publicado dia 08/10/2025
Educação Integral em Debate 2025 aborda a força dos Territórios Educativos
Reportagem: Ingrid Matuoka | Edição: Tory Helena
publicado dia 08/10/2025
Reportagem: Ingrid Matuoka | Edição: Tory Helena
🗒 Resumo: No último dia do Seminário Educação Integral em Debate 2025 três experiências de Territórios Educativos relataram como se constituíram e como fazem para valorizar a cultura e a comunidade local.
Como a escola se abre para o território? E como o próprio território pode contribuir para o desenvolvimento integral de crianças, adolescentes e de toda a comunidade?
Três projetos de Territórios Educativos se reuniram para compartilhar suas trajetórias no Seminário Educação Integral em Debate 2025, durante a mesa “Educação Integral para além do tempo: a força dos Territórios Educativos”, que aconteceu na manhã desta quarta-feira, 8 de outubro. Organizada pelo Centro de Referências em Educação Integral, a 4ª edição do evento é gratuita e conta com transmissão online.
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Saiba mais sobre o que são os Territórios Educativos.
A mesa contou com a participação de Janete Maciel, que atua na gestão de Escola em Tempo Integral na Secretaria Municipal de Educação do Oiapoque (AP), Márcio Carvalhal, educador popular membro da Diretoria Executiva da Associação Brasileira de Ecomuseus e Museus Comunitários (ABREMC), e Pedro Verde, Diretor da Estação Conhecimento de Arari.
A mediação foi feita por Helena Singer, Líder da Estratégia de Juventude América Latina na Ashoka.
No primeiro dia, o Seminário abordou o novo Plano Nacional de Educação (PNE) e as perspectivas para a Educação Integral na próxima década, bem como os caminhos para integrar currículo e aproximar a comunidade. Hoje, as discussões continuam com o tema do papel das redes na efetivação da Educação Integral.
A Escola Municipal de Educação em Tempo Integral Salum de Almeida, em Maués (AM), que atende os Anos Finais do Ensino Fundamental, foi a primeira de tempo integral do município e uma das pioneiras em valorizar a cultura local e promover a inclusão.
“Aprender a língua Sateré foi uma boa forma de conhecer mais sobre essa cultura e população”, afirmou Janete Maciel.
Há aulas de artes, desenho e pintura, jogos esportivos, folclore e literatura, matemática lúdica, música, coral e capoeira, dança, teatro, projeto de vida, e atividades com escritores locais e uma horta. Mas também há tempo e espaço para os estudantes descansarem, já que muitos deles precisam sair de casa às 4 horas da manhã para chegar à tempo na escola.
E, especialmente, há aulas de Língua Brasileira de Sinais (Libras) e da Língua Sateré-Mawé, porque a escola recebe muitos estudantes com deficiência e indígenas dessa sociedade.
“Aprender a língua Sateré foi uma boa forma de conhecer mais sobre essa cultura e população, o mesmo com as Libras, porque é uma questão de valorizar a cultura e a inclusão”, afirmou a gestora escolar Janete Maciel.
Ela conta que passear pelo território permitiu que ela conhecesse melhor as oportunidades educativas e as pessoas da comunidade para depois pensar propostas com os estudantes. “A Educação não se faz só com os professores, mas com toda a comunidade interna e externa da escola. Quando começa a ter esse pensamento, a educação começa a mudar”, disse.
Há 12 anos, a organização social Estação Conhecimento de Arari (MA) visa fortalecer vínculos, proteção social e contribuir com o desenvolvimento integral de crianças e adolescentes.
“Nos reunimos para pensar como se dá a interação entre das crianças e adolescentes com os educadores, os atores do território, o território em si e os servidores públicos”, disse Pedro Verde.
Localizado na zona rural do município, onde 60% da economia é dependente da agricultura familiar, as atividades criadas pela Estação Conhecimento (EC) se voltam à agricultura, unindo também cultura e esporte. O espaço oferece também refeições e acesso a outros serviços públicos.
Para concebê-lo, a gestão da EC reuniu toda a comunidade para pensar qual poderia ser sua função e contribuição. “Nos reunimos para pensar como se dá a interação entre das crianças e adolescentes com os educadores, os atores do território, o território em si e os servidores públicos, e registramos no nosso Projeto Político-Pedagógico”, contou Pedro Verde, Diretor da Estação Conhecimento de Arari.
A organização também conta com um Conselho de Famílias, que participam da gestão das atividades e do orçamento, e a Prefeitura da EC, em que crianças e adolescentes assumem a frente de projetos e decisões, uma forma de manter o espaço vivo e significativo para aquela comunidade.
Para os adolescentes com mais de 15 anos, há atividades especiais, como um curso pré-vestibular comunitário, com apoio ao ingresso e permanência no Ensino Superior, espaços para pensar projetos de vida, tecnologia e empreendedorismo, bem como para fortalecer a participação comunitária.
Em Maranguape (CE), uma escola, um museu e uma comunidade se uniram para criar juntos um Território Educativo, onde crianças, adolescentes, adultos e idosos ensinam e aprendem juntos a partir da realidade local e de seus desejos. Foi assim que nasceu, há 19 anos, o “Território Educativo de Cachoeira”.
“Estudamos muito Paulo Freire e a Educação como prática da liberdade”, contou Márcio Carvalhal.
O Ecomuseu de Maranguape foi criado para preservar a história e cultura da comunidade, composta por 400 pessoas e representada por duas organizações: o Comitê Agrícola e a Associação de Moradores Atuantes. Já a Escola Municipal José de Moura existe há 50 anos na comunidade e cada vez mais se integra ao território e cria novos movimentos nele.
Juntos, realizam formações de interesse da comunidade, promovem intercâmbios culturais com outras escolas e comunidades, e ensinam e aprendem sobre o cultivo da terra e o cultivo da paz entre as pessoas e entre todos os seres vivos e naturais.
Eles também fazem cartografia dos afetos para registrar as histórias e memórias da comunidade, contadas por anciãs, e uma monitora visita as famílias e faz atividades nas casas das famílias.
“É a nossa mini biblioteca itinerante, que surgiu quando percebemos a falta de acesso à Literatura e os altos índices de analfabetismo na comunidade”, contou Márcio Carvalhal, educador popular membro da Diretoria Executiva da Associação Brasileira de Ecomuseus e Museus Comunitários (ABREMC).
Para todo esse ecossistema funcionar, Márcio afirmou que foi fundamental estudar coletivamente os conceitos de Educação Integral, comunidade de aprendizagem e Território Educativo, e integrar essas concepções à realidade local e os desejos da comunidade.
“Também estudamos muito Paulo Freire e a Educação como prática da liberdade […] e é essencial que os educadores estejam atentos à visão de mundo e às linguagens dos estudantes e tenham uma visão ecossistêmica entre educando e seu território, com a família, o social, o escolar e a comunidade”, explicou.
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