publicado dia 03/12/2014
5 histórias de mudança paradigmática e construção da educação inclusiva
Reportagem: Juliana Sada
publicado dia 03/12/2014
Reportagem: Juliana Sada
Mais de 45 milhões de brasileiros possuem com algum tipo de deficiência. Isso significa que a cada cinco brasileiros, um possui algum tipo de deficiência, segundo dado do Censo 2010. O número corresponde a toda população da Colômbia, que é o segundo país mais populoso da América do Sul.
Ainda que as deficiências não sejam raridade, nem sempre os espaços, pessoas ou instituições estão preparados para receber e acolher adequadamente esses indivíduos. Diante desse panorama, a Organização das Nações Unidas celebra desde 1998 o Dia Internacional das Pessoas com Deficiência, em 03 de dezembro. A data tem como objetivo trazer à tona a realidade dessas pessoas e a necessidade de que sejam incluídas em todos os espaços sociais.
A construção de uma sociedade mais inclusiva é tarefa que demanda esforços de todos os setores e a escola não fica de fora dessa empreitada. Ao incorporar estudantes portadores de deficiências, a instituição não só contribui para o desenvolvimento desses indivíduos, mas também com a formação de todos os discentes e comunidade escolar e avança em seu papel social, contribuindo para a construção de um país mais tolerante e com menos preconceitos.
Ao incorporar estudantes portadores de deficiências, a instituição não só contribui para o desenvolvimento desses indivíduos, mas também avança em seu papel social
“A educação inclusiva é uma resposta mais inteligente às demandas do mundo”, explica Rodrigo Mendes, à frente de Instituto que leva seu nome. “Ela incentiva uma pedagogia não homogeneizadora, favorece o desenvolvimento de competências interpessoais e estimula as habilidades morais para a convivência democrática.”
Em uma de suas frentes de ação, o Instituto Rodrigo Mendes mantém a plataforma Diversa que dá visibilidade a iniciativas de educação inclusiva. “Ao contrário do que muitos imaginam, práticas exemplares de educação inclusiva deixaram de ser exceções e tornaram-se realidade em várias redes de ensino”, relata Rodrigo.
Para inspirar educadores e gestores, o Centro de Referências em Educação Integral lista cinco experiências relatadas no site Diversa que constroem mudanças paradigmáticas para uma educação mais inclusiva capaz de olhar para o desenvolvimento integral dos estudantes, inspirando outras instituições a repensarem suas práticas pedagógicas e de gestão.
1. Educação física inclusiva (Ciep Padre Paulo Correia de Sá – Rio de Janeiro/RJ)
Em uma turma de ensino fundamental com duas crianças deficientes, o educador Luiz Gustavo Firmino de Oliveira se viu diante do desafio de criar um jogo em que todos pudessem participar. A solução encontrada foi o “Felipebol”, um esporte em que todos os estudantes ficam na posição do aluno Felipe, que apesar da deficiência física, tem mobilidade em quatro apoios. O Felipebol é jogado com as mãos e apenas os goleiros podem ficar de pé. “O jogo é bem flexível e pode ser modificado para incluir mais ainda”, relata o educador.
2. Inclusão e melhor aprendizagem para todos (Escola Helena Zanfelici – São Bernardo do Campo-SP)
“A dúvida é: como é que eu faço para que todos aprendam em uma sala de aula? Isso não é muito tranquilo de fazer, com aluno com deficiência ou não. Qual é o papel da escola? Ela tem que ter estratégias diferentes para atingir a todos os alunos. Se você tem que fazer adaptações para todos, cai por terra essa história de aluno com deficiência.”
A fala de Éder Garcia, coordenador pedagógico, revela o impacto de um trabalho que há quase duas décadas acolhe estudantes com deficiência. Para garantir a aprendizagem, a escola apostou em algumas estratégias: criação de um portfólio para todos os alunos, contando a vida escolar deles; formação dos professores em educação inclusiva; equipe multidisciplinar que apoia os professores no desenvolvimento de atividades; e ensino colaborativo, no qual o “agente da inclusão” acompanha o aluno com deficiência na sala regular e dá retornos ao professor sobre como melhorar sua aprendizagem. A escola conta ainda com apoio da secretaria de educação com relação ao transporte, material de apoio e profissionais especializados.
Após anos de atendimento especializado, o município de Maracanaú se viu diante da demanda da construção de um sistema educacional inclusivo. O desafio é compartilhado com a Escola Municipal de Ensino Fundamental José Dantas Sobrinho, que hoje atende 20 alunos com deficiência entre os 520 que ali estudam.
Se em 2006, a escola recebeu assustada o primeiro aluno com deficiência auditiva, hoje ela atende pessoas com deficiência auditiva, física, intelectual, visual, múltipla e com autismo. Isso foi possível com o apoio da secretaria municipal, de programas do Governo Federal e com a implementação do atendimento educacional especializado no turno regular e contraturno dos estudantes com deficiência.
4. Liderança e esforço intersetorial (Escola Clarisse Fecury – Rio Branco/AC)
Em uma zona periférica da capital do Acre, a diretora Iran Saraiva reuniu esforços e diversos setores para garantir atendimento adequado aos alunos com deficiência da escola. Como em outros casos, com a presença de alunos com deficiência, a diretora Iran se viu diante de uma situação nova e para a qual não havia sido preparada para lidar. Buscou informações na legislação e procurou programas já existentes que poderiam ajudá-la.
Aos poucos, foi construindo uma rede de apoio que conta com entidades como o Centro de Apoio ao Surdo, Centro de Apoio Pedagógico para Atendimento às Pessoas com Deficiência Visual e Núcleo de Atividades de Altas Habilidades/Superdotação. Hoje, 27 dos 611 estudantes possuem algum tipo de deficiência e a escola mantém um projeto político pedagógico estruturado para garantir a educação inclusiva.
5. Transformação estrutural em larga escala (Rede Estadual de Goiás)
No final dos anos 90, a secretaria de educação do estado de Goiás assumiu a tarefa da inclusão nas escolas. Com apoio de consultores, teve início um processo de transformação da rede estadual. Após capacitações dentro da própria secretaria, começou-se a formar professores multiplicadores que levavam o aprendizado às suas localidades. Periodicamente, a equipe responsável ia aos municípios e tratava de questões específicas.
Paralelamente, o governo se esforçou em adaptar arquitetonicamente as escolas e capacitar profissionais de apoio. Para implementar a educação inclusiva, a secretaria demandou o aumento na participação das famílias na gestão escolar, discutindo inclusive o planejamento pedagógico. Com isso, o estado construiu um modelo de educação inclusiva de referência no Brasil.