publicado dia 05/10/2023
Etapa Sudeste do Seminário Escola em Tempo Integral reflete sobre Educação Infantil de qualidade
Reportagem: Ingrid Matuoka
publicado dia 05/10/2023
Reportagem: Ingrid Matuoka
🗒 Resumo: A etapa Sudeste do ciclo de seminários “Programa Escola em Tempo Integral: princípios para a Política de Educação Integral em tempo integral” foi realizada em Diadema (SP) nos dias 4 e 5/10. A segunda mesa debateu pesquisas sobre o tempo integral e a Educação Infantil. Mais cedo, o foco foi cultura, esporte, meio ambiente e direitos humanos.
Até o momento, a iniciativa do Ministério da Educação (MEC) já passou pelas regiões Norte, Nordeste e Centro-Oeste – saiba como foram estas etapas. É possível acompanhar os encontros na transmissão ao vivo pelo canal no YouTube do MEC.
Diadema (SP) recebeu, nos dias 4 e 5/10, a etapa Sudeste do ciclo de seminários “Programa Escola em Tempo Integral: princípios para a Política de Educação Integral em tempo integral”.
A tarde do primeiro dia foi dedicada a uma conversa sobre pesquisas em Educação Integral em tempo integral e sobre os “Princípios da Educação Integral em Tempo Integral na Educação Infantil – Orientações para o tempo integral em Creches e Pré-Escolas”.
Conduzida por Ligia Martha C. da Costa Coelho, professora da UniRio, a palestra reuniu eixos estruturais de uma política de Educação Integral em tempo integral, de acordo com pesquisas acadêmicas.
Um deles é a equiparação da importância de diferentes saberes, da Língua Portuguesa à capoeira, e o reconhecimento de que todas as pessoas, dentro e fora da escola, são formadoras. Nesse sentido, outros profissionais podem contribuir com as escolas, por exemplo financeiramente. O importante é preservar que as regras sejam ditadas pelo campo educacional.
“A proposta de Educação Integral em tempo integral é uma decisão política”, afirmou Ligia Martha C. da Costa Coelho
A pesquisadora também destaca a importância da rede garantir transporte e alimentação para que as crianças possam realizar atividades fora da escola, condições para que não haja alta rotatividade de profissionais, e respeito ao interesse, ou não, da comunidade em ter uma escola de tempo integral.
É essencial, também, que os professores possam ser remunerados para permanecer o tempo integral na escola, com tempo para planejamentos e formações coletivas, e reuniões periódicas com toda a comunidade escolar. “É no encontro que as ideias surgem”, pontuou Ligia.
Ainda, que os grêmios sejam fortalecidos, porque eles promovem a participação e o engajamento dos estudantes com a escola, o que portanto aproxima as famílias.
“A proposta de Educação Integral em tempo integral é uma decisão política, pois reforça posições que se encontram em disputa dentro dos campos acadêmico, acadêmico e empresarial, principalmente, […] em que se procura construir uma educação mais igualitária para todos os estudantes”, disse Ligia.
A mesa “Princípios da Educação Integral em Tempo Integral na Educação Infantil – Orientações para o tempo integral em Creches e Pré-Escolas”, mediada por Vânia Carvalho de Araujo, professora da Universidade Federal do Espírito Santo (Ufes), abordou a alimentação como fio condutor de um debate ambiental e social.
Por meio de uma série de diálogos colaborativos, o Instituto Comida e Cultura realiza formação de educadores de escolas públicas interessados no tema da alimentação como adequada e saudável atrelada à formação cultural do país, desde a época da invasão.
A proposta é uma formação cultural e histórica, que perpassa a diversidade dos povos brasileiros e os alimentos, territórios, biomas, bem como a valorização do Programa Nacional de Alimentação Escolar.
“Fazer as mudanças de hábito nas crianças por questões de saúde, mas também sociais e ambientais, porque um alimento está incorporado de todos esses elementos”, disse Erika Fischer, do Instituto Comida e Cultura.
Desde 2019, cerca de 100 crianças da EMEI Armando Arruda Pereira passeiam de triciclos e carrinhos para explorar a Praça da República, no centro de São Paulo, e seu entorno. Nas andanças, conversam sobre a história do lugar por onde elas passam todos os dias para ir à escola. “Elas têm que se sentir pertencentes, donas desses espaços”, reforçou Eni Pereira Souza, diretora da unidade.
Rodeada por equipamentos culturais, a escola fez uma série de parcerias para viabilizar suas ações no território. “São eles que nos ajudam a fazer uma educação de fato integral”, observou a gestora escolar.
“Educação tem que ser feita por todos e tem que abarcar todas as diversidades”, disse Eni Pereira Souza.
Entre os projetos da unidade que a partir do ano que vem funcionará em tempo integral, há o Cortejo do Boi, que acontece há 9 anos. A partir do folclore brasileiro, com suas histórias e cantorias, as crianças e toda a comunidade escolar se fantasia e ocupa as ruas.
Todos os anos, a escola também se une a outras quatro da região central paulistana para promover a Virada da Educação. Ao longo de uma semana, são realizadas atividades construídas pelas escolas e com a participação de artistas de rua.
As trocas entre os diversos também é uma marca da escola. Famílias do Peru e Angola, por exemplo, compartilharam com as outras crianças brincadeiras típicas de seu país. Todos os meses, senhoras vão à escola ler para as crianças na Hora do Conto. “Educação tem que ser feita por todos e tem que abarcar todas as diversidades”, disse Eni.
Amanda Albuquerque, presidente do Conselho Municipal de Educação de Teresópolis (RJ), compartilhou a experiência da Educação Infantil no município, que tem 19 unidades públicas e 13 privadas para atender o público de 0 a 3 anos.
Com mais de 53 milhões de reais destinados à área, ainda há falta de professores, problemas na infraestrutura e de aplicação dessa verba. “O Conselho faz visitas a cada uma das escolas para ver qual é a demanda delas”, disse Amanda.
Para a rede, a participação das famílias e a valorização das professoras são essenciais, bem como a integração entre educação e cuidado. “As crianças são recebidas em ambientes acolhedores e seguros, em que vão aprender porque são valorizadas, ouvidas, e reconhecidas como sujeitos que já tem uma identidade e vão construir o conhecimento a partir disso”, afirmou Amanda.
Barbara Bruna Moreira Carvalho, Professora da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), compartilhou princípios estruturais a serem considerados na política de Educação Integral em tempo integral.
Ela cita incorporar os saberes produzidos pelas crianças no currículo escolar, proporcionar o diálogo entre a escola e o território e não usar o tempo integral para institucionalizar as infâncias.
“É preciso dar condições e financiar a melhoria de espaços educativos dentro e fora da escola, incorporar educadores populares, monitores e estagiários de maneira digna, e criar espaços de diálogo, planejamento e trocas para que a gente não reverbere a oposição entre turno e contraturno”, disse Barbara.
A especialista afirmou, ainda, que fomentar outras formas de ensinar e avaliar o que se aprende é um respeito à diversidade das crianças, e que a escola não pode atuar sozinha na promoção de direitos dos estudantes.
“Que a escola seja uma catalizadora da rede de proteção social e reconheça que tem especificidade educativa e precisa ser interrogada pelas educações e saberes que estão para além dela”, afirmou.