publicado dia 17/03/2021
As crianças mais vulneráveis são as que pagam o maior preço com as escolas fechadas, diz Unicef
Reportagem: Ingrid Matuoka
publicado dia 17/03/2021
Reportagem: Ingrid Matuoka
“O mundo vive uma crise educacional por causa do coronavírus. São 168 milhões de crianças que estão com suas escolas fechadas”, diz Julia Ribeiro, oficial de Educação do UNICEF (Fundo das Nações Unidas para a Infância), que lançou o estudo “Covid-19 and school closures: one year of education disruption”, ou “Covid-19 e o fechamento das escolas: um ano de ruptura da educação” em tradução livre.
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A pesquisa foi realizada entre março de 2020 e fevereiro de 2021 e constatou que as escolas do mundo todo ficaram fechadas por uma média de 95 dias letivos.A América Latina e o Caribe foram as regiões mais afetadas, com uma média de 158 dias. Já o Brasil aparece em 5º lugar entre os países que ficaram mais tempo com as escolas fechadas, totalizando 191 dias até fevereiro de 2021. Mas, quando o quesito é o número de estudantes (em milhões) que perderam ao menos 3/4 ou quase todas as aulas, o Brasil lidera o ranking. Veja no quadro abaixo.
As consequências desse fechamento prolongado não são nada triviais. “A cada dia que passa, as crianças mais vulneráveis são as que pagam o maior preço”, diz um trecho do documento. Com o início de um segundo ano de pandemia, Julia faz um apelo: “As crianças não podem ficar mais um ano com as escolas fechadas”.
Dessa forma, é preciso pensar formas de reabertura segura de acordo com as características de cada território, em trabalho intersetorial sobretudo com a Saúde. De acordo com o relatório do UNICEF, em países onde as escolas foram reabertas, seguindo os protocolos, não houve um sobressalto no quantitativo de novos casos de coronavírus nas escolas.
E onde não for possível retomar atividades presenciais com os estudantes, a escola pode exercer seu papel de equipamento público de apoio às famílias, por exemplo, oferecendo cestas básicas, acesso à Assistência Social ou a possibilidades de conectividade.
“É importante que as redes estejam desde já preparadas, fazendo análise da infraestrutura física e acesso à tecnologia e planejando o processo de reabertura das escolas como uma possibilidade de reimaginar toda a educação: o conteúdo em sala de aula, o currículo, a formação de professores, as metodologias, os espaços onde a educação acontece, para que façam sentido para os meninos e meninas. É algo que os dados e estatísticas já nos convidavam a fazer, e agora somos obrigados a olhar de forma rápida”, diz a oficial do UNICEF.
Outro achado do estudo “Covid-19 and school closures” diz respeito ao fato de que a maior parte dos países com escolas fechadas por longos períodos são também aquelas que os estudantes têm baixa ou nenhuma conectividade à internet.
“Embora as tecnologias digitais não substituam a experiência de estudar presencialmente, que sempre traz mais qualidade, ela oferece mais acesso a conhecimentos e a atividades mais interessantes durante o isolamento. Nesse sentido, ela é excludente quando parte dos estudantes não têm acesso, mas é mais inclusiva quando esse acesso é garantido”, observa Julia.
No Brasil, uma pesquisa da Undime (União dos Dirigentes Municipais de Educação) ouviu ⅔ das mais de 5,5 mil redes municipais de educação, e apontou que 78,6% das respondentes tiveram um grau de dificuldade de médio a alto em garantir conectividade. Na outra ponta, 5,5 milhões de crianças e adolescentes não tiveram acesso a qualquer tipo de oferta de educação durante 2020, online ou impressa, de acordo com outro estudo do UNICEF, Enfrentamento da Cultura do Fracasso Escolar.
“É mais do que urgente que as redes promovam uma busca ativa para identificar quem são essas crianças e adolescentes e conversem com as famílias para entender a causa da exclusão escolar. E elas são múltiplas: desde as internas, como falta de acesso e aulas e conteúdos desinteressantes, até as externas, como exploração sexual, questões de saúde, trabalho infantil, violência. Depois, é acionar a rede de proteção para intersetorialmente solucionar essas questões para que todos e todas tenham seus direitos garantidos”, orienta Julia.
O que é a #Reviravolta da Escola?
Realizado pelo Centro de Referências em Educação Integral, em parceria com diversas instituições, a campanha #Reviravolta da Escola articula ações que buscam discutir as aprendizagens vividas em 2020, assim como os caminhos possíveis para se recriar a escola necessária para o mundo pós-pandemia.
Leia os demais conteúdos no site especial da #Reviravolta da Escola.