publicado dia 19/11/2024
“A Educação Integral é profundamente comprometida com o enfrentamento às desigualdades”
Reportagem: Ingrid Matuoka | Edição: Tory Helena
publicado dia 19/11/2024
Reportagem: Ingrid Matuoka | Edição: Tory Helena
🗒 Resumo: Como a Educação Integral pode contribuir para a efetivação da equidade no Brasil? A discussão faz parte da programação do Seminário Educação Integral em Debate 2024, marcado para o dia 22/11. Para Natacha Costa, diretora geral da Associação Cidade Escola Aprendiz, a concepção de Educação Integral é antirracista e suas propostas pedagógicas devem refletir o enfrentamento às desigualdades. Saiba mais em entrevista com a especialista a seguir.
Os desafios e contribuições da Educação Integral para a concretização da equidade no Brasil serão colocados em primeiro plano durante a abertura do Seminário Educação Integral em Debate 2024.
Programada para acontecer no dia 22/11 a partir das 09h, a mesa de abertura “Educação Integral no Brasil: desafios e contribuições desta agenda para a efetivação da equidade” reunirá representantes da sociedade civil e educadores, com mediação de Natacha Costa, diretora geral da Associação Cidade Escola Aprendiz.
Leia + “O professor da Educação Integral deseja que todo mundo aprenda”
Em 2024, o Educação Integral em Debate é realizado pelo Centro de Referências em Educação Integral, Cidade Escola Aprendiz, Canal Futura, Avante, Ashoka, British Council, Cenpec, Fundação Vale, Fundação Santillana, Flacso, Instituto Alana, Itaú Social, Instituto Rodrigo Mendes, Instituto Tomie Ohtake, Roda Educativa, Oi Futuro e Unicef.
Para Natacha Costa, diretora geral da Associação Cidade Escola Aprendiz, a concepção de Educação Integral é antirracista e suas propostas pedagógicas devem refletir o enfrentamento às desigualdades do país.
“A Educação Integral é uma concepção profundamente comprometida com o enfrentamento às desigualdades e, no Brasil, o principal fator gerador da desigualdade é o racismo”, explica.
Leia a entrevista completa:
Natacha Costa: A Educação Integral tem um profundo compromisso com o enfrentamento às desigualdades. A proposta pedagógica que dá centralidade aos sujeitos procura superar essa escola que é excludente, que não reconhece todos os sujeitos como sujeitos de direitos, que é engessada, com práticas cristalizadas.
Toda essa possibilidade de fazer uma Educação contextualizada, significativa, a partir dos interessantes, desafios e questões dos sujeitos reais, faz com que a escola seja muito mais capaz de atender ao direito à Educação de todas as pessoas e articular intersetorialmente a garantia dos demais.
“Tem escola de tempo integral que não faz Educação Integral e tem escola de tempo parcial que faz Educação Integral de excelência”, diz Natacha Costa.
Com o tempo integral, temos a possibilidade de ampliar e diversificar ainda mais as oportunidades educativas. O Brasil, historicamente, para dar conta de universalizar o acesso à escola criou uma escola de turnos, extremamente fragmentada, descontextualizada e com tempo insuficiente.
Para garantir de fato as aprendizagens que são direitos das crianças, adolescentes e jovens, para dar a oportunidade para seu desenvolvimento cognitivo, social, cultural, físico e social, precisa de mais de quatro horas.
Mas a ampliação da jornada não define uma proposta pedagógica de Educação Integral. Tem escola de tempo integral que não faz Educação Integral e tem escola de tempo parcial que faz Educação Integral de excelência.
O Especial Escolas de Educação Integral, que detalha a prática de escolas públicas do Brasil inteiro, mostra que a Educação Integral é possível em diferentes contextos, com variadas formas de organização.
Natacha: O Brasil é marcado por duas condições que se intercruzam: uma profunda desigualdade com uma vasta diversidade. É um país plural em identidades, culturas, formas de viver, de estar e de compreender o mundo.
Em um país como esse, tão diverso e desigual, é muito importante – e vemos isso acontecer na prática – que a possibilidade da escola ser inclusiva, garantir direitos, pertencimento, fazer sentido para todos que estão lá, depende da escola dialogar com seu território, baixar seus muros, colocar os conhecimentos escolares em diálogo com os saberes dessas comunidades, com o que as famílias trazem, com o que as crianças vão perguntando e querendo explorar.
“Materiais didáticos massificados não são úteis porque uma parte das crianças é excluída”, afirma a especialista.
É a possibilidade de criar condições para o desenvolvimento integral a partir do reconhecimento dos territórios, identidades, famílias, comunidades, saberes e tempos de aprendizagem.
É uma escola profundamente democrática na sua gestão e que constrói processos participativos de tomada de decisão, de avaliação do seu trabalho e constituição das suas propostas.
Mas também é uma gestão democrática do conhecimento, que vai ser construído a partir do diálogo com os sujeitos envolvidos nos processos de aprendizagem. Sujeitos que adquirem conhecimentos, mas mais do que isso, que se reconhecem como capazes de produzir conhecimento.
A escola só consegue fazer isso se abrir mão de processos massificados, em que os conteúdos e propostas didáticas vêm em apostilas universalizadas. Quando conversamos com professores e professoras, eles nos dizem que os materiais didáticos massificados não são úteis porque uma parte das crianças é excluída, ou seja, não tem seu processo de aprendizagem efetivado a partir deles.
As escolas precisam ter acesso a uma ampla gama de materiais didáticos, recursos pedagógicos, referências de práticas distintas e que o professor tenha autonomia para fazer as melhores escolhas de acordo com as características das suas turmas, naquele território. É a capacidade de criar condições para que a Educação chegue para todas as pessoas.
Natacha: A Educação Integral é uma concepção profundamente comprometida com o enfrentamento às desigualdades e, no Brasil, o principal fator gerador da desigualdade é o racismo.
“Nas matrizes da concepção de Educação Integral e da Educação para as relações étnico-raciais há várias dimensões comuns: as identidades, os territórios, a contextualização e o desenvolvimento integral”, observa Natacha.
Além disso, a escola é o primeiro e mais significativo espaço de vivência do racismo contra as pessoas negras. Não dá para pensar em uma escola de Educação Integral, ou seja, garantidora de direitos, que seja universal, se não for uma escola que intencionalmente desenvolva processos de combate ao racismo.
No final de novembro, lançaremos um material em diálogo com várias organizações que atuam na Educação para as relações étnico-raciais. Nas matrizes da concepção de Educação Integral e da Educação para as relações étnico-raciais há várias dimensões comuns: as identidades, os territórios, a contextualização e o desenvolvimento integral. Compartilhamos de uma mesma concepção de formação dos sujeitos, do que é a qualidade da Educação e de qual é o valor e a função social da Educação.
A Educação Integral é antirracista e necessariamente comprometida com a Educação para as relações étnico-raciais em todas as escolas e espaços que se desejem educativos.