publicado dia 22/11/2014

Conae 2014 discute obstáculos e avanços da educação integral no Brasil

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“A educação integral é um projeto que deve ser construído na escola. Precisa ser apoiado intensamente pelas instâncias além dela, mas é essencialmente ali onde deve estar enraizado. Os professores precisam estar lá porque querem, os gestores também, caso contrário, não haverá adesão.” É com essa afirmação que a professora da UFRJ, Lucia Velloso, defendeu o protagonismo da comunidade escolar na consolidação de programas em educação integral.

O Censo Escolar 2013 revela que, desde 2010, o número de matrículas em educação integral no ensino fundamental cresceu 139%, chegando a 3,1 milhões de estudantes. A meta do Mais Educação para 2014 é chegar a 60 mil escolas. As projeções indicam que, se mantido o ritmo, o Brasil deve atingir a meta de 25% de matrículas em educação integral, prevista no Plano Nacional de Educação. Para o cálculo, são consideradas as escolas com jornadas de sete ou mais horas diárias.

Para a ex-diretora de currículos em educação integral do Ministério da Educação (MEC), Jaqueline Moll, outro aspecto fundamental dessa mudança de paradigma é a compreensão de que a escola articula a vida em sociedade e, portanto, requer abertura e relação permanente com o território no qual está inserida. “Temos que articular os espaços da cidade, permitir que os meninos e meninas terminem o ensino fundamental tendo ido ao cinema, ao museu. A escola – como bem de todos – precisa ser um instrumento desse processo.”

Durante o colóquio “Educação Integral: Ampliação de tempos e espaços educativos”, realizado na Conae 2014, a docente ressaltou que a educação integral não pode ser imposta às instituições de ensino “de cima para baixo”. Ao contrário, deve ser entendida como uma oportunidade de reestruturação da escola e, por isso, ser abraçada por todos.

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A mestranda em educação, Fabiane Borges Pavani, que estuda o programa Mais Educação, enxerga na educação integral – e na sua concepção de currículo integrado – uma possibilidade para as escolas brasileiras trabalharem e incorporarem princípios ligados aos direitos humanos e à justiça social. “Para avançar nas conquistas democráticas, a escola precisa debater as questões presentes na sociedade. O Mais Educação, como programa indutor da educação integral no Brasil, precisa avançar na discussão de diversidade, raça, gênero e justiça social”, sugere.

Na prática

O público de delegados e observadores presente no debate revelou diversas tensões presentes no cotidiano de escolas que trabalham com jornada ampliada. O estudante João, por exemplo, contou que o diretor de sua escola tem muita dificuldade em lidar com as opiniões e propostas dos jovens. Além de adotar medidas autoritárias, segundo o estudante, o docente não apoia a formação de um grêmio e se coloca contra qualquer mobilização estudantil. “Se é pra fazer uma escola de educação integral, é preciso entender a diversidade e a juventude de outra forma, não como meu diretor vê”, desabafou.

Diante do relato, Jaqueline reforçou a importância de dar voz aos jovens nas decisões e apontou que as escolas não podem mais ignorá-los como sujeitos do processo educativo. “Quando se fala de educação integral sem liberdade de organização, em uma escola onde a palavra final é do diretor, eu lamento, mas isso não é educação integral.”

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Mais do que cumprir a legislação – que prevê gestão democrática nas escolas brasileiras – a professora crê que se trata de uma ruptura com um modo arcaico de se fazer educação.  Em sua opinião, as salas de aula precisam se democratizar e o professor tem um papel chave nesse desafio.

Para que isso ocorra, Jaqueline propõe que esses elementos integrem a formação dos novos docentes. “Nós temos ações muito boas de formação continuada, mas na estrutura da formação inicial dos professores não se fala em educação integral. Aliás, de modo geral, a escola continua sendo um ente ausente na formação de professores no Brasil e isso precisa ser transformado.”

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