publicado dia 11/01/2018
Autores da língua portuguesa que versaram sobre a literatura infantil
Reportagem: Thais Paiva
publicado dia 11/01/2018
Reportagem: Thais Paiva
Muitos nomes consagrados pela literatura em língua portuguesa se aventuraram – e continuam a se aventurar – na arte de escrever para as crianças. Com temas diversos que vão desde mitos originários até o poder das próprias palavras, essas obras são importantes pontes para um universo de encantamento, conhecimento e descoberta.
Abaixo, o Centro de Referências em Educação Integral reuniu produções do Brasil, Angola, Moçambique e Portugal voltados para crianças e jovens de diferentes idades e que, por meio da potência de sua estética e temas, contribuem para uma educação integral. Confira:
O escritor moçambicano, autor de clássicos como Terra Sonâmbula (1992), considerado um dos dez melhores livros africanos do século XX, também dedicou suas palavras e poética para o encantamento do público infantil.
Comparado a Gabriel Garcia Márquez e Guimarães Rosa, sua narrativa é rica em neologismos e permeada por uma atmosfera que flerta com a fantasia dos mitos arraigados na cultura africana. Um dos destaques de sua produção na literatura infantil é O beijo da palavrinha (2006), no qual a personagem central, Maria Poeirinha, se vê muito doente. Sua família, moradora de uma aldeia do interior de Moçambique, encontra então um modo de levá-la a conhecer o mar por meio do poder mágico das palavras.
Outra indicação de leitura é O Gato e o Escuro (2001), no qual Mia Couto versa sobre como “a maior parte dos medos que sofremos, crianças e adultos, foram fabricados para nos roubar curiosidade e para matar a vontade de querermos saber o que existe para além do horizonte”.
A destreza com que Chico compõe, canta e escreve romances também se reflete em suas obras infantis. Um clássico, seu Chapeuzinho Amarelo (1970) sobrevive ao passar das décadas ao trazer uma narrativa que se debruça sobre um tema universal: o medo.
Dialogando com o célebre conto de fadas Chapeuzinho Vermelho, o livro traz como personagem central uma garotinha que, por ter medo do medo, abre mão de diversas coisas como brincar, dormir, se divertir e que, ao final, aprende a transformar em companheiro cada medo que antes tinha. Foi condecorada com o selo Altamente Recomendável para Crianças da Fundação Nacional do livro infantil e Juvenil (FNLIJ), em 1979, e ganhou o prêmio Jabuti em 1998.
Grande expoente da literatura portuguesa contemporânea, Valter Hugo Mãe chamou a atenção do mundo com livros como A máquina de fazer espanhóis (2010), O Filho de Mil Homens (2001), entre outros. Sua incursão na literatura infantil também merece destaque.
Seu mais recente lançamento dentro do segmento, O Paraíso são os Outros (2014), é uma pequena joia. A narradora, uma menina, tenta entender como o amor se constrói a partir da observação dos hábitos de diferentes casais – de pessoas e animais. Suas conclusões são verdadeiras pílulas poéticas bem-humoradas.
Autor do aclamado Os Transparentes (2012), é também extensa e reconhecida a contribuição do angolano Ondjaki para a literatura infantojuvenil. Em 2010, ganhou o Prêmio Jabuti de Literatura, na categoria Juvenil, com o romance Avó Dezanove e o Segredo do Soviético (2008) e, em 2014, seu livro Uma Escuridão Bonita, ficou com o terceiro lugar do mesmo prêmio e categoria. De uma poética ímpar, sua obra parece brincar com as palavras ao mesmo tempo em que apresenta questões de ordem existencial, política e identitária.
Entre as indicações para a leitura das crianças estão O Leão e o Coelho Saltitão (2008), O Voo do Golfinho (2009) e Ombela, a Origem das Chuvas (2011). Este último fala de uma deusa cujo choro dá origem à chuva. Com suas lágrimas que viram gotas sorvidas pela terra, ela aprende que seus dias ruins podem trazer coisas boas e que nem todo choro é de tristeza.
Todos marcados pelo refinamento de seu estilo e, geralmente, pelos finais abertos, Clarice escreveu quatro livros para o público infantil: Mistério do Coelho Pensante (1967), A Vida Íntima de Laura (1974), A Mulher que Matou os Peixes (1968) e Quase de Verdade (1978). Seus textos trazem nas entrelinhas sensíveis reflexões sobre a condição humana.
Em A Mulher que Matou os Peixes, Clarice começa com uma confissão: “infelizmente [essa mulher] sou eu”. Então, para explicar a tragédia, a escritora narra as histórias de todos os animais de estimação que viveram em sua casa. Os que vieram sem ser convidados e foram ficando e os que ela escolheu para criar. A mais recente edição publicada pela Rocco tem um detalhe especial: é ilustrada com colagens de Mariana Valente, neta de Clarice.
“E se as histórias para crianças passassem a ser de leitura obrigatória para os adultos? Seriam eles capazes de aprender realmente o que há tanto tempo têm andado a ensinar?”. A bem-vinda provocação de Saramago está na contra-capa de um de seus livros voltados para o público infantil, A Maior Flor do Mundo (2001), no qual o personagem – um menino que mora na cidade – resolve ir até o fim do mundo para salvar uma flor que está prestes a morrer.
À maneira de Saramago, a obra também mostra como na literatura nada é impossível. Além deste, o vencedor do Prêmio Nobel deixou aos pequenos (e, seguindo seu conselho, também aos adultos) O Silêncio da Água (2011), conto que narra uma aventura de pesca mal-sucedida baseada em uma recordação de sua própria infância que, para ele, trouxe enorme sabedoria.