. Possibilita uma visão integral do território, incorporando aspectos de domínio cognitivo individual, mas também aspectos sistêmicos, que podem contribuir para o fortalecimento do regime colaborativo no país.
Conheça o estudo “Oportunidades educacionais“, do Ioeb, que faz uma análise aprofundada em dez municípios com características predominantemente indígenas, quilombolas, rurais e de fronteira.